Cássio estourou. Só não se sabe ainda com quem. O goleiro fez um desabafo e ameaçou deixar o Corinthians depois da derrota do time para o Argentinos Juniors (1 a 0), que atuou com formação mista na terceira rodada da fase de grupos da Sul-Americana. O jogo foi no Estádio Diego Armando Maradona. O goleiro falhou no único gol da disputa, aos 2 minutos do primeiro tempo. Ele não suporta mais a pressão nem o fardo que carrega nesta temporada após a saída de alguns medalhões do Parque São Jorge. O goleiro corintiano tem dado a cara à tapa nas derrotas e negocia sua renovação de contrato.
Cássio estava de cabeça quente quando deu as declarações para as emissoras brasileiras (ESPN e SBT) ainda no campo. “É um momento difícil. Temos de abrir o olho. Tem muita coisa para acontecer. Mas tudo que acontece de errado no Corinthians a culpa é do Cássio. Sei que a responsabilidade é grande por eu ser um dos mais velhos do elenco, mas o Corinthians perde e a culpa é do Cássio. O time não faz gol e a culpa é do Cássio. A equipe não ganha e a culpa é do Cássio. Então é melhor eu sair e seguir o meu caminho”, disse o goleiro bastante incomodado e nervoso. Cássio chegou a confirmar que procurou ajuda psicológica para suportar as cobranças que vem sofrendo no clube.
A torcida tem pegado no seu pé. Muitos corintianos entendem que seu tempo no Corinthians já passou e que Carlos Miguel deveria ser o goleiro titular. Mas o desabafo de Cássio poderia ser direcionado para o restante do elenco, que joga mal e parece um amontoado de atletas correndo atrás da bola sem a menor noção do que estão fazendo. Falta qualidade e inteligência para muitos atletas. O Corinthians tem alguns valores individuais, mas está longe de ser um time.
Poderia ter sido também para a comissão técnica de António Oliveira. O treinador português está perdido. Ele tem alterado a escalação e não consegue fazer a equipe jogar. Falta posicionamento para alguns jogadores. Falta padrão. Falta técnica e tático. O Corinthians é um time que parece ter se reunido pela primeira vez no vestiário para disputar uma partida oficial. Cássio talvez tenha essa mesma leitura. Ocorre que as derrotas, como ele mesmo disse, só sobram para ele.
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Não descartaria ainda que as declarações pesadas e de alguém muito chateado poderiam ser direcionadas para a bagunça administrativa da nova direção, com dirigentes se desentendendo e na marca da cal com quatro meses no comando, com muita falação e pouca ação efetiva do presidente Augusto Melo, das dívidas e da gestão que não anda. Cássio já viveu momentos de desordem no clube, mas talvez nunca tenha visto algo igual como neste começo de ano.
Nem o mais otimista dos torcedores é capaz de apontar alguma coisa que esteja funcionando no Corinthians. Como disse o técnico do Palmeiras, Abel Ferreira, o gramado do estádio em Itaquera é ótimo. Mais nada. O cenário é devastador. O time está nas últimas colocações do Brasileirão após três rodadas, sem marcar gol ainda, e agora perde terreno na Copa Sul-Americana. Era primeiro colocado em seu grupo. Corre risco de não se classificar. Também fez feio no Paulistão. Cássio é um visionário. Sabe que vem tempestade aí.
O desabafo do goleiro é um soco na cara dos companheiros, da comissão técnica e da diretoria. Um soco hipotético, claro, que deveria fazer balançar as estruturas do futebol do clube, que poderia provocar uma reunião olho no olho de todos, numa espécie de mudança de postura e busca de novos caminhos. Não seria demais supor ainda que o treinador português, após quatro partidas sem vencer, esteja com o cargo ameaçado, embora o elenco também seja muito fraco.
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As palavras de Cássio contra sua permanência no Corinthians terão o efeito contrário. O goleiro sairá fortalecido por sua sinceridade e seu incômodo com o time que defende há anos. Cássio não falava dele. Falava do Corinthians.