Lionel Messi resolveu trocar de time aos 34 anos, contrariando o que todos acreditavam ser algo impossível de se fazer, aliás, como muitas de suas jogadas. Mais perto de sua aposentadoria do que do começo de sua carreira, não foi uma decisão fácil para ele e sua família, que sempre morou em Barcelona. Os motivos de sua não permanência no clube que o criou todos sabem e eles vieram se arrastando na mídia durante um ano, quando Messi disse que não queria mais ficar no Barcelona e pediu a rescisão de contrato. O procedimento envolvia muito dinheiro e discussões terríveis de advogados. Ele preferiu então cumprir o acordo que assinou até o fim e esperar para ver o que ia acontecer.
Aconteceu de ele se mudar para a França e assinar contrato com o Paris Saint-Germain, história que todos já sabem também.
O que talvez tenha caído no esquecimento são as estreias de Messi no futebol, quando o atacante era mais novo, mais ‘peludo’ e ainda uma promessa no futebol. Ele não tinha ainda os seis troféus de melhor jogador do mundo e seu nome talvez nem fosse conhecido na Argentina. Suas estreias foram poucas, bem poucas. Mas foram todas extraordinárias para o bem e para o mal também. Depois de assombrar os marcadores e encantar os adultos nas categorias de base do clube catação, onde chegou aos 14 anos, um rapaz franzino, clarinho e ‘imparável’ foi lançado ao time principal do grande Barcelona na temporada de 2003-2004. Ele tinha 16 anos apenas.
Um menino comum com 16 anos é tímido, não conversa com seus pais, não sabe o que quer da vida e briga para ir à escola, além de não sair do quarto. Messi já tinha uma avenida pavimentada em sua frente. Tinha apenas que segui-la. E foi o que fez. Mas essa história todos também já sabem.
Seu primeiro jogo pelo Barcelona foi um amistoso contra o Porto. Sim, foi num jogo internacional, mas comemorativo. O time de Portugal fazia a inauguração do Estádio do Dragão, sua nova casa e onde adversários passam maus bocados para ganhar do mandante. O jogo foi em 16 de novembro de 2003. Não era uma partida oficial, mas era um compromisso importante para ter um pirralho em campo. O Barcelona sempre foi Barcelona em qualquer lugar. Quando os 11 vestem sua camisa, é o clube catalão que está sendo representado ali.
Messi entrou no jogo aos 29 minutos do segundo tempo na vitória do Porto por 2 a 0. Ou seja, ele ficou no banco e estreou com derrota. Ele entrou no lugar de Fernando Navarro. O técnico do time era o holandês Frank Rijkaard. O Barcelona já estava perdendo por 2 a 0. José Mourinho era o treinador do Porto. Viu de perto a estreia do argentino. Quando entrou, Messi fez o que sabia fazer e o que estava acostumado a fazer nas categorias de base: pegar a bola e sair enfileirando seus marcadores. Reza a lenda que todos no time catalão se entreolharam e ficaram de queixo caído ao ver Messi em ação pela primeira vez. A equipe de cima do Barcelona já tinha ouvido falar de um ‘tal de Messi’, mas ninguém foi conferir no time juvenil para saber quanto ele jogava. Messi teve duas chances de marcar seus primeiros gols.
Depois daquela partida, Rijkaard tirou o menino da equipe juvenil e passou a usá-lo no time B do Barcelona. Messi usou a camisa 30, a mesma que vai vestir no PSG.
O menino Lionel Messi teve de esperar quase um ano depois daquela partida no Porto para ser mandado a campo em um jogo oficial. E era um clássico. Portanto, mais uma vez o garoto forjado em La Masia era colocado numa fogueira. Fogueira para qualquer um, não para ele. Era 16 de outubro de 2004, em partida contra o Espanyol. Messi chegou chegando.
