Você pode criticar ou elogiar as coletivas do técnico Abel Ferreira após os jogos do Palmeiras, a depender do humor do treinador e do resultado da partida. Mas nunca ninguém vai ficar indiferente a elas.
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Depois da vitória de 3 a 1 sobre o Botafogo, na noite de quinta-feira, no Allianz Parque, resultado que manteve o Verdão vivo na briga pelo tetracampeonato, Abel abriu seu coração e distribuiu recados para a torcida, para a presidente Leila, para os jogadores, para os líderes do movimento contra o gramado sintético, para os jornalistas (isso não pode faltar!!!) e, especialmente, para as pessoas que deveriam ser responsáveis pela tomada de decisão em relação a questões estruturais do futebol brasileiro.
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Bem ao seu estilo, com os olhos quase sempre arregalados e a fala atropelada, sem freio e sem vírgulas, Abel deu um show de coerência em grande parte de suas ponderações.
Falta coragem dos dirigentes
Fazendo uma edição dos melhores momentos da coletiva, muitas das falas do treinador convergem para um ponto que merece máxima atenção: o futebol brasileiro padece de pessoas dispostas a encabeçar mudanças que provoquem uma ruptura a padrões mantidos como “cláusulas pétreas, seja por conveniência, interesses pessoais ou descompromisso com o novo.
Os problemas estão aí há anos
Com propriedade, o treinador lembrou que está há cinco anos vivendo no Brasil, já até podendo requerer cidadania, e neste período nada mudou no nosso futebol, a despeito de alguns problemas crônicos, que se repetem constantemente, estarem visíveis aos olhos de todos.
Abel tem razão. Fora de campo, o futebol brasileiro repousa numa estrutura viciada, paquidérmica, alinhada com interesses que beneficiam pequenos grupos dominantes. A essa gente, por certo, não interessam correções de rota.
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O técnico usou como um dos exemplos a questão da qualidade dos gramados, que voltou ao foco de discussões por conta do manifesto de jogadores contra o piso sintético.
Para Abel, mais importante que a escolha do piso é a urgência de uma regra que exija um mínimo de qualidade nos campos onde se pratica o futebol no país. Com cinco anos de experiência tropical, Abel sabe que nenhum dirigente de entidades que organizam os campeonatos leva isso na ponta do lápis.
Cegueira para os problemas
O regulamento até existe, mas na prática joga-se muito em campos sem o menor padrão de qualidade. Todo mundo sabe disso, todo mundo reclama, mas ninguém toma uma decisão de acabar com o problema.
Esse acomodamento circunstancial, essa postura de fingir que está tudo bem, essa cegueira para problemas que acabaram se normalizando, aplica-se aos gramados, à profissionalização dos árbitros, ao fair play financeiro, ao atraso de salários, à violência dentro e fora dos estádios, aos casos de corrupção…
A esta lista poderíamos adicionar a questão dos regulamentos dos campeonatos que se disputam em todo o país. Não há uniformidade entre eles – e, pior, há algumas aberrações.
O próprio Paulistão é vítima de um regulamento absurdo sob o ponto de vista técnico, mas que está aí em prática há vários anos, com aprovação geral do Conselho Arbitral representado pelos presidentes dos clubes que disputam a competição.
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Ora, se a Federação propõe um regulamento ruim cabe aos clubes debaterem o tema e tentarem uma opção melhor, mesmo que, no caso dos Estaduais, todos se vejam obrigados a criar fórmulas mirabolantes a fim de adaptar o torneio ao que sobrou do calendário. Com cada vez menos datas disponíveis, os protótipos de Frankenstein estão cada vez mais medonhos.
O regulamento do Paulistão
Talvez Abel mereça até ser criticado por só tocar no tema agora, justamente no momento que ele sente na pele o que outros sentiram nas edições anteriores. Com a pontuação que já tem, o Palmeiras seria líder de dois outros grupos – e, nessa condição, já estaria classificado para a fase de mata-mata.
Mas nunca é demais tocar nessa idiossincrasia de um regulamento que permite tal distorção, que muito piora quando a gente se dá conta de que o Paulistão usa a “classificação geral”, independentemente dos grupos, para definir os dois times rebaixados, e ignora a soma geral de pontos na parte alta da tabela.
Ora, se ela vale para uma ponta deveria valer também para a outra. Não faz o menor sentido que seja como está posto.
Performance dos times
O Paulistão, inegavelmente, é o único campeonato regional viável. A gestão da FPF, se não é perfeita, garante aos clubes uma excelente arrecadação.
A organização funciona. Há novidades que são frequentemente incluídas na disputa para a melhora do jogo, como este ano se vê em relação às bolas colocadas nas laterais do campo para evitar cera dos gandulas e dar ritmo ao jogo.
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Até a questão da arbitragem é pensada em favor de uma melhora técnica, já que a entidade dá os primeiros passos para a profissionalização do apito. Tudo seria bem melhor se o regulamento pudesse ser alterado no intuito de privilegiar a performance dos times dentro de campo, sem injustiças.
Para que isso aconteça, no entanto, é preciso que todos os atores do futebol atentem para o que disse Abel na coletiva após a vitória sobre o Botafogo. Trocando em miúdos, já é hora de alguém ter coragem e disposição para mudar o que precisa ser mudado.