Palmeiras e Corinthians começam a decidir o Campeonato Paulista de 2025 no próximo domingo, às 18h30, no Allianz Parque com uma certeza: a arbitragem, como sempre, estará sob suspeição de ambos os lados. Qualquer erro de apito será usado como arma de acusação para quem perder e passará batido para aquele que vencer.
Cumprindo um ritual bastante conhecido do futebol brasileiro, a avaliação do trabalho dos árbitros depende do interesse de cada um.
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O muro das lamentações esteve presente em quase todo o campeonato deste ano, e ganhou força nos jogos nas fases de mata-matas. Nas quartas de final, o Novorizontino se sentiu roubado diante do São Paulo. Na segunda-feira, na semifinal, a vítima foi o São Paulo, que acusou a arbitragem de assalto em favor do Palmeiras.

Na outra semifinal, o santista Gil botou a boca no trombone ao fim do duelo com o Corinthians para denunciar favorecimento ao adversário pela expulsão do zagueiro Zé Ivaldo, após um carrinho criminoso em cima de Yuri Alberto, num lance que, na sua visão, foi idêntico ao carrinho de Carrillo no atacante do Mirassol, dias atrás, ignorado pela arbitragem. Dois pesos e duas medidas, com certeza.
Cada um só olha para o seu time
O problema é que é sempre assim. As reclamações, muitas em tom de denúncia de existência de esquemas e manipulações de resultados, nunca comprovados, cumprem um roteiro já conhecido. Só são expostas publicamente quando um erro de arbitragem (e são muitos os erros de arbitragem no futebol brasileiro, mesmo depois da era do VAR) prejudica seu próprio time. Quando a falha o favorece, há um silêncio tácito.
Ao final do clássico do Allianz, o presidente do São Paulo disse que seu time foi prejudicado no lance do pênalti que decidiu a partida e questionou a presença do VAR.
Seria muito bom para o futebol brasileiro que Julio Casares demonstrasse a mesma indignação e erguesse o mesmo dedo acusatório contra a arbitragem quando o seu time também fosse beneficiado por um erro de arbitragem. Há uma coleção deles no passado recente, basta procurar nos arquivos.
Da mesma forma, seria importante que o técnico Abel Ferreira demonstrasse a mesma serenidade ao analisar o lance do pênalti marcado a favor do Palmeiras, caso a jogada tivesse ocorrido contra ele. Não foram poucas as vezes em que Abel vociferou contra a arbitragem e viu fantasmas em muitas das derrotas de sua equipe.

Não há santos nessa guerra. Enquanto os atores do futebol não se unirem em favor da lisura do jogo, da melhora técnica do nível das arbitragens, da criação de um padrão de atuação dos árbitros, da adoção de um sistema de profissionalização dos apitadores, talvez pago pelo dinheiro dos próprios clubes, vai ser difícil chegar a um lugar onde impere apenas o bom senso, a justiça e o desejo de campeões acima de qualquer suspeita.
A arbitragem no Brasil é péssima
Infelizmente, o nível da arbitragem no Brasil é péssimo. Há muito tempo. A chegada do VAR, que parecia a panaceia de todos os nossos males, só botou mais luz nas deficiências do apito.
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A tecnologia serviu para amplificar a certeza de que há falta de padronização de critérios mínimos para lances que se repetem em todos os jogos. O que é bola na mão hoje será mão na bola amanhã, e segue o jogo. O que é falta hoje será simulação amanhã.
Para todas as incongruências haverá sempre a muleta da interpretação, que dá ao árbitro de campo e à equipe do VAR o poder de decidirem determinados lances capitais do jogo de acordo com suas convicções pessoais, acima do que prevê a regra e do que dizem as imagens.
Só no Brasil o VAR consegue brigar com a imagem e produzir decisões absurdas diante dos olhos de todo mundo.

O suposto pênalti de Arboleda em cima de Vitor Roque é o recorte do dia. O lance se enquadra nessa maldita questão da livre e pessoal interpretação das jogadas, o que confere ao árbitro um poder questionável.
De acordo com os áudios divulgados nesta terça-feira, tanto o juiz de campo quanto o do VAR entenderam que a perna esquerda de Arboleda impediu a progressão de Vitor Roque. Nenhum deles, no entanto, questionou o fato de o atacante do Palmeiras se jogar para frente tão logo percebeu que haveria o contato dentro da área.
Os erros não vão acabar
Assim, os juízes marcaram pênalti, convencidos da infração. Como poderiam ter optado por não marcar a falta e ainda ter dado o cartão amarelo para Vitor Roque por simulação.
Há pouco mais de um mês, Yuri Alberto recebeu o segundo amarelo e foi expulso justamente num lance parecido, em que ele perdeu a disputa de bola com um zagueiro do Palmeiras e se atirou dentro da área, num ato teatral bem menos elaborado do que o de Vitor Roque.
É disso então que se trata. Erros sempre existirão, porque o ser humano é falível, e não vão acabar. O impacto que as falhas de arbitragem provocam pode ser melhor administrado. Mas elas só serão minimizadas quando todos se convencerem de que é preciso botar o dedo na ferida também quando seu time é favorecido.
Então, é preciso ter essa grandeza para poder contribuir com uma melhora efetiva de todo o sistema. Caso contrário, passaremos semana após semana chorando pelos erros cometidos contra o nosso time do coração e achando normal quando o erro nos favorece.
Se não acabar essa hipocrisia, pouco conseguiremos evoluir para uma arbitragem mais confiável. Seguindo assim, na base do casuísmo, o árbitro estará sempre sob suspeita. E os resultados de campo sempre estarão manchados por decisões que não cheiram bem.