Sem oposição, zero restrição e nenhuma voz dissonante… Assim, com 100% dos votos, o baiano Ednaldo Rodrigues foi reeleito por aclamação presidente da CBF, na manhã desta segunda-feira, dia 24, no Rio, para um mandato que vai até 2030.

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Reeleito, em termos, já que seu atual mandato era uma herança da destituição do antigo presidente. Em junho de 2021, o cargo lhe caiu no colo de graça quando Rogério Caboclo foi afastado em meio a um turbilhão de acusações de desmandos que incluíam até assédio sexual a uma funcionária da entidade.

Ednaldo Rodrigues é eleito para presidente da CBF por unanimidade dos votos das Federações e clubes / CBF

Beneficiado pelo que reza o estatuto da CBF, Ednaldo está, portanto, em sua primeira eleição. E pode concorrer a uma reeleição, de fato, para, em caso de vitória, perpetuar-se no cargo até 2034. Nada mal para quem recebe um salário mensal superior a R$ 350 mil, algo que chega perto de uma bolada de R$ 5 milhões por ano, de acordo com informações publicadas em janeiro de 2024 pelo jornal O Globo.

Salário do presidente

É um salário de craque, sem dúvida. Mas é bom que se diga que o pagamento está dentro da lei e segue determinação do estatuto, mediante normas auditadas e aprovadas pelo Conselho Fiscal da CBF. Lembrando sempre que a CBF é uma entidade de direito privado e, como tal, remunera seus executivos como bem entende.

Ednaldo ainda engorda seus vencimentos como membro do Conselho da Fifa, que lhe garante um bônus de US$ 300 mil por ano (aproximadamente R$ 1,7 milhão). Mais do que o salário do presidente, o que importa mesmo é o trabalho dele à frente da entidade que representa os interesses comerciais e esportivos do futebol brasileiro. Ou que, em tese, deveria representar.

Ednaldo Rodrigues é o primeiro presidente da CBF desde Ricardo Teixeira a receber os votos de todo o colégio / CBF

Para os representantes das 27 federações estaduais, dos 20 clubes da série A e dos outros 20 da Série B, não há ressalvas a serem feitas. Todos eles votaram na chapa “Por um Futebol Mais Inclusivo e sem Discriminação de Qualquer Natureza”, seja lá o que isso signifique na prática.

Olhos para a seleção

Pode-se acusar o colégio eleitoral de submissão ao poder, mas não se pode questionar a legitimidade do pleito. Na democracia é assim que tem de ser. Quem ganha pela maioria, leva. Quem perde, aceita a regra do jogo e não faz movimentos golpistas.

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Por muitos anos, a CBF se preocupou mais com a seleção brasileira, como se fosse ela seu produto top de linha na vitrine das negociações comerciais disponíveis. Em outras gestões, a venda dos direitos de transmissão das partidas da seleção em torneios oficiais, a programação anual de amistosos, e a negociação de patrocínios vinculados ao escrete nacional passou a ser o grande filão econômico da entidade.

Nesse período, em que muita gente enriqueceu à margem do processo, a entidade ignorou sua atuação como gestora dos campeonatos nacionais, formação das categorias de base, apoio financeiro aos clubes e desenvolvimento de políticas em favor de avanços em questões estruturais do esporte.

Como a arbitragem, formação de profissionais da área esportiva, do marketing, da gestão de pessoas, da comunicação… Enfim, a CBF se bastava em comercializar a seleção brasileira pelo mundo afora.

Aclamado por todos

Ainda que esse viés mercantil não tenha sido erradicado, a entidade enfrenta os outros desafios. Mas segue devendo eficiência em muitas das questões estruturais do esporte no país. Coisas reclamadas diariamente pelos dirigentes de clubes e federações – gente que, estranhamente, não fez a mínima objeção à vitória por aclamação de Ednaldo.

Ou é falta de argumento ou é conveniência. Seja lá como for, qualquer queixa futura deverá ser relativizada diante dessa opção pelo continuísmo.

Ronaldo tentou participar das eleições na CBF, mas seu projeto não foi sequer ouvido pelas Federações / Instagram

De modo geral, os cartolas brasileiros são muito corajosos e valentes quando se sentem prejudicados dentro de campo por alguma decisão da arbitragem, por exemplo. Promovem debates acirrados nas redes sociais, prometem medidas drásticas, ameaçam boicotes, mas no fundo tudo isso é jogo de cena.

Proposta de Ronaldo morreu na praia

Quase todos eles cumprem o mesmo papel dado a personagens que não falam por si. No popular, jogam para a torcida, para não passarem a imagem de fraqueza.

Nesta eleição até se esboçou um movimento de oposição ao status quo que vem predominando na CBF há mais de 30 anos. A candidatura de Ronaldo Fenômeno, no entanto, não teve a força de seduzir nenhum desses poucos integrantes do colégio eleitoral dominado pelo presidente de ocasião.

Nada garantiria que Ronaldo pudesse fazer algo diferente de fato, mas os dirigentes brasileiros não quiseram nem sequer discutir a possibilidade de mudança. Todos acharam melhor seguir como está. E assim será para os próximos quatro – talvez oito – anos. Depois não adianta reclamar…

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