O Corinthians tenta ser o divisor de águas para a criação da liga de futebol brasileiro, ainda enroscada por causa do valor repartido para os clubes dos direitos de transmissão das partidas. O clube paulista vai se valer de sua condição de ter a segunda maior torcida do Brasil, atrás somente do Flamengo, para ganhar mais dinheiro no acordo que vai ser firmado entre 2005 a 2029. O Corinthians não esconde de ninguém que faz leilão de sua assinatura no documento. E agora mais do que nunca, porque precisa de dinheiro e de adiantamento desse dinheiro. Tudo em função do contrato de R$ 370 milhões rompido com a VaideBet. A reportagem é do Estadão.

É o famoso “dançar conforme a música”. O presidente Augusto Melo tomará uma decisão em breve entre a Libra e a Liga Forte. A única intenção é conseguir mais dinheiro para o clube. Augusto Melo vai fechar com quem oferecer cotas anuais maiores, envolvendo os jogos do time em todas as plataformas, como TV fechada, TV aberta e Streaming. A coluna apurou que o clube não faz qualquer exigência em relação às empresas de transmissão. Pode ser a Rede Globo, forte no mercado e que já tem os direitos vigentes do Brasileirão, por exemplo, ou qualquer outro canal. Há muito interesse em mostrar as partidas no streaming. Melo disse recentemente no programa “Os donos da Bola”, da Band, que o clube está perto de um acerto.

Nós somos uma das maiores marcas da América do Sul, uma das maiores do país. Como gestor, eu preciso pensar na situação financeira. O Corinthians não vem em uma situação financeira boa, mas o Corinthians retribui, ele dá audiência, dá retorno para qualquer investidor e eu quero ganhar como tal. Eu acho que o Corinthians precisa ser valorizado. A gente quer garantir algumas situações iguais aos outros. Estamos conversando com a Globo e Libra, está legal o relacionamento, mas a gente quer chegar num denominador com a Globo e com a liga. Falta pouco para chegar a um acordo. AUGUSTO MELO

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O Corinthians tenta ganhar mais até do que o Flamengo, clube mais bem pago do futebol brasileiro e com a melhor receita nas últimas temporadas. Augusto Melo também alimenta uma briga pessoal, mas não declarada com a presidente do Palmeiras, Leila Pereira, pela captação de recursos para o futebol. Teve a bravata recente da camisa mais bem paga entre os times, que acabou com o rompimento do contrato com a VaideBet no valor de R$ 370 milhões por três temporadas.

Estádio do Corinthians, em Itaquera, tem recebido ótimo público nas partidas do time / Agência Corinthians

A Brax, uma empresa de marketing esportivo próxima da CBF e já com caminhos trilhados na primeira divisão para o mercado do exterior, está na briga para ter o Corinthians como novo parceiro. Se conseguir, ela terá o direito de oferecer os jogos do time para o mercado em todas as duas plataformas. O Corinthians quer ganhar mais do que recebeu no ano passado, que foi R$ 187 milhões. Quer, no mínimo, R$ 20 milhões a mais. Oferece a audiência de sua torcida e um time fraco, por ora, ameaçado atualmente na Z-4.

A Brax também tem contato com a Globo. É para a emissora do Rio que a empresa vai oferecer, de cara, os direitos de transmissão do Corinthians, de modo a se juntar aos clubes da Libra, com quem a Globo já tem tudo acertado, mas entrar no acordo por outra porta. O contrato seria no bloco da Libra, mas não por seus representantes. A Brax acredita na força do Corinthians e no interesse do torcedor em suas partidas. Não é de hoje que a própria Globo tem no Corinthians um dos seus principais produtos no futebol. A emissora respeita todos os parceiros, mas sempre olhou com mais carinho e interesse para a audiência da equipe paulista. Vale dizer que Palmeiras melhorou seus números nesse sentido e o São Paulo tem andando no mesmo trilho, o do crescimento.

É claro que o caminho independente do Corinthians para se juntar ao bloco da Libra vai provocar ciumeira nos demais clubes. A Libra representa nessa discussão da liga os seguintes times: Atlético-MG, Bahia, Flamengo, Grêmio, Palmeiras, Red Bull Bragantino, São Paulo, Santos (mesmo na B) e Vitória. Augusto Melo estaria dando um passo ousado, mas separatista, quando a ideia de uma liga nacional é formar um  bloco unido no futebol brasileiro, de modo a fazer com que todos ganhem mais e que o produto (futebol) seja cada vez mais valorizado, numa ideia ainda longe e talvez jamais alcançada que tem a Premier League como exemplo.

Presidente do Corinthians, Augusto Melo, diz que o clube não fez nada errado no contrato com a VaideBet / Agência Corinthians

É uma tacada de risco. O Corinthians se vê enrolado em uma má gestão, em um time fraco e no Z-4, sem patrocinador máster e sob investigação de desvio de dinheiro na polícia. Mesmo assim, não escolhe caminhos mais seguros e tanta dar um golpe de mestre, confiante de que pode ganhar mais dinheiro do que adversários, como Flamengo e Palmeiras. mais bem estruturados e de anos de janela numa constante reformulação interna de administração.

Há outro ponto. Com a entrada do Corinthians na Libra, os clubes vão ter mais um “sócio” para dividir os ganhos fixos e já estipulados de R$ 1,3 bilhão, ou seja, os valores para cada um serão menores. A Libra já tem acordo com a Globo para todas as plataformas. O que o Corinthians quer com a Brax é entrar nesse acordo, mas também ter o direito de repassar seus jogos para outras empresas, de modo a ter outro dinheiro além das cotas da Globo. Não é uma transação fácil. Existe a expectativa de que a Globo vai se dobrar para ter o Corinthians. Claro, com a intenção de ter mais audiência e, consequentemente, mais patrocinadores.

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A divisão das receitas na Libra é de é 40/30/30, sendo 40% do valor acertado repartido de forma igualitária para todos do bloco, 30% direcionado ao pagamento das premiações de acordo com a posição na tabela e 30% distribuídos com base na audiência. O acordo com a Globo é hoje de R$ 6,5 bilhões por cinco anos. Os clubes da Liga Forte União são: Athletico-PR, Atlético-GO, Botafogo, Criciúma, Cruzeiro, Cuiabá, Fluminense, Fortaleza, Internacional, Juventude e Vasco.