Quando joga Matheus Bidu, a torcida sente saudade de Hugo. Se joga Hugo, a torcida sente saudade de Matheus Bidu. Quando jogam os dois (no caso um na vaga do outro no decorrer da mesma partida), a torcida entrega os pontos e sabe que é mais um daqueles dias em que nada dá certo e que a derrota será inevitável.

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Essa é uma brincadeira, quase uma piada, recorrente em fóruns de torcedores do Corinthians nas redes sociais. Embora pareça só uma crueldade com os dois jogadores que mais têm se revezado na lateral-esquerda do Timão, ela traduz um pouco da aflição que o mau rendimento da defesa do Corinthians desperta na maioria dos torcedores.

Vestiário do Corinthians antes da partida contra o Racing, do Uruguai: time perdeu por 2 a 1 / Corinthians

Por óbvio, nem Hugo nem Bidu são culpados exclusivos pelos muitos gols que o Corinthians tem tomado desde o ano passado. Ambos foram pegos de bode expiatório para exemplificar a fragilidade de um sistema defensivo que realmente é deficiente, responsável pelo desequilíbrio demonstrado pela equipe em vários jogos.

Do meio pra frente, tudo certo

Do meio-campo para a frente, o Corinthians se encontrou depois que o talento de Carrillo, Garro, Martinez, Yuri Alberto e Memphis Depay desabrochou. Dali para trás, no entanto, só se salva o goleiro Hugo. Mas quando ele não joga, a fragilidade do sistema defensivo fica mais evidente, como ocorreu no clássico da terceira rodada do Brasileirão, com o rival Palmeiras, sábado passado, em Barueri.

Com 18 minutos do primeiro tempo já estava 2 a 0 para o Verdão, com dois gols anotados em chutes de fora da área – o primeiro de Piquerez e o segundo de Emi Martinez. Chutes permitidos pela forma ineficiente da marcação nos arredores da área, onde os defensores e volantes praticamente assistem à trama do adversário, sem diminuir espaços. Os corintianos só cercavam os palmeirenses à distância, possibilitando que a bola girasse de uma lateral para outra sem ninguém ser acossado, incomodado, até a hora do arremate.

Ramón Díaz e Emiliano, seu filho, acharam um jeito de o time jogar no ataque, mas eles erram na defesa / Corinthians

Na ausência de Hugo, que poderia ter feito a defesa nos dois chutes por conta de sua maior envergadura, ainda sobraram críticas ao reserva Matheus Donelli, que pulou em direção à bola e não conseguiu a defesa. “Braço curto, mão de alface, chama-gol…”  Os impropérios e as ironias dirigidas ao goleiro também ganharam espaço nas redes, ignorando o fato de que Donelli evitou pelo menos outros quatro gols palmeirenses, com grandes intervenções.

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Mas o goleiro não tem perdão. Não há defesas impossíveis que apaguem um erro. E, assim, Donelli saiu do dérbi crucificado e foi julgado como um goleiro que não serve nem para a reserva de Hugo Souza.

Defesa que compromete

Descontados todos esses exageros e as críticas puramente passionais, que ignoram a razão, não dá para fechar os olhos para um problema real: a defesa do Corinthians pode comprometer uma temporada que se imaginava perfeita, dada a qualidade ofensiva da equipe e a conquista do Paulistão-25. Mas os fracassos na Pré-Libertadores, o começo inseguro na Sul-Americana e a derrota para o arqui-inimigo em Barueri fizeram recrudescer a preocupação. A luz de alerta está acesa.

Quando um time de futebol sofre um gol, o lance precisa ser analisado dentro de um contexto, levando em conta a dinâmica do jogo. Onde a bola foi perdida, por quantos jogadores o adversário passou até chegar na cara do gol, quem deu espaço, quem errou o posicionamento… Enfim, um lance que origina um gol, se não é mérito exclusivo de quem marca, é produto de um erro coletivo de quem sofre. Um erro quase sempre em cadeia, que tem, portanto, múltiplas variáveis e alguns culpados.

Corinthians posa para foto em jogo do Brasileirão: time enfraquecido na defesa, dos zagueiros aos laterais / Corinthians

Na ampla maioria dos casos, isso é reflexo de falha de posicionamento dos jogadores em campo e da falta de intensidade na marcação, aquela coisa de chegar junto, dividir, fazer a falta, ocupar o espaço, ganhar as divididas no corpo, fazer a linha de impedimento… enfim, todos os recursos que o jogador de futebol tem para mitigar o risco de tomar um gol.

Analisando as últimas partidas do Corinthians, essas falhas coletivas são muito claras. Cabe ao treinador Ramón Díaz achar estratégias para corrigi-las e intensificar os treinamentos para impedir que os mesmos equívocos se repitam jogo a jogo.

Félix, Gustavo, Cacá, Tchoca…

É preciso também coragem para mudar as peças, no caso de jogadores que não estão rendendo o esperado. Só que aí emerge um problema de grandes proporções para a família Díaz: nenhum dos zagueiros disponíveis no elenco hoje está jogando bem. O que, por si só, explica o rodízio frequente da formação que vai para campo. Rodízio que tem como efeito colateral a falta de sintonia entre os zagueiros escalados.

Ramón já tentou todas as possibilidades de dupla com Félix Torres, Gustavo Henrique, Cacá, Tchoca e André Ramalho. Nenhuma dupla foi 100% eficaz. Vale para o miolo de zaga o mesmo que se aplica para a dúvida na lateral-esquerda, cujo problema parece ser corrigido quando o argentino Angileri pode jogar. Palácios, a quarta opção, é carta fora do baralho há mais de um ano. Na lateral-direita a agonia é a mesma, pois Matheuzinho segue sem convencer ninguém, e Leo Maná não parece pronto para ser a solução.

Bom no ataque e ruim na defesa

Da forma que as coisas estão caminhando, dificilmente o Corinthians vai ter tranquilidade para sonhar com coisas grandes na temporada. Talvez a saída seja apostar em reforços na próxima janela de transferências, no meio do ano. Vale lembrar que, à exceção de Angileri, o Corinthians não contratou ninguém entre o fim da temporada passada e a deste ano, apostando todas as fichas num elenco que, agora se sabe, ainda é muito desequilibrado. Com ótimas opções para atacar e muitos problemas para defender.

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