Nos últimos meses, o Corinthians entrou em uma areia movediça dentro do Parque São Jorge e parece estar agora até o pescoço nela. Quanto mais se mexe, mais se afunda. É um problema interno do clube. Portanto, nada a ver com contratempos provocados por terceiros ou adversários esportivos. O imbróglio nasceu na sala do presidente Augusto Melo. É também um problema de gestão, de desconfiança de roubalheira do dinheiro que pertence ao clube, de modo a jogar lama nas ações do presidente e de sua maior patrocinadora, a VaideBet, que nessa história aparece como vítima e também pede explicações a Augusto Melo, como fazem rivais políticos e a própria torcida.
Se tem um lado bom nisso tudo, é tirar o foco do ainda fraco time de António Oliveira e de seus jogadores. O negócio é tão sério, que o futebol passou a ser secundário.
Entenda o caso
O Corinthians fez um ótimo negócio com a VaideBet, no valor de R$ 370 milhões em três temporadas. Tirou a empresa que estava como patrocinador máster da camisa, também de bet, pagou multa de R$ 44 milhões e fechou a troca, já sob a batuta do presidente Augusto Melo, que era da oposição nas eleições passadas. Melo disse que ele mesmo conduziu a negociação. Agora, meses depois, apareceu um intermediador que vai levar R$ 25,2 milhões. Desconfia-se que alguém esteja levando ‘um’ por fora. O problema é esse e não é pequeno. Porque pagar comissão para quem ajuda a fechar um negócio é comum no futebol. Há dezenas de agentes intermediários que ganham nos clubes. Basta ver os balanços anuais. Sempre há pagamentos ou dívidas com esses profissionais.
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O problema é que não havia intermediador e agora há. Isso cheira mal. Todo mundo desconfia de que tem alguém sendo pago com dinheiro do clube por um trabalho que não fez. Falcatrua. O presidente Augusto Melo terá de mostrar as contas e abrir as conversas particulares de seu celular para que haja transparência e sua gestão não afunde com ele nessa areia movediça em que o Corinthians se meteu.
Cinco meses de Augusto Melo
Nos cinco meses de sua gestão, alguns jogadores de qualidade técnica duvidosa foram contratados por valores exorbitantes, com salários altos, o goleiro Cássio foi embora depois de 12 anos e agora há uma debandada de dirigentes escolhidos pelo presidente para ajudá-lo em seu mandato pulando fora do barco. Profissionais da área financeira e de marketing do Corinthians estão se afastando ou sendo afastados por causa das denúncias feitas sobre essa comissão paga para terceiros e até para “laranja”, conforme denunciou o jornalista Juca Kfouri, do Uol.
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Essa debandada só prova que há alguma coisa errada na gestão e no caso da bet. Claro, porque se tivesse trabalhado com lisura e transparência desde o começo, concordam que ninguém precisaria ser afastado do seu cargo pelo presidente ou pedido demissão em meio ao processo turbulento? Tem coisa aí até que se prove o contrário. O problema é que não há quem prove o contrário, uma vez que o próprio Augusto Melo é o cara a dar as explicações. Ele estaria envolvido nesse “esquema” de pagamento que a oposição fala que é indevido? Ele foi enganado por seus dirigentes? Ele sabia da comissão de R$ 25,2 milhões? Se sabia, por que então disse que não tinha nenhum intermediador no negócio?
A VaideBet também se sente enganada e não aprova seu nome envolvido com tamanha desconfiança. Já ameaçou romper o contrato.
Caminhos para o Corinthians
Quais são os caminhos do Corinthians? O primeiro deles é recuar e parar de pagar a comissão ao intermediário que apareceu no negócio da casa de apostas. Assumir os erros e se responsabilizar. Cabe ao presidente tomar essa frente. O segundo caminho é explicar e provar quem é quem na confusão e admitir ou não o pagamento da comissão de R$ 25,2 milhões. Bater no peito e garantir com provas que não há falcatrua. Há fios desencapados, como uma mulher “laranja” sem saber de nada, cuja parte do dinheiro ia para ela, mas sem chegar em suas mãos.
O desafio maior, a meu ver, é saber qual é o envolvimento do presidente Augusto Melo. Para que o líder corintiano saia ileso, ele vai precisar entregar algumas cabeças. Mas de quem? E precisa fazer isso logo para que toda essa confusão não pare na Justiça e arrole para dentro de um inquérito o site de apostas VaideBet. É tudo o que a casa de apostas não queria.
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