Rogério Ceni parece ter definido o jeito de o São Paulo jogar. Certo ou errado, é o jeito que ele escolheu e acredita. Seu gambito está escancarado no tabuleiro, ao menos nas partidas do time no começo da temporada. Entre as artimanhas do treinador para derrotar seus oponentes estão a posse de bola e o jogo no campo do rival, mesmo que seja sem qualquer objetividade; criar oportunidades de gol e impedir que o rival coloque o seu time contra a parede. Até agora, o jogo posicional de Ceni, com todas as situações mencionadas, tem dado certo. Ou alguém vê o São Paulo diferente desse traçado?

Há muitas equipes que atuam desta maneira na Europa. O grande Pep Guardiola já navegou por essas águas. Claro, sem qualquer comparação.

FUTEBOL FEIO E CHATO

Ocorre que o jogo do São Paulo é feio, chato, improdutivo é desprovido de qualidade técnica coletiva e individual. Pior. A posse de bola não tem servido para nada. O time roda e não sai do lugar. Cria e ataca e não consegue marcar gols. A ineficiência é gigantesca mesmo diante de rivais na corda, teoricamente mais fracos. Foi assim diante do Campinense pela Copa do Brasil, por exemplo. Ninguém teme o São Paulo no Paulistão e também não se viu qualquer sentimento dessa natureza em relação ao jogo de estreia na competição nacional.

As ideias de Rogério Ceni não são ruins. Longe disso. Esqueça os esforços do treinador na temporada passada porque aquele trabalho era de bombeiro, para apagar incêndio. Não havia inteligência nele. Havia propósito. Para 2022, após a ameaça de cair fora, ele e Muricy Ramalho, tudo foi planejado.

Ter a bola e ficar com ela a maior parte do tempo no campo do adversário são condições desejadas por qualquer time, desde que as jogadas construídas acabem em gols e o São Paulo consiga superar seus rivais com mais facilidade e menos desespero. Tudo parece por acaso no São Paulo até agora, até mesmo a grande vitória sobre o Santos, que causou a queda de Fábio Carille.

TORCIDA ESTÁ COM ELE

Ceni tem a torcida do seu lado, mas não se sabe até quando. Antes ele não tinha. Ganhou a simpatia dos que o cobravam depois de dedurar condições ruins no CT da Barra Funda. Tem ainda o presidente Júlio Casares fechado com ele, o que no futebol, em se tratando de treinador no cargo, não significa muita coisa. Santos e Corinthians também estavam de mãos dadas com seus respectivos técnicos recém-demitidos.

Não quero aqui nem entrar no mérito do jeitão de Rogério Ceni, inimigo do sorriso fácil e da leveza da profissão, sempre insatisfeito com as atuações coletivas e algumas individuais e, claro, com a dificuldade de ganhar suas partidas. E lamentando os resultados. Ceni adquiriu o dom das explicações para tudo, quando em algumas ocasiões o melhor a se fazer é confessar o que torcedor acabou de testemunhar. Suas entrevistas dão um certo ar de que “o time perdeu porque não fez o que ele mandei”. Mas não é isso, porque se fosse ninguém mais correria por ele. Mas parece ser. Ceni tem o dom do isolamento também, muito provavelmente pela característica do trabalho de goleiro, sozinho debaixo das traves e em treinos separados.

O gambito de Rogério Ceni passa também pela qualidade das peças no tabuleiro. Os jogadores do São Paulo são ruins e limitados, embora a maioria não se vê dessa maneira. São esforçados, o que já é um ponto positivo. Precisam ser incansáveis para suprir a pouca técnica. Não há magia há anos no Morumbi. Os novos têm de ser mais bem orientados. Se entregar à trama fácil. Muitos não conseguem fazer o que o treinador pede e treina, o que deixa Ceni louco. Ele não aceita essa limitação. Destaco apenas um aspecto para justificar isso, a finalização.

São muitos gols perdidos. E não estou colocando o fardo somente nas costas dos atacantes, mas de todos os jogadores que tiveram chance de marcar e erraram neste começo de temporada. A qualidade é baixíssima no fundamento!

É PRECISO CONTINUAR PENEIRANDO

Assim como espalhar seu time no campo e assumir um jeito de jogar, concorde ou não o torcedor com esse jeito, Ceni precisa avaliar paralelamente alguns de seus atletas. Há jogadores acomodados, que se contentam em fazer o que vem fazendo há anos e que, como todos sabem, não vem dando certo. Já deu para esses com a camisa do time. É preciso encontrar atletas de mais peso. Se Corinthians e Santos conseguem fazer isso,o São Paulo tem de conseguir também. Ricardo Goulart, por exemplo, cairia bem no meio de campo tricolor. O Santos foi mais ágil e fez a contratação. Mas essa já foi.

Esses jogadores, que todos sabem quem são, deveriam abrir espaço para outros. E mesmo os novos que chegaram recentemente precisam sair desse marasmo que toma conta do Morumbi há anos. Há muita gente enferrujada no clube. O planejamento deve ser permanente até que essas peças sejam trocadas, uma a uma, de modo a não deixar o time sentir coletivamentea mudança. Em seis meses, o São Paulo tinha de ter um elenco reformulado, já contando com os que chegaram. Só isso dará ao torcedor alguma esperança. O São Paulo não está nem entre os dez melhores times do futebol brasileiro.

Há ainda a questão financeira, as oportunidades do mercado, as compras de ocasião. O clube tem gente trabalhando nisso, quero acreditar. O ano é de recomeço para 2023.