Robson Morelli

Qual será o legado de Leila no Palmeiras se ela continuar no clube?

Presidente já declarou sua intenção de se candidatar nas eleições deste ano para o triênio 2025 a 2027

Leila Pereira rouba a cena onde quer que vá. A presidente do Palmeiras, em seu terceiro ano de mandato, já era influente no clube quando conselheira. Ela fará de tudo para seguir no comando por mais três temporadas, de 2025 a 2027. É seu desejo declarado. Pegou gosto por esse mundo do futebol. Seu legado já são três: os títulos conquistados, as reformas feitas no clube e a equação das finanças. Se ela for embora, o Palmeiras anda do jeito que está estruturado. Para um líder, não há legado melhor do que fazer tudo funcionar a contento.

Não se sabe se ela será candidata única nas eleições deste ano, como foi em sua primeira tentativa de assumir o cargo. Leila toca o Palmeiras com personalidade e mãos de ferro. Diferentemente do que todos pensavam quando ela assumiu, há muita austeridade em suas decisões. O dinheiro não sai fácil de suas mãos.

Leila teve de se impor no mundo machista do futebol, engolindo provocações em seco no começo para depois falar de igual para igual com qualquer um. Em recente entrevista ao site ge, ela fala de toda a sua vida dentro do clube, fora dele e de seus planos. Toca em assuntos delicados que seus pares homens preferiram se calar, como as condenações por estupro de Daniel Alves e Robinho. Ela estará no Roda Viva, da TV Cultura, nesta segunda-feira, dia 22, para uma saraivada de perguntas. Já participei do programa algumas vezes e posso garantir que não há restrições para os entrevistadores nem assunto delicado ou proibido para o entrevistado.

Leila Pereira, presidente do Palmeiras, comanda o clube com mãos de ferro e austeridade / Palmeiras

De todas as suas ideias, intenções e obras, prefiro destacar uma que penso ser a mais relevante para o futebol brasileiro e não somente para o futebol do Palmeiras: sua disposição de continuar o trabalho de seu antecessor, Maurício Galiotte. Por que essa condição é importante? Porque no Brasil os presidentes eleitos fazem questão de enterrar o trabalho de seus antecessores ou se perpetuam no comando para não dar brechas a mudanças, transformando-se em ditadores esportivos em nome da bandeira do time. Há clubes ainda assim no Brasil e também na Europa.

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Leila preferiu o caminho da continuidade. Vale ressaltar que nossa política, infelizmente, também é assim. A oposição sempre quer “matar” os feitos da situação quando assume. Não há diálogo nem continuidade. Não se pensa no bem do país. Leila assumiu com o discurso de fazer tudo o de melhor para o Palmeiras. E repete isso em todas as entrevistas.

Leila Pereira e Maurício Galiotte: troca de comando sem traumas e com uma sequência de trabalho no clube / Palmeiras

Para se dar bem, a presidente também se valeu de uma comissão técnica que se provou a melhor do país, ou uma das melhores, sob o comando de Abel Ferreira. Cercou-se de dirigentes competentes e que pensam como ela, embora para ela isso não seja tão importante. Leila gosta dos embates e das discussões. Não teme nada no futebol, como se mostrou nesses anos. Se tiver de falar, ela fala. Sua condição estruturada de vida (financeira e profissional) a ajuda a tomar os caminhos sem medo. Não é de perder tempo e por isso abomina as reuniões da turma do futebol, como as feitas para a Liga. Já disse ser enfadonho esse tipo de encontro porque, em muitos casos, nada se resolve. Leila é do tipo que não está aí para perder tempo. Isso é louvável no mundo corporativo.

Nem tudo o que faz é aplaudido pelo torcedor ou pelos associados do Palmeiras, que andam reclamando do valor das mensalidades. Mas entre ficar em cima do muro e decidir por um caminho, ela prefere a segunda opção. Erra e acerta como todos os dirigentes. Mas é sustentada por conquistas (oito sob o comando de Abel Ferreira) do time e por uma finança equilibrada no clube. Ele paga a própria dívida do Palmeiras com a Crefisa. Sabe que esse ponto é sensível entre os torcedores. Paga com uma mão e recebe com a outra por estar dois dois lados da mesa. Mas isso parece assunto superado. Até hoje ninguém apresentou motivos para desconfiança de sua conduta.

Dois de seus maiores desafios foram realizados: manter Abel Ferreira e não deixar o elenco se desmantelar. O Palmeiras reforça o time pontualmente. Quando um chega, outro sai. Foi o que aconteceu, por exemplo, com Felipe Anderson, recém-contratado. Endrick vai embora em junho. E Bruno Lopes foi negociado após agradecimentos pelos serviços prestados. Parece fazer parte dessa gestão a dispensa de atletas sem traumas.

Se estivesse no Roda Viva desta segunda-feira, gostaria de perguntar para Leila como ela imagina que será o seu legado ao Palmeiras. O que passou, o torcedor já consegue ver. Mas e o que vem pela frente? Embora o contrato com a WTorre seja longo com o estádio, até 2044, me parece desafiador até mesmo para ela comprar o Allianz Parque e entregar o estádio ao Palmeiras. Mas como Leila gosta desses desafios, está aí um legado para lá de interessante. Oficialmente, a arena não está à venda, como me disse a própria WTorre.

Leila Pereira reúne mulheres em evento especial durante jogo do time no Brasileirão de 2023 / Palmeiras

Em sua entrevista, a presidente diz que não se vê em outro clube do futebol brasileiro e que não quer um cargo nas federações ou na CBF. Também afirma que, depois do seu segundo mandato, se eleita, não voltará mais ao comando do Palmeiras. Mas Leila nos faz pensar ao declarar que ela se encontrou no futebol, um reduto em que se sente feliz e realizada. Então, não seria demais supor que vai continuar, de uma forma ou de outra. Comprar a SAF de um clube pode ser um caminho, afinal, ela já tem um estádio para oferecer em Barueri por 35 anos. Se entrar nessa com um time de divisões inferiores, imagina a repercussão que terá se levar esse suposto clube para divisões maiores e torneios internacionais. Esse é o tipo de desafio que Leila gosta e que não mediria esforços para chegar lá.

As negativas de alguns caminhos futuros não significam muito também. Antes de ser presidente do Palmeiras, ela jurava que jamais se candidataria ao cargo. Para essa pergunta, Leila tem uma resposta pronta, a de que pensa no presente e no futuro próximo e que por isso pode mudar de ideia mais pra frente. É inegável que ela põe outros presidentes no bolso, mas não é por isso que ela é importante no futebol. Ela se destaca e deve ser olhada como uma pessoa que pode ajudar a melhorar o futebol brasileiro.

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Se fizer isso respeitando a todos e facilitando a vida do torcedor, quem ganha é o nosso futebol. É inegável até mesmo para os rivais que o Palmeiras sobra em eficiência e gestão e que muitos outros clubes podem se aproximar dele pelo mesmo caminho. Basta reunir as peças certas e dar continuidade ao trabalho, independentemente de quem seja o presidente.

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