Três jogos abriram neste sábado, dia 22, o Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino da Série A. A primeira rodada prossegue no domingo com mais três partidas, e duas outras complementam a etapa inicial na segunda-feira.
Ao todo são 16 equipes, que se enfrentam entre si na fase de grupos. As oito melhores classificadas avançam para as quartas de final, que terá jogos de ida e volta no sistema mata-mata. O modelo eliminatório se repete nas semifinais e finais, até que se apure o campeão.
Disputam o campeonato os times do América-MG, Bahia, Corinthians, Cruzeiro, Ferroviária, Flamengo, Fluminense, Grêmio, Instituto 3b, Internacional, Juventude, Palmeiras, Real Brasília, Red Bull Bragantino, São Paulo e Sport.
Longe de um cenário ideal
Desde que abriu os olhos para a importância do futebol entre as mulheres no mundo, a CBF vem investindo tempo e dinheiro num projeto de valorização da modalidade. Apesar dos avanços observados a cada ano, ainda estamos bem longe de um cenário ideal.
O abismo que separa a elite do futebol masculino do feminino resiste na mesma proporção em que se mantêm quase intactos os preconceitos que cercam toda a história da mulher no esporte e a conquista de seus direitos mais elementares, numa sociedade predominantemente machista e patriarcal.
Marta não foi a primeira
O futebol sempre foi muito hostil para as mulheres, que precisaram de muita coragem para cavar seus espaços aqui e acolá. Quem vê hoje o reconhecimento mundial reservado à camisa 10 Marta, por exemplo, não faz ideia de quanto as antecessoras a ela sofreram para abrir os caminhos da afirmação.
A começar pelos salários. Há uma incrível disparidade entre o poder de ganho entre homens e mulheres que disputam a principal liga do futebol brasileiro. A injustiça, a bem da verdade, não é privilégio do futebol, pois que é espelho do que se vê historicamente no mercado de trabalho como um todo.
Nem as recentes conquistas brasileiras em campeonatos mundiais e Jogos Olímpicos quebraram essa barreira. Mas a luta não pode parar. Para este ano, pelo menos, a CBF promete premiação melhor para as meninas e reproduz no campeonato nacional alguns padrões já corriqueiros no Brasileirão masculino.
Alguns avanços
São avanços importantes em relação ao número de jogadoras inscritas (que, ampliado, oferece mais oportunidades para mais atletas), protocolos internacionais usados pela Fifa em relação ao combate ao racismo e a utilização do VAR em todos os jogos a partir da fase de quartas de final.
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Outra medida também importante diz respeito ao rebaixamento. Neste ano, caem as duas piores colocadas e sobem quatro equipes da Série B. Essa gangorra desigual é importante para que, daqui a dois anos, o Campeonato da Série A tenha 20 equipes participantes, como ocorre no masculino.
O torneio terá transmissão ao vivo pelos Canais Globo e TV Brasil, o que também contribui para a divulgação e popularização da modalidade.
É o começo de uma reestruturação urgente. Cada peça se encaixa num conjunto necessário de melhorias. Medidas que dão suporte para que os clubes também possam investir mais dinheiro na formação das atletas da base e na montagem de elencos cada vez mais competitivos.
Até outro dia, notava-se um desequilíbrio muito acentuado entre as equipes que disputam o campeonato. O predomínio quase absoluto do Corinthians nos últimos cinco anos não fazia bem ao segmento – e felizmente hoje já despontam clubes como Palmeiras, São Paulo, Ferroviária, Flamengo e Cruzeiro em condições de acabar com a hegemonia de um time único, de um único campeão.
Os destinos de cada um começaram a ser traçados neste sábado. Tomara que tenhamos um campeonato de alto nível, com muitas emoções e mais conquistas que afrontem o preconceito.
