Robson Morelli

Por que a receita de R$ 1 bi do Corinthians não é suficiente para arrumar o clube?

Balanço de 2023 é o maior de sua história, mas dívida chega a R$ 1,5 bi e arrecadação só dá para pagar as contas da temporada

O Corinthians apresentou o segundo maior balanço do futebol de 2023: R$ 1 bilhão. Só atrás do Flamengo, R$ 1,3 bilhão, mesmo assim com uma diferença “pequena” para o potencial do time paulista. Vale lembrar que o Corinthians vem praticando preços de ingressos mais populares para seus jogos, isso explica em parte sua “baixa” renda em algumas partidas de casa cheia. Tem, no entanto, o futebol feminino que alavanca perspectivas de mais receitas para os próximos anos. A receita de 2023 é a maior da história do clube. É preciso considerar isso também.

Para um clube que fez tudo errado dentro de campo na temporada passada, flertou com a queda no Brasileirão e não ganhou nada, é de se tirar o chapéu. A marca Corinthians é muito forte. Anda sozinha. A torcida é gigantesca e parece ter entendido seu papel nessa engenharia e movimentação financeiras.

Outro dia, um amigo, que me reservo a não dizer o nome, corintiano de camarote no estádio em Itaquera, me perguntou como os torcedores poderiam ajudar o clube. Financeiramente, claro. Ele tinha a ideia da doação espontânea. Se cada torcedor doar R$ 1, o clube pode receber milhões de reais por mês. Não sei se é tão simples assim ou se isso é permitido pelas leis brasileiras, uma vez que os clubes (não as SAFs) são instituições beneficiadas por algumas leis tributárias. O que ficou para mim da nossa conversa no café foi a intenção dele de ajudar o Corinthians.

Corinthians apresenta balanço de 2023 com receita de R$ 1 bilhão / Agência Corinthians

É preciso informar também que o presidente dessa receita era Duílio Monteiro Alves. Ou seja: o novo comandante, Augusto Melo, terá de, no mínimo, ter um balanço igual em seu primeiro ano de mandato. Para se ter uma comparação, em 2022, a arrecadação do clube foi de R$ 779 milhões. E em 2021, de R$ 502,5 milhões.

É o terceiro ano do Corinthhians no azul operacionalmente. Ou seja, o clube consegue com sua arrecadação pagar as contas do ano vigente. Seria ótimo se não tivesse sua dívida. Sim, o Corinthians precisa pagar suas dívidas. São pendências assumidas de outras gestões que se avolumaram e vêm comendo o clube pelas pernas. Só de juros de seu estádio, o clube pagou R$ 100 milhões no ano passado. Isso daria para comprar pelo menos três jogadores de nível de seleção brasileira.

A Neo Química Arena registra uma dívida no balanço de 2023 de R$ 703 milhões. É preciso quitar isso o quanto antes. Um bom gestor teria reservado parte da arrecadação mensal do clube para pagar a arena, inaugurada em 2014, com a Copa do Mundo. Mas a impressão que se tem é que os dirigentes sempre esperaram por um “perdão” por parte dos credores, de modo a não precisar pagar nada ou a pagar a perder de vista, em prestações ridículas e sem a cobrança de juros pelos próximos 30 anos. Isso não existe no mundo dos negócios.

Para sair desse buraco do estádio, o Corinthians precisa dar um sinal ao mercado de sua vontade de quitar parte de sua dívida, como a da arena, que ganha mais mídia porque teve o envolvimento do governo Lula. No fim desta temporada, precisa ter ao menos 20% da Neo Química Arena paga. Assim, responderia bem em sua nova gestão, ganharia confiança e baixaria os gastos com juros.

António Oliveira tem a missão de conduzir o Corinthians dentro de campo / Agência Corinthians

DÍVIDA DO  CORINTHIANS

Há ainda a dívida do clube, de R$ 885,8 milhões. Já foi maior: R$ 910 milhões. É muito dinheiro. Aqui, entra tudo o que o clube deve, desde ações trabalhistas a contratações de serviços e impostos.

Como o corintiano deve olhar para esses números? Da seguinte forma: o clube ganha por ano R$ 1 bilhão. Com esse dinheiro, consegue pagar todas as suas despesas mensais, de janeiro a dezembro. Ele empata o dinheiro que entra com o dinheiro que sai anualmente, de modo a não ter mais nada para reduzir as dívidas já existentes e que se arrastam.

Só no futebol, o gasto anual é de R$ 400 milhões com salários, despesas diversas e direitos de imagem dos atletas. Somando o estádio com o clube, o valor da dívida corintiana é de R$ 1,5 bilhão. Augusto Melo terá de arrumar caminhos para sustentar o Corinthians e pagar o que ficou para trás de outros presidentes. Por isso ele foi eleito. Há muita descrença em sua capacidade de gerir.

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No balanço que será apresentado aos conselheiros do Corinthians, há, no entanto, um valor que eleva a dívida para R$ 1,9 bilhão. A diferença refere-se a contas imediatas que precisam ser pagas o quanto antes para não levar o nome do clube aos tribunais e aumentar suas despesas com juros. Dirigentes anteriores, de acordo com o site Gazeta Esportiva, negam a dívida de R$ 1,9 bilhão.

De qualquer maneira, quatro meses já se passaram desde que Augusto Melo assumiu o comando do Corinthians. Até agora, a única movimentação feita foi trocar jogadores e comissão técnica. Nenhuma medida mais austera foi tomada no clube, tampouco planos razoáveis foram apresentados para pagar duas dívidas. É uma questão de prioridade. Melo precisa saber que ele terá de tomar medidas duras e que terá de sangrar da própria carne para ajustar o clube para o qual foi eleito. Só assim ele ganhará o respeito de seus com correntes. É mais trabalho e menos declarações. É mais pés nos chão e menos sonhos. É mais humildade e menos provocações.

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