Dá para entender por que a possibilidade de o Corinthians contratar Tite para substituir Ramón Díaz deixa a torcida dividida. Afinal, se o treinador é identificado com o período mais glorioso do clube nos últimos 50 anos, ele também é considerado ingrato por ter recusado convites para voltar ao time em duas oportunidades recentes. Como o futebol, na visão do torcedor, é feito de uma receita que mistura 10% de razão e 90% de passionalismo, essa dualidade de sentimentos se explica por si só.
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Tite, que um dia já foi ídolo da Fiel, também já teve seu momento de traidor do bando de loucos. E isso, claro, pesa num momento de decisão tão importante para o Corinthians, que não pode errar mais uma vez nas suas escolhas.

Quando tudo parecia caminhar para um acerto com Dorival Júnior, que estava no mercado à espera de um novo trabalho depois de sua passagem irrelevante pela seleção brasileira, eis que a bússola corintiana apontou na direção de Tite com mais força depois das primeiras investidas dos dirigentes corintianos no mercado.
Mundial de 2012 com Tite
Inegável que Tite tem muito mais a ver com a história do Corinthians do que Dorival. Foi com ele que o Timão ganhou sua única Libertadores, de maneira invicta. Na sequência, conquistou o Mundial de Clubes da Fifa no Japão, diante do Chelsea – título que ganha redobrada importância justamente pelo fato de ter sido o último conquistado por um clube sul-americano na disputa com os europeus. Isso foi em 2012.
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Como consequência dessa trajetória vitoriosa, Tite ganhou projeção e só saiu do clube para dirigir a seleção em duas Copas do Mundo. Quando deixou para trás seus laços profissionais com a CBF, rejeitou o Corinthians para treinar o Flamengo. E, convenhamos, não pode ser condenado por isso. Profissionalmente, analisando de forma racional, fez a escolha que melhor convinha para seu momento da carreira.
Flamengo era a melhor opção
Naquela ocasião, o time carioca era uma opção de mercado muito melhor, com um elenco de primeira linha e muitas possibilidades de conquistas no horizonte. Já o Corinthians vivia uma de suas piores fases, com um elenco muito debilitado, envolvido em crises dentro e fora de campo, sem dinheiro e sem perspectivas.
No entanto, para a torcida, Tite não tinha o direito de rejeitar o Timão. E esse sentimento ficou marcado no coração. Talvez agora, diante da possibilidade de se reescrever uma história de sucesso, haja espaço para um perdão e para uma reconsideração ao treinador. E um reatamento dos nós.

É inegável, pois, que Tite surja como candidato natural à vaga. Ele tem total ligação com o clube e se apresenta com o perfil ideal para ser o comandante no cenário atual. Bom gestor de grupo, Tite ressurge como o homem certo na hora certa para controlar o grupo, sem deixar que a vaidade, o ego e interesses pessoais deste ou daquele atleta falem mais alto. O treinador tem tamanho e autoridade para exercer o papel de líder do elenco, coisa que faltou a Ramón, sempre transferindo responsabilidades para o filho.
Tite é o cara certo
Para além disso, dentro de campo, Tite também parece a pessoa mais indicada para dar o equilíbrio tático que tem faltado à equipe há muitos anos. Hoje, o Corinthians tem uma ótima performance do meio pra a frente e um péssimo rendimento na parte defensiva, o que provoca uma instabilidade tão evidente quanto preocupante.
Tite é um treinador que sempre priorizou a marcação, a proteção dos zagueiros, o controle de bola, a saída de jogo sem riscos, tudo o que tem faltado ao Timão. Com pouco tempo de trabalho e paciência, ele pode corrigir esses defeitos. Se conseguir e fizer o time vencedor, seguramente voltará aos braços do povo e deixará para trás qualquer sinal de ingratidão. Sem ressentimentos, como ocorre nos casos de amor puro e verdadeiro.
O romance está no ar, perto do último capítulo. Uma velha canção de Lupicínio Rodrigues cai bem no momento como a trilha sonora para embalar esse caso de amor mal resolvido.
A letra diz assim:
Volta, vem viver outra vez ao meu lado/
Não consigo dormir sem teu braço/
Pois meu corpo está acostumado…