É preciso entender, investigar e julgar o caso Paquetá com cautela, cuidado e muito critério. Qualquer passo em falso poderá acabar com a carreira do meio-campista. O caso é bastante delicado. Um julgamento está para ser marcado na Inglaterra.

O jogador do West Ham e da seleção brasileira é acusado formalmente pela Federação Inglesa de Futebol de participar de esquemas ilícitos em sites de apostas para beneficiar pessoas ou grupos de pessoas no Brasil. Há informações no processo de que o jogador forçou cartão amarelo em quatro partidas entre novembro de 2022 e agosto de 2023 na Premier League. Ele nega.

Mercado fechado

As acusações atrapalharam a ida do jogador para o Manchester City, de Pep Guardiola, o que seria um salto em sua carreira. O Flamengo também esteve de olho no jogador.

Receber amarelo não é um absurdo numa partida de futebol. Ocorre que as apurações na Inglaterra apontam que havia muita gente apostando na infração de Paquetá em algumas casas de apostas, mudando a curva da procura pela Odd (aposta).

Foi isso que fez a Federação Inglesa desconfiar e fez a denúncia contra o jogador brasileiro. Os clubes ingleses se preparam para tirar as casas de apostas da condição de patrocinadoras do futebol. Paquetá trabalha sua defesa negando qualquer movimentação em campo nesse sentido. Ele se diz inocente das acusações.

LEIA OUTRAS COLUNAS DE ROBSON MORELLI

Informações davam conta de que amigos e parentes de Paquetá em sua cidade no Rio foram beneficiados pelo esquema. Essas informações não estavam no processo, mas foram veiculadas na imprensa inglesa. Tudo está sendo investigado.

Paquetá nega que tenha participado de qualquer esquema fraudulento que pudesse colocar sua carreira no futebol e na seleção em risco. Ocorre que ele terá de provar isso, muito mais do que apenas afirmar diante dos magistrados da Corte.

Há prazos para ele se defender e o julgamento ainda não foi marcado. As autoridades querem ouvi-lo e vão confrontar as acusações e os detalhes dela com o que Paquetá vai apresentar. Sem julgamento, Paquetá é um cidadão livre de qualquer condenação.

Esse foi o segundo entendimento da CBF para permitir sua convocação para os jogos da seleção. Anteriormente, ainda sob o comando de Fernando Diniz, o meio foi excluído da lista.

Paquetá, no centro, treina com companheiros da seleção para amistoso contra o México: ele vai usar a camisa 8 / CBF

É prematuro afirmar que ele será condenado. Mas também não se pode dizer que ele escapará ileso. Paquetá está servindo a seleção brasileira nas Eliminatórias da Copa do Mundo. Jogou a Copa América nos Estados Unidos antes disso.

CBF manteve o jogador na lista

O julgamento deveria ter acontecido em 3 de junho. A CBF levou o caso para seus dirigentes e também para a comissão técnica liderada por Dorival Júnior, assim como para os atletas chamados para o torneio nos EUA. Todas as partes entenderam que o Brasil não poderia ficar sem o meio-campista. Desde então, ele é mantido no time.

Paquetá deve ser titular nas partidas do Brasil contra o Equador, sexta-feira, e depois diante do Paraguai, dia 10. A seleção está na sexta colocação das Eliminatórias.

Fui aconselhado pelos meus advogados a não fazer comentários sobre o caso. O que eu posso falar é que continuo fazendo o possível, cooperando. Meus advogados estão fazendo minha defesa para que tudo seja esclarecido no final disso tudo. PAQUETÁ

Entendo, no entanto, que a decisão de manter Paquetá no grupo não é de jogadores ou mesmo do treinador. Ela é do departamento jurídico da CBF, que também entendeu que não faria mal algum à entidade manter o meia no elenco.

A ética é a cultura do bem

Para Mauricio Corrêa da Veiga, advogado trabalhista e sócio do Corrêa da Veiga Advogados, “o desporto, em sua essência, transcende a mera atividade física, elevando-se à condição de expressão cultural, ferramenta de desenvolvimento social e, sobretudo, direito humano fundamental. Essa percepção estabelece uma relação intrínseca entre o acesso à prática desportiva e a igualdade de oportunidades”, defende.

E vai além: “O conceito de agir não pode se distanciar dos princípios que notabilizam a sociedade e tem na ética a virtude indispensável para desenvolver os bons valores no relacionamento humano, pois a ética é a cultura do bem.”

Corrêa da Veiga aponta o que pode acontecer com Paquetá em caso de condenação. “Há sanções tanto na esfera disciplinar quanto na esfera criminal. No Brasil, por exemplo, o artigo 242 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva, determina a condenação de “quem der ou prometer vantagem indevida a qualquer atleta para influenciar resultado da partida ou equivalente”.

Havendo prova de manipulação de resultados, a condenação deve ser exemplar, a fim de que haja o caráter pedagógico e educativo da pena com o intuito de inibir novas práticas. A verdade desportiva deve ser preservada sempre”. Paquetá pode ser afastado ou até banido do futebol.
MAURICIO CORRÊA VEIGA

O Brasil discute a regulamentação das leis para que as casas de apostas ou sites possam operar no país e pagar impostos. O Brasil já teve investigações e condenações de atletas e gangues que se valeram da sedução para “mexer” no resultado e nas ações de jogos oficiais.

O futebol corre risco no mundo todo porque as apostas estão por aí, de qualquer natureza e em qualquer modalidade. O futebol ganha espaço de destaque porque é mais badalado do que outros esportes.

Há, como disse Corrêa da Veiga, um caráter educativo em todas as movimentações judiciais sobre o tema. É preciso manter o futebol lícito. O torcedor tem de acompanhar as partidas sem qualquer dúvida de sua honestidade e veracidade. É disso que estamos falando. É contra isso que precisamos lutar.

SIGA ROBSON MORELLI NO FACEBOOK

Não está descartado que o caso Paquetá sirva de exemplo na Inglaterra e no Brasil. Mas para isso é preciso ter absoluta certeza de sua participação no esquema fraudulento. Paquetá não pode pagar pelo que não fez, como afirma.

Sua carreira está em jogo e isso é muito sério, mas do que muitos imaginam. Não é assunto para brincadeiras nem piadinhas, como já se pode encontrar nas redes sociais.

Dorival Júnior convocou Paquetá para a Copa América dos Estados Unidos após aval da CBF / CBF

O futebol brasileiro já sofreu com o Esquema das Loterias, com a Máfia do Apito e agora, mais recentemente, com as Manipulações das Apostas Esportivas. No Brasil, as notícias sobre o assunto deram uma esfriada até que o Ministério Público apresente novas acusações e provas de falcatruas. O governo caminha para regulamentar os sites e a jogatina, que já existem, mas em plataformas sediadas fora do Brasil, sem qualquer imposto nacional.

CBF tem mecanismos de aferição

Mecanismos de acompanhamento das apostas estão sendo desenvolvidos para “impedir” trambiques. As entidades esportivas, como a CBF, estão sendo arroladas na discussão com grande interesse em ajudar no combate à malandragem. As regras vão ser rígidas. Os clubes estão com suas cartilhas desde a base para orientar e ensinar. Não pode haver margem para desconfianças.

Atualizada em setembro.