O áudio vazado por um “mui amigo” do dono da SAF do Cruzeiro, Pedro Lourenço, contando, com boa dose de orgulho e daqueles que se colocam acima de tudo e de todos, como mandou o treinador do time escalar os jogadores comprados na janela de transferência marca uma nova-velha era do futebol brasileiro, de quem paga a conta e não tem de dar satisfação para ninguém no clube. Dono é dono e fim de papo, como gostam de afirmar alguns por aí.

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No caso desses empresários que estão comprando os times de futebol no Brasil, o despreparo é gigantesco para lidar com opiniões diversas e respeitar os que trabalham para eles. Não são todos e vamos nos concentrar no Pedrinho, o dono do áudio.

Pedro Lourenço comprou a SAF do Cruzeiro de Ronaldo Fenômeno depois de ajudar financeiramente o clube / Cruzeiro

Ele fala textualmente a um interlocutor que disse ao treinador Fernando Seabra, que era da base do clube mineiro, portanto, um colaborador conhecido do Pedrinho, para escalar os atletas e que se não fizesse isso, poderia arrumar suas malas porque seria demitido. Além de tudo, trata-se de um assédio profissional.

Eu cheguei para o técnico (Fernando Seabra) e falei assim: ‘Ou você escala os jogadores que contratou ou você pode arrumando a sua mala aí que não passa desse jogo não’. PEDRO LOURENÇO

No que diz respeito ao desrespeito esportivo, isso parece embutido no futebol brasileiro, vindo de um amadorismo que ainda não conseguimos nos livrar nesses mais de 500 anos de Descobrimento e mais de 100 de futebol. Digo desde o Descobrimento porque esse tipo de comportamento “faça porque eu estou mandando” vem de muitos segmentos da sociedade. São patrões autoritários que costumam mandar em tudo e em todos, sem qualquer constrangimento.

Confesso que a postura do dono da SAF do Cruzeiro não me surpreende. Também penso que o presidente pode participar dessas conversas com seus diretores de futebol e até mesmo com o treinador nas reuniões semanais, geralmente após os compromissos daqueles sete dias.

Fernando Seabra, técnico do Cruzeiro, veio das categorias de base do clube de Minas / Cruzeiro

Sugestões, questionamentos, dúvidas dos dirigentes são aceitas quando bem encaminhadas e respeitando seus pares. Há um ditado no futebol que diz que pênalti é tão importante numa decisão que o presidente do clube deveria bater. Participar é uma coisa, exigir sem ouvir ninguém é outra. Isso não existe no futebol porque é o treinador que está no campo todos os dias trabalhando com os jogadores e ninguém melhor do que ele para escalar e fazer as escolhas.

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O técnico não pode ter birra ou desgostar de seus atletas. Tem de ser justo com todos eles e com sua própria ética profissional. Há muitos problemas e conflitos nesse relacionamento e é preciso resolver todos eles com conversas difíceis, mas necessárias para quem administra grupos. Pedir, verificar, aconselhar, observar, sugerir são coisas diferentes de mandar e exigir. Quem exige tudo e só faz mandar nunca tem o grupo nas mãos. Estará sempre sozinho mesmo cercado de colaboradores.

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