O São Paulo tinha um problema: o que fazer com James Rodríguez. Agora, tem dois: o que fazer com James e com o técnico Thiago Carpini. A vitória por 2 a 0 sobre o Cobresal na Libertadores não foi suficiente para aplacar a ira do torcedor, ou de parte dele, contra o trabalho do treinador. Carpini foi vaiado. Os gols demoraram a acontecer no MorumBis diante de 49 mil pessoas. Eles foram marcados aos 38 e 42 minutos. O são-paulino já estava sem unhas de tanto roer. A vitória na Libertadores era necessária.

A situação não é boa para Carpini. O São Paulo não joga bem, apesar de alguns bons resultados nas 16 partidas do técnico no comando da equipe. Carpini sacou uma cola do bolso em sua entrevista para explicar os números do time na partida, com muito mais posse de bola (70%) e chutes a gols. Também fez questão de listar o nome dos jogadores machucados no período. Tudo para explicar o desempenho do seu trabalho e da equipe. Lembrou muito o que fazia Rogério Ceni.

Não é um caminho bom esse escolhido pelo treinador. O torcedor não gosta dessas explicações. Passional que é, ele sempre vai querer ganhar jogos e sofrer o menos possível durante as partidas. O São Paulo teve conquistas com Carpini. Mas elas já ficaram para trás. O futebol é assim. Os créditos acabam facilmente. Carpini não tem mais nenhum.

Carpini tem o elenco ao seu lado nesse começo de trabalho no São Paulo / SPFC

Há duas questões sobre o treinador que precisam ser esclarecidas dentro do clube para sua continuidade no cargo. A primeira delas é saber se os jogadores estão com ele. Se estiverem, vão se doar, correr mais e ajudar no que for preciso. Como o elenco tem atletas de personalidade, como Luciano e Lucas, é bem provável que eles saiam em defesa do treinador. Isso seria uma espécie de vale conduta para Carpini. Aplacaria a ira de alguns torcedores.

A outra questão é saber se a diretoria ainda acredita no técnico. Desde Muricy Ramalho até o presidente Julio Casares, todos na linha de frente esportiva precisam remar para o mesmo lado. Não há treinador que se sustente trabalhando sob a desconfiança de seus patrões, mesmo que os chefes não entendam muito do riscado, como já vimos por aí. A torcida tem “mandado” nos presidentes de clubes fracos e sem personalidade, mas não me parece ser esse o caso do São Paulo. Aliás, acho que é o contrário disso.

O são-paulino tem de ter paciência, assim como todos os cardeais do clube. Leva tempo para forjar um treinador. Carpini está acuado e com medo. Suas declarações são tensas nesse sentido. Essa condição aparece em sua fisionomia. Ele se comporta como se estivesse numa inquisição ao falar do desempenho do time após as partidas. Tem de se acostumar a isso também. Comandar um time do tamanho do São Paulo impõe desafios. Ele tem de ter mais segurança em sua gestão.

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O elenco é bom e forte. Suas ideias precisam avançar, mudar se for o caso. O treinador moderno não pode se apegar a apenas um esquema de jogo nem ficar com uma colinha nas mãos explicando o que o time fez ou deixou de fazer. O torcedor viu o jogo. De nada adianta ter 70% de posse de bola e ficar tocando de lado ou não agredir o rival. O torcedor sabe das coisas. Quando ele fala com a razão, geralmente está certo, porque ele lê tudo sobre o seu time.

Carpini parece tímido no comando do São Paulo e assustado com as cobranças da torcida / SPFC

Carpini precisa sair da casca, estourar o ovo e começar a viver uma vida nova no São Paulo. Leva tempo, eu sei. Mas esse tempo precisa ser acelerado, como é a vida. Fazer e não acontecer não leva a lugar nenhum. Parece que o problema com James Rodríguez começa a ser resolvido. O meia colombiano está tendo mais oportunidades e precisa responder. Por ora, elenco e diretoria estão com Carpini.

1 COMENTÁRIO

  1. […] Fico sempre na dúvida sobre o tempo que um clube deve esperar para reavaliar seu treinador, no caso…, um recém-contratado. Tenho comigo que uma temporada inteira, de janeiro e dezembro, seria o mais justo. Mas como o mundo e o futebol estão rápidos demais, as avaliações são cada vez mais curtas e aceleradas.  Se ganhar e agradar, o cara presta. Se perder e cometer erros infantis, não presta. Se ganhar e depois perder, como Carpini, ganha sobrevida e passa a viver no fio da navalha. […]

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