Cássio está certo em pegar o seu boné e ir embora do Corinthians. Não o querem mais lá. Muitos corintianos pedem sua saída do time há anos. Quase todas as derrotas do Corinthians recentemente são jogadas nas costas do goleiro, chamado por muitos torcedores de “mão de alface”. O torcedor brasileiro, de modo geral, não sabe reconhecer seus ídolos. Por isso que Zico nunca quis ser treinador do Flamengo. Ele sempre soube que poderia cair em desgraça e perder tudo o que conquistou com a camisa do clube rubro-negro. Falcão foi detonado no Inter. Raí e Rogério Ceni sentiram o mesmo dissabor no São Paulo. Cássio sente isso ainda em atividade no Corinthians. Ele tem 36 anos.
Ele não vai sair porque perdeu posição para Carlos Miguel, que é bom goleiro, mas está longe de ser um Cássio. O frescor de sua juventude pode explicar a ânsia pela troca de bastão. Ocorre que Cássio não acabou, embora digam o contrário. Responsabilizar o goleiro pela má fase e por tudo de errado que aconteceu com o time nos últimos anos é um erro grotesco e injusto. O técnico António Oliveira não podia cair na pilha do torcedor. Mas ele preferiu mandar Cássio para o banco. Conduziu mal a situação e se fez refém dos gritos de fora para dentro do Parque São Jorge.
Já faz cinco jogos que ele fica no banco. A mensagem que o treinador português passou foi que, ao trocar de goleiro, ele resolveu os problemas e as mazelas da equipe alvinegra. Ou seja: Cássio era o problema. Um jogador com a história de Cássio não deveria ser exposto nesse nível. Parece que ninguém no clube conhece a história do jogador. Ou se conhece, deu de ombros para ela.
Isso não se faz com um jogador que está no clube desde 2012 com competência, titularidade, ganhando títulos e fazendo defesas importantes. Se António Oliveira não teve essa sensibilidade, pressionado que está no cargo, alguém do Corinthians deveria ter falado isso para ele, impedindo o treinador de provocar essa “humilhação” ao goleiro. Bastava deixá-lo uma semana sem jogar, mais tranquilo, para que ele pudesse se recuperar psicologicamente, se é que precisava disso. Cássio sempre foi um bravo.
Se eu estiver atrapalhando o Corinthians, se não estiver agradando… Para mim está muito difícil também. Tudo de errado que acontece no Corinthians sobra para mim. O time leva gol e a culpa é do Cássio. Toma um gol de pênalti e a culpa é do Cássio
Cássio não parou, não jogou a toalha, não desistiu de treinar ou de fazer o seu papel de liderança no elenco. Foi até mais profissional. Comentou com os colegas sobre a decisão do treinador e pediu para que todos corressem por Carlos Miguel. Cássio aceitou o banco de reservas e dali viu o time continuar em fase ruim, como na derrota para o Flamengo no fim de semana pelo Brasileirão, sem jogar bem e com a mesma vulnerabilidade de antes. O problema nunca foi Cássio. Cássio sempre foi a solução. A troca de goleiro deveria ser de forma gradual, com paciência e não no desespero, sem expor um ou outro.
Também não é por isso apenas que ele deverá ir embora. Cássio tem uma proposta do novo Cruzeiro, agora sem o comando de Ronaldo e, teoricamente, com mais dinheiro para investir em reforços. A ideia já vem sendo amadurecida pelo goleiro faz algum tempo. Cássio tem contrato até dezembro e não assinou nenhuma renovação. O comum é antecipar essas negociações. O Corinthians não tratou do assunto com antecedência. Deixou se levar por “coisas mais importantes” no clube.
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Isso tem a ver também com a falta de entendimento do que acontece no Parque São Jorge pela nova turma de gestores, liderada pelo presidente Augusto Melo. Há muita confusão nos bastidores, com mandos e desmandos e bate-boca via imprensa, com acusações pesadas e perigosas. O Corinthians é uma vitrine frágil, que pode quebrar com o vento mais forte.
Cássio ficou também para escanteio em meio a essa situação administrativa. Talvez ele nunca admita isso, honrado e agradecido que é ao Corinthians em sua carreira, mas o goleiro se viu em segundo plano e deixado de lado. Não pelo elenco, mas pelos dirigentes e pela torcida. Ninguém se comoveu com sua saída do time. Ele entende que tem condições de seguir, com ou sem a camisa do Corinthians. Faltou respeito com a história do Cássio. O futebol tem dessas coisas. O torcedor brasileiro é assim e não se corrige.
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