A morte de Juan Izquierdo, do Nacional, em jogo da Libertadores precisa ter algum significado para o futebol e para nossas vidas. O zagueiro teve uma arritmia cardíaca aos 39 minutos do segundo da partida contra o São Paulo, pela Libertadores, na semana passada. Caiu no chão e foi prontamente socorrido. Ele não resistiu e morreu na terça-feira à noite. Hoje é um dia triste.

LEIA OUTRAS COLUNAS DE ROBSON MORELLI

Não houve vacilo no atendimento dos companheiros de campo, dos médicos que prestaram o primeiro socorro, do motorista da ambulância que levou o atleta para o hospital. Todos entenderam a gravidade daquela cena. Todos se juntaram em solidariedade e orações nos últimos dias. Foi assim até sua morte na noite passada no hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde ele também sofreu uma parada cardíaca ao dar entrada na quinta. Arritmia e parada cardíaca podem acontecer com qualquer pessoa.

Juan Izquierdo sofreu uma arritmia cardíaca em campo e depois uma parada cardíaca ao dar entrada no hospital / SPFC

O brasileiro se solidarizou com o garoto Izquierdo, de 27 anos, pai de duas crianças, marido, filho e bom companheiro no Nacional. Já vivemos isso com Serginho, do São Caetano, em 2004. A dor foi tremenda, como é agora. Futebol não combina com morte, muito menos durante uma partida.

É preciso ver então o que a morte de Juan Izquierdo pode nos ensinar ou trazer para nossas vidas e, principalmente, para o futebol. Sempre há alguma coisa a aprender. O zagueiro do Nacional morreu quando fazia o que mais amava. Poderia ser um de nós, no nosso lazer de fim de semana. Nunca se sabe.

Sua morte acontece num momento do futebol brasileiro em que se pede menos jogos por causa do desgaste físico e mental dos atletas. O mundo tenta tirar o pé de uma vida acelerada. Há esforços que não sabemos mensurar. Não sei se isso tem alguma relação com a morte de Izquierdo, mas não podemos correr o risco.

Esses jogadores entregam tudo o que podem no campo, nos 90 minutos e em seus acréscimos. Eles fazem isso três vezes por semana, com pouco descanso e novos treinos. Não sei o quanto esse desgaste pode influenciar ou provocar situações como a de Izquierdo, mas certamente atletas mais bem preparados e com mais qualidade de vida estão menos sujeitos a riscos. Exames médicos devem ser constantes. O coração grita. Izquierdo teve arritmia cardíaca e uma parada cardíaca.

Nossa medicina esportiva é boa. Amadureceu e se modernizou de 2004 para cá, quando se deu a morte de Serginho no mesmo Morumbi, em condições parecidas. É preciso continuar nesse caminho. Não digo que o futebol brasileiro não esteja nesse caminho, longe disso, só não podemos nos acomodar nem nos render à eterna falta de dinheiro e tempo dos clubes.

Reclamamos quando nossos principais atletas são tirados dos jogos para descansar. Há treinadores que não fazem isso por causa da pressão dos resultados. Está errado.

A saúde deve estar acima de tudo, de todos os gastos de um time de futebol e de qualquer calendário. A CBF precisa entender isso e colocar a mão na massa. Enfrentar quem joga contra por questões financeiras. Não digo que seja isso, mas pode ser também.

SIGA ROBSON MORELLI NO X

Os estádios devem estar mais bem preparados? Sim. Podem ter salas como mini-hospitais aparelhados para os primeiros socorros, de modo a não precisar levar o atleta para fora da arena. Com isso, ganha-se tempo e evita-se o transporte. São detalhes que podem ajudar a salvar vidas.

Selena, mulher de Juan Izquierdo, faz um texto bonito após a morte do marido em São Paulo / X Izquierdo

Não vejo, de forma alguma, a morte de Izquierdo como negligência no seu atendimento desde o momento em que ele caiu no gramado até chegar ao hospital. Até onde pude apurar, tudo foi feito de forma rápida e competente. Juan Izquierdo foi tratado com o carinho e atenção que merecia. Sentimos pela sua morte.

Haverá minuto de silêncio em todas as partidas no Brasil e América do Sul. Clubes brasileiros se solidarizam com a família do jogador do Nacional, fazendo manifestações de pesar e conforto. Nossos irmãos uruguaios estão de luto, assim como todos nós. Izquierdo deixa mulher, duas crianças pequenas, pais e amigos. Seu corpo foi levado para o Uruguai com um avião da Força Aérea Uruguaia.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui