A decisão da Comissão de Ética da CBF de punir o presidente Rogério Caboclo por 15 meses não resolve o problema da instituição, tampouco dos sinais dados pelos patrocinadores sobre o episódio de acusação de assédio. Todos ganharam tempo para os próximos passos e o dirigente não vai poder assumir suas funções de imediato, como ele e seus advogados desejavam. Terá de esperar até setembro do ano que vem porque os 90 dias da apuração contam como prazo da pena.

Uma pergunta paira no ar, no entanto. Se a acusação de assédio foi descaracterizada pelas apurações, por que então o presidente foi punido? Depois de ouvir os envolvidos e todas as testemunhas da própria CBF, os membros da comissão chegaram à conclusão que não há como provar a acusação de assédio moral e sexual. A defesa também colocou em seu trabalho, muito bem sustentado, pareceres de especialistas que ouviram as gravações e deram suas opiniões, de modo a sustentar o argumento de que nada aconteceu e que as conversas da moça com o patrão são de dois amigos íntimos no ambiente de trabalho, afinal de contas, ninguém é de ferro. Ora, então, se nada aconteceu, por que então punir Rogério Caboclo?

O que me parece é que se ajeitou uma conclusão para o caso muito parecida com a lei da compensação da arbitragem brasileira: um regra que não está em documento nenhum, mas que acontece dentro de campo. A pena não tira do comando da CBF o seu presidente, mas ao mesmo tempo tenta dar uma satisfação para a sociedade, de modo a tomar um caminho do centro para não se complicar. Tivesse oferecido mais três meses de punição, o dirigente não voltaria mais para o seu mandato nem retomaria sua função meses antes da Copa do Mundo do Catar.

Para Rogério Caboclo foi uma vitória, embora ele agora vai tentar apelar para a sua volta antes desse prazo. Vai argumentar exatamente o que estou dizendo aqui com boa dose de ironia. Parece óbvio. Antes na defensiva, o dirigente vai para o ataque. Foi dada a brecha para ele retornar. Vai brigar por isso.

Há um problema que vejo ainda mais sério nesse caminho e diz respeito aos patrocinadores. Arquivar o caso ou simplesmente confirmar os 15 meses de punição a Caboclo não muda, embora possa minimizar, a preocupação das empresas que estão de mãos dadas com a entidade que regulamenta o futebol brasileiro. Haverá respingos em cada marca, mesmo com elas não tendo nada a ver com o episódio. Antes da sentença, havia muitos pedidos de investigação e ação imediata, todos estavam incomodados e isso não desapareceu com a decisão da comissão.

Infelizmente, as instituições do futebol não gozam de prestígio nem de transparência, tampouco de credibilidade. Não se trata de uma acusação, mas de uma constatação.

Não se confia nas instituições esportivas no Brasil. E isso se agravou em 2015, quando todos os dirigentes foram caindo um atrás do outro acusados de corrupção. Todos os dirigentes da CBF dos últimos 40 anos estiveram envolvidos com falcatruas, de Ricardo Teixeira a Marco Polo del Nero, passando por José Maria Marin e até o todo-poderoso João Havelange, como foi noticiado nos mais diversos veículos de comunicação do mundo. Alguns morreram, alguns desapareceram, alguns foram presos e outros banidos e não podem deixar o país sem usar disfarces.

A acusação de assédio continuará sendo uma mancha na gestão da CBF e um pesadelo para os patrocinadores da entidade, que continuam incomodados. Há contratos vigentes e que não podem ser rompidos. O fato é que os atuais parceiros da CBF têm 15 meses para pensar o que fazer, se continuam de braços dados com a entidade ou se procuram novos compromissos. Não acredito que tudo continue como antes.

1 COMENTÁRIO

  1. […] Então, para tentar sobreviver, os presidentes de clubes tiveram mais uma vez de beijar a mais da CBF, como fazem há anos. Fizeram isso em troca da promessa de poder organizar a Liga sem qualquer interferência. Mas aceitaram as regras já vigentes da própria CBF para eleger seu presidente e se perpetuar no poder, que é o sistema de peso maior das federações estaduais, todas nas mãos da entidade sediada no Rio. A CBF ajuda as federações a se organizar e a pagar suas contas. Salvo raras exceções, estão fechadas com a entidade que era presidente por Ricardo Teixeira, Marco Polo del Nero, José Maria Marin, Rogério Caboclo… […]

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