No lugar de Deco
Sua presença na partida já dava a ele um recorde: jogador mais jovem na época a atuar pelo time em duelos oficiais tanto pelo Campeonato Espanhol quanto pela Liga dos Campeões. Messi não era conhecido nem pelos argentinos, embora algumas reportagens já falavam de um jogador nascido no país sul-americano que estava comendo a bola no Barcelona de tantos craques, como Deco e Ronaldinho Gaúcho, por exemplo. Inevitável foi não comparar Messi a Maradona. Mais um Maradona nascia. Mais ou menos como fazem os brasileiros a cada bom jogador que desponta e é comparado a Pelé. No Brasil, os brasileiros já cometeram muitas heresias. Na Argentina, há muitos que acham que Messi é melhor do que Maradona.
Naquele jogo de estreia como profissional, Messi entrou no lugar de Deco, brasileiro naturalizado português que atuou no Corinthians quando moleque. O Barcelona ganhou de 1 a 0. Messi tinha 17 anos, três meses e 22 dias.
O primeiro gol de Messi no Barcelona foi marcado diante do Albacete no dia 1º de maio de 2005, com passe de Ronaldinho Gaúcho. O atacante estava pronto. Os dirigentes do Barcelona não tinham dúvidas disso. A comissão técnica comandada por Rijkaard ainda precisava ver mais, e saber quem deixaria o time para a entrada do garoto argentino de nome Messi.
O empurrão veio na mesma temporada e não foi por causa do gol marcado no fraco Albacete. Messi já fazia diabruras na seleção argentina sub-20. Foi artilheiro, melhor jogador e campeão da Copa do Mundo da categoria, organizada pela Fifa. Mas ainda era tido como um daqueles garotos que brilhavam nas categorias inferiores e desapareciam no futebol de homens. O fato é que ele passou a ganhar mais espaço no Barcelona. Na temporada 2005-06, Messi era titular. Já trilhava seu caminho para ser reverenciado na Catalunha, Espanha, Europa…
Argentina
Sua história da seleção argentina foi parecida e da mesma forma precoce. Mas não foi uma história alegre. Foi triste. E durou 47 segundos. Ele demorou mais tempo no aquecimento do que dentro de campos naquele 17 de agosto de 2005, quando o treinador José Pekerman resolveu colocar o jogador no lugar de Lisandro López. Era um Argentina versus Hungria, num jogo amistoso que não valia nada orquestrado com segundas intenções que Messi só veio a descobrir mais tarde. A AFA (Associação de Futebol da Argentina) tinha a informação de que um garoto bom de bola poderia se naturalizar espanhol e jogar pela seleção daquele país europeu, o que seria uma tragédia para a Argentina olhando com os olhos de hoje. Naquela época, em 2005, Messi era uma promessa ainda. Mas os argentinos o queriam no time. Mas ele foi mal, muito mal.
“Como vou estrear na seleção principal desse jeito? É uma vergonha! Nunca mais vão me chamar! Sou um desastre, assim não posso jogar”, teria falado Messi comentando sua própria atuação na estreia pela seleção. Ele desceu chorando para o vestiário. Messi achava que não teria mais oportunidades no time nacional.
Para os envolvidos com a trama, as lágrimas e o cartão vermelho de Messi não importavam. Os 47 segundos foram suficientes para impedir que o camisa 17 não pudesse mais jogar por nenhuma outra seleção do mundo, uma vez que as regras da Fifa impedem que um jogador que já defendeu uma seleção principal não possa mais defender nenhuma outra. Messi “seria” argentino para sempre. Havia rumores de que ele poderia se naturalizar espanhol e atuar pela ‘Fúria’. Se tivesse acontecido, ele teria sido campeão do mundo em 2010, na África do Sul.
Após aquele jogo, Messi teve de esperar um mês para voltar à seleção a fim de enfrentar o Paraguai nas Eliminatórias Sul-Americana da Copa do Mundo de 2006. Em setembro daquele mesmo ano, Messi era cidadão espanhol, mas já era tarde para qualquer pretensão da seleção europeia.