O que dá para ser adiado no Brasil, deixado de lado e remanejado enquanto do Rio Grande do Sul se afoga com as águas da chuva e dos rios transbordando em sua maior tragédia, matando brasileiros e deixando milhares de pessoas sem casa, sem lar, sem ter para onde ir, sem ter o que comer, sem ter abrigo, trabalho, água, roupas, medicamentos, enfim, sem ter o que fazer, deve ser adiado. Isso inclui o nosso futebol.

Felizmente, o Brasil se mobiliza de norte a sul, leste a oeste para ajudar. E vamos vencer mais essa. Tomara que nossos governantes aprendam com isso e se esforcem para melhorar o que parece entregue à sorte e às condições da natureza. Não podemos pensar assim. É preciso atacar o problema antes que as pessoas morram e sofram no país. O Rio Grande do Sul está debaixo de água e precisa de todos nós, de uma forma ou de outra, com qualquer tipo de ajuda. Patrocinadores e clubes de clubes, associações como as federações estaduais e a CBF se mobilizam para doações e arrecadações. É bom ver a bolha do futebol participando da vida dos brasileiros comuns, torcedores de modo geral, que têm no esporte uma de suas maiores e mais importantes alegrias.

Estádio do Internacional, o Beira-Rio, também foi tomado pelas águas do Rio Guaíba / Inter

A CBF já adiou a rodada do fim de semana de todos os clubes gaúchos de todas as divisões nacionais. E deve anunciar nesta terça-feira novos adiamentos, inclusive dos jogos da Copa do Brasil. A Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) faz o mesmo com os times do Estado brasileiro, como Grêmio e Inter. Uma decisão acertada e coerente. E vai ter de seguir assim. As diretorias dos clubes gaúchos já pediram novos adiamentos de seus jogos. Não há como viver a alegria do futebol nesse momento em nenhum lugar do Brasil.

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A CBF não vai exigir que os times gaúchos voltem a campo nos próximos dias. O Inter pediu 20 dias de “afastamento” sem jogar. A verdade é que nem precisava fazer o pedido. Já é esperada uma nova decisão da entidade. Os times gaúchos não estão treinando, Renato Gaúcho, técnico do Grêmio, foi resgatado de um hotel nesta segunda-feira. Ele não conseguia sair do local. Ninguém consegue. O aeroporto de Porto Alegre está fechado. Os estádios estão inundados. Não há onde treinar ou trabalhar. Nem há clima para nada. Daí a necessidade de ajudar e não de pensar em futebol.

O problema da CBF é parar ou não o futebol no Brasil. Essa decisão está na mesa. Mesmo com todas as manifestações da entidade e ajuda e doações, o presidente Ednaldo Rodrigues está sendo cobrado para isso. Não acredito que a CBF decida pela paralisação. Na sexta-feira, tem a convocação da seleção brasileira para a Copa América. Mas eu me pergunto: com qual alegria e entusiasmo? Os presidentes de Inter, Grêmio e Juventude só deixarão o Rio Grande do Sul se forem obrigados por punição. Caso contrário, eles vão ficar com sua gente. Há muitas pessoas para resgatar e ajudar. Há os colaboradores, o elenco e seus familiares, os dirigentes, torcedores, amigos, parentes, vizinhos… Os clubes gaúchos não vão abandonar as pessoas.

E se não parar, posso afirmar que o Brasileirão 2024 está manchado pelo dissabor da falta de coerência e respeito com parte importante do país e de sua gente, por uma leitura míope dos fatos e das tragédias e mortes e por não entender que a alegria do futebol não será a mesma enquanto o problema não ter um fim minimamente aceitável, de modo que as pessoas que perderam tudo, e são muitas, possam retomar suas vidas de forma honrada e aceitável, e que suas crianças voltem para as escolas e que as escolas sejam reconstruídas e assim por diante. Não haverá paz interna enquanto as águas não baixarem e as pessoas respirarem novamente sem medo.

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Esportivamente, se o futebol continuar, vale lembrar que os jogadores dos clubes gaúchos não estão treinando e, portanto, estarão abaixo do rendimento de seus pares de outros times. Isso é inegável. Os clubes também estão engajados no processo de solidariedade, mas nenhum deles se manifestou pela paralisação do futebol. Nenhum. Rogério Ceni, do Bahia, se manifestou, e outros fizeram a mesma coisa. Há uma comoção generalizada, é fato, mas para muitos isso ainda é pouco. O que pode ser paralisado, deveria ser paralisado. E isso inclui o futebol. Que seja por uma semana ou duas.

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