Robson Morelli

Sobre os próximos (e talvez últimos) 90 minutos de Carpini no São Paulo

Treinador pode perder emprego se o time do Morumbi tropeçar diante do Flamengo no Rio, quarta-feira, pelo Brasileirão

Thiago Carpini entrou naquela fase de deixar as coisas arrumadas para não ter muito trabalho quando a notícia da demissão chegar. Essa condição é péssima para um treinador de futebol, mas bastante comum. Lembra a de um boxeador após sofrer alguns golpes fortes no ringue, quando a lona parece o único caminho. Ele pode cair ou revidar. Se revidar, tem ainda a chance de mudar a história da luta. Carpini, por ora, tem as pernas dobradas e está nas cordas após “golpes” da torcida e maus resultados, como o de sábado diante do Fortaleza, em casa, na estreia do Brasileirão 2024 – derrota por 2 a 1 e novas vaias.

Fico sempre na dúvida sobre o tempo que um clube deve esperar para reavaliar seu treinador, no caso de Carpini, um recém-contratado. Tenho comigo que uma temporada inteira, de janeiro e dezembro, seria o mais justo. Mas como o mundo e o futebol estão rápidos demais, as avaliações são cada vez mais curtas e aceleradas.  Se ganhar e agradar, o cara presta. Se perder e cometer erros infantis, não presta. Se ganhar e depois perder, como Carpini, ganha sobrevida e passa a viver no fio da navalha.

As SAFs não perdem tempo. Basta tomar por base o que anda fazendo Ronaldo e seu estafe no Cruzeiro desde que eles assumiram o clube por R$ 400 milhões. A propósito, uma fonte me disse que ele tirou do bolso apenas R$ 50 milhões. O restante é dinheiro de movimentação. O São Paulo não é Sociedade Anônima, mas o regime presidencialista do Morumbi tem sido afeito às reavaliações e cruel com seus treinadores. Por isso Carpini está na corda bamba. Seu contrato pode durar até  os próximos 90 minutos.

Thiago Carpini admite fase ruim do São Paulo nas últimas partidas: quarta-feira, tem o Flamengo, no Rio, pelo Brasileirão / SPFC

Ele entrou nessa condição depois de derrotas em casa e explicações nada convincentes de resultados e movimentações ruins durante as partidas. O torcedor perdeu a confiança. Não há mais crédito nem paciência.

Uma coisa precisa ficar clara: Carpini sabia onde estava se metendo quando deixou o Juventude para assumir o São Paulo. Se não sabia, deveria ter pesquisado antes de assinar o contrato. Uma volta ao passado não tão distante iria mostrar a ele que dois ídolos do clube foram cobrados e pressionados antes de deixar suas funções. Refiro-me a Raí, então gerente de futebol e que hoje mora na França, e a Rogério Ceni, treinador que comanda atualmente o Bahia.

Se o torcedor colocou para correr dois dos maiores ídolos são-paulinos, imagina o que ele pode fazer diante de qualquer um que não responde a contento. Carpini é a bola da vez. Na boca da caçapa. Para piorar a situação, seu antecessor ganhou a Copa do Brasil e zerou a fila do time em conquistas. Isso sem mencionar o fato de a taça ser de uma competição inédita. Não tivesse ido para a seleção brasileira, Dorival Junior ainda seria técnico do São Paulo e Carpini estaria, provavelmente, no Juventude.

LEIA OUTRAS COLUNAS DE ROBSON MORELLI

Os gritos de “burros” se intensificam a cada partida, assim como as derrotas começam a pesar sobre seus ombros. A diretoria garantiu o treinador até quarta-feira, quando o São Paulo visita o Flamengo pela segunda rodada do Brasileirão. Não seria demais supor que uma nova derrota derrubaria o treinador ainda no Maracanã. Ficaria insustentável até mesmo para Muricy Ramalho segurá-lo. O “xis” da questão para o técnico tricolor é saber como ele e seus jogadores podem vencer o grupo de Tite no Rio. O Flamengo é melhor e está mais confiante depois de ganhar o Estadual. Carpini terá 90 minutos para se virar. Ele conta com o elenco para isso e tem alguns dirigentes do seu lado.

Para mudar o jogo de vez, feito um boxeador após sofrer golpes duros, Carpini terá de emplacar uma série de vitórias, de modo a fazer o torcedor se acalmar e entender que ele e o São Paulo podem se acertar ao longo da temporada. Terá de fazer isso de olho na Libertadores e na Copa do Brasil. Se não acontecer, estará sempre na corda bamba até o dia de sua saída. O jogo diante do Flamengo é crucial.

Gostou? Então Compartilhe!

1 comentário em “Sobre os próximos (e talvez últimos) 90 minutos de Carpini no São Paulo<p style=""><small>Treinador pode perder emprego se o time do Morumbi tropeçar diante do Flamengo no Rio, quarta-feira, pelo Brasileirão</small></p>”

  1. Pingback: Decisão sobre Carpini pode sair ainda hoje após reavaliação da diretoria - Robson Morelli

Comentários encerrados.