O torcedor brasileiro tem o direito de cobrar mais desempenho da seleção brasileira, mesmo o torcedor mais moderado e de ocasião que corre os Estados Unidos atrás do time nacional na Copa América. O único responsável pelo Brasil estar em começo de trabalho é a CBF, que perdeu toda a temporada de 2023 e parte do começo deste ano apostando em Ramón e Fernando Diniz e sonhando com Carlo Ancelotti. Todo mundo sabia que nada disso daria certo, como não deu.

A boa notícia do time é a confirmação de Endrick no lugar de Vini Jr, suspenso, contra o Uruguaio, neste sábado.

A seleção desceu a ladeira nas Eliminatórias da Copa do Mundo, está em sexto lugar, e faz uma Copa América sem encanto e com dificuldades. Não há segredo nem mágica no futebol. O próprio Vini Jr. disse que ele precisa de tempo para jogar no Brasil como joga no Real Madrid, que quando começou na Espanha teve dificuldades também. O Brasil é um time em formação. Mas espera-se mais mesmo de um Brasil em formação contra rivais como Costa Rica.

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Dorival Júnior e seus jogadores tentam salvar a pele do presidente Ednaldo Rodrigues, que agora deu para contestar as condições oferecidas pela Conmebol na competição, como locais ruins para treinar e hotéis inadequados para a delegação. Ora, isso me cheira a desviar o foco de um time que ainda não jogou bem e que tem problemas e de uma identificação que não acontece com a torcida.

Seleção brasileira treina em Las Vegas antes de decidir seu futuro na Copa América contra o Uruguai / CF

O capitão Danilo, um dos mais experientes do grupo, ainda bateu boca com torcedores após o empate sem gols com a Costa Rica na estreia do Brasil na Copa América. Não tinha nada de fazer isso. Foi ridículo. A seleção conquista o torcedor jogando bem e mostrando organização. Rendendo em campo.

Dorival comete erros, mas ele também está num posto recém-ocupado e nunca esteve tão alto na cadeia. Tem mais medo do que confiança ainda. Mas não tenho dúvidas de que seja o treinador certo nesse momento. Ele tem de correr contra o tempo e sair da Copa América com algumas formatações. Melhorar alguns setores do time. Dar mais padrão e arriscar.

Anseio por Endrick

Há, por exemplo, um anseio generalizado do torcedor para que ele escale Endrick no lugar de Vini Jr. (suspenso) contra os uruguaios neste sábado. É jogo decisivo. Dorival confirmou o garoto no ataque. Se perder, o Brasil volta para casa. Se ganhar, vai para a semifinal e se fortalece. O Uruguai é melhor e mais bem treinado, com mais tempo de trabalho do técnico Marcelo Bielsa. O Brasil se apega em sua tradição e no talento de alguns jogadores porque ainda nem tem um coletivo pronto.

Endrick treina na seleção com possibilidade de jogar contra o Uruguai no lugar de Vini Jr., suspenso / CBF

O técnico de seleção tem de arriscar e ter mais coragem do que comandantes de times regulares, com mais prazo para treinar e também para se recuperar nas competições. O Brasil nunca terá isso. Os torneios são de tiros curtos. Os jogos das Eliminatórias são feitos depois de dias de treinos. Em muitos casos, de mais conversas do que trabalho de bola.

É preciso ter coragem

Dorival não pode cair na armadilha de esperar por mais tempo para decidir e aguardar que o time se encaixa naturalmente. Isso nunca vai acontecer porque cada jogador atua de uma  forma em seus respectivos times na Europa ou no Brasil. Então, seu trabalho é organizar esses caras da melhor maneira possível e pedir a eles para que desempenhem de modo a formar um time competitivo e lutador a cada 90 minutos. Eles sabem fazer isso. E ter coragem nas escolhas e nas alterações, como teve sacando Raphinha e mandando a campo Savinho.

Os volantes brasileiros precisam de um banho de modernidade. São destruidores e entram em campo para impedir que o adversário jogue, fazendo marcações pesadas, individuais e coberturas pelas laterais. O volante moderno faz tudo isso, mas também joga, cria jogadas e avança em direção ao gol. Falta ambição de ataque para esses atletas da posição.

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Dorival tem a chance de recriar a posição no futebol brasileiro. Basta olhar para alguns jogadores do setor em times da Europa. Os brasileiros têm qualidades. Mas eles se preocupam mais em matar as jogadas e não passar do meio de campo com receio de prejudicar o time defensivamente. É claro que há hora para tudo, até para segurá-los na marcação. Mas em condições de ataque e de busca de resultado, eles precisam ser mais do que são. O Brasil joga contra o Uruguai sua primeira grande cartada sob o comando de Dorival. Cobra-se apenas que o Brasil jogue bem.