Uma das questões do Corinthians nesse momento é saber o que fazer com Cássio e Carlos Miguel, os dois goleiros do elenco. A pergunta está na boca dos corintianos, com resposta imediata de que o técnico António Oliveira deveria manter o reserva como titular. Carlos Miguel fez dois jogos seguidos, deixando Cássio no banco, uma condição não muito comum para o jogador consagrado. Mas será que a hora de Carlos Miguel chegou? Quando um goleiro deve entregar as luvas e dar lugar para outro em melhores condições e pedindo passagem? É uma questão natural da vida.
Cássio só se firmou depois de ficar com a posição de Júlio César. Isso foi em abril de 2012. De lá para cá, Cássio escreveu uma das histórias mais lindas e vencedoras de um atleta no Parque São Jorge.
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No entanto, é preciso pensar no time, na temporada, nos ventos que sopram e olhar para o futuro, de modo a entender com naturalidade as mudanças da equipe. Não estou aqui dizendo que Carlos Miguel deva ser titular. A decisão não é minha nem sua. Mas entendo que ele tem condições técnicas e está maduro, aos 25 anos, para assumir o gol corintiano. Vejo isso como algo definitivo, mesmo se nas próximas partidas Carlos Miguel falhar e sofrer gols considerados defensáveis. Cássio deve renovar seu contrato e encerrar sua carreira no clube. Não sei se ele tomará essa decisão de se aposentar nos próximos anos na reserva. Os jogadores não gostam disso. Geralmente param por cima no time onde começaram, uma forma de gratidão.
A troca de bastão é comum em todas as profissões. A única diferença para o atleta, de qualquer modalidade esportiva, é que ele encerra sua vida profissional mais cedo, dos 30 aos 40 anos, ou um pouquinho mais cedo ou um pouquinho mais tarde. Esse procedimento tem de ser entendido como algo normal e necessário. Não há muito o que fazer porque o jogador depende de seu corpo e o corpo envelhece.
Abro um parênteses aqui para lembrar de Pelé. Fiz com o Rei algumas de suas últimas entrevistas e, diante dele, pensava, com muita dificuldade para entender, como aquele jogador completo e de vigor físico invejável virou um senhor de 79, 80 anos, quase sem condições de andar sem a ajuda de outra pessoa. A vida é assim. Cássio está longe de ser um senhor, mas ele não é mais aquele goleiro promissor. O promissor agora é Carlos Miguel. E a comissão técnica do Corinthians tem a obrigação de testar o goleiro. Cássio parece um jogador mais sereno. Ele sabe exatamente o que consegue e o que não consegue mais fazer em campo.
E isso não tem nada a ver com o fato de negar a carreira de Cássio no Corinthians. Longe disso. Esse imediatismo do “serve” ou “não serve” não se aplica a Cássio. O goleiro é uma lenda, com mais de 500 partidas e inúmeras conquistas, de Libertadores a Mundial de Clubes. Ganhou tudo. A reverência a Cássio é eterna. Ele tem de ter essa dimensão e contar isso para seus filhos e familiares.
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Mas isso não quer dizer que Carlos Miguel deva ser ignorado pela história de Cássio. É sua vez agora. Ele vai esperar se tiver de esperar, mas as mudanças no futebol são feitas no tempo certo, e o tempo no gol do Corinthians é de Carlos Miguel. Não se deve ter medo de arriscar. E cá entre nós, Carlos Miguel não é mais risco. Ele só precisa de uma sequência e da certeza de que não precisa fazer tantas defesas por jogo para continuar no time. António Oliveira deve isso a ele.