POR NELSON NUNES
Quantas pessoas no mundo você conhece que, em nome de uma ideia de ser feliz, aceitariam trocar de emprego com uma redução de salário drástica, algo em torno de 98% a menos? Essa é mais ou menos a conta que está por trás da operação que marcou a volta de Neymar ao Santos, depois de 12 anos.
Em números estimados, o craque ganhava algo em torno de 6,6 milhões de euros por mês (cerca de R$ 40 milhões) e passará a receber “apenas” 160 mil euros (R$ 970 mil) por mês no clube brasileiro. Tudo bem que se deve levar em conta que Neymar não precisa mais de dinheiro para viver bem até o fim da vida – nem ele nem os representantes da terceira geração de sua família.
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Afinal, calcula-se que, como prêmio por sua carreira vitoriosa no Brasil e lá fora, Neymar acumulou, merecidamente, um patrimônio de US$ 1 bilhão, de acordo com estimativa do site Sportico, especializado em transações esportivas.
Está claro, pois, que não é dinheiro que explica o movimento feito por Neymar. Sua volta às origens, no clube que o revelou, tem mais sentimento do que razão, mais amor do que lógica, mais desejos do que um mero exercício de gestão financeira.
Chance de voltar a ser o que era
Mesmo assim, Neymar pode lucrar com essa operação. Por mais paradoxal que seja uma conta em que o craque abre mão de uma pequena fortuna acumulada mês a mês, o preço de ser feliz é a riqueza que o dinheiro não compra. E, neste momento da vida e da carreira de jogador profissional, ser feliz é o sopro que dará a Neymar a chance de voltar a ser o que dele ainda se espera como craque.
Se passasse mais tempo só contando euros na Arábia, Neymar certamente estaria caminhando para um fim de carreira longe dos holofotes, dos gols, da glórias e do seu passado de jogador diferenciado, ídolo nacional, talvez a última esperança de uma seleção brasileira que hoje não tem nenhum crédito para ser colocada no caminho do hexacampeonato mundial.
Não sejamos hipócritas: se com Neymar já é difícil, sem ele parece impossível sonhar com um título mundial.
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É nesse processo, que mistura esperança e fé, que Neymar se apoia para dar sobrevida à carreira, marcada nos últimos anos por uma triste sucessão de lesões, exageros fora de campo, descuidos com a forma física e até um aparente desinteresse em ser o que ele de fato é.
Neymar estava caminhando para ser uma sombra do que ele foi. A Vila é um farol que pode guiá-lo de novo a um porto seguro.
Levadas em contas todas essas premissas, é possível identificar no horizonte pelo menos dez bons motivos para acreditar que Neymar tenha feito a escolha certa quando decidiu trocar cifrões por esta viagem de volta ao passado, em cuja mala ele só leva um par de chuteiras e o coração.
1 – Protagonismo
Não há a menor dúvida de que, no Santos, Neymar receberá tratamento de estrela, quase elevado à condição de novo Pelé – em que pese todo o mal que essa comparação já fez a outros craques que pareciam despontar no caminho do Rei. Ainda assim, na Vila Neymar será o centro das atenções. E, em campo, pelo nível de seu futebol, ganhará de novo o protagonismo que perdera desde que sua carreira embicou para baixo na Europa/Arábia.
2 – Visibilidade
Vamos combinar que o futebol da Arábia Saudita é bom para ganhar dinheiro, mas muito ruim para colocar jogadores na vitrine. Aqui, podendo disputar um bom campeonato brasileiro, Neymar poderá voltar a estar na prateleira de cima.
3 – Seleção
Como uma coisa leva a outra, é meio óbvio imaginar que retomando o ritmo de jogos, superando os efeitos das lesões recentes, e se destacando num campeonato equilibrado como é o Brasileirão, Neymar passará a ser bola cantada nas próximas convocações de Dorival Júnior. Daí à próxima Copa do Mundo é um caminho que precisará ser percorrido passo a passo, sem pressa.
4 – Apoio popular
Voltando a jogar no Brasil, Neymar pode se reconectar com a torcida brasileira, da qual ele parecia distante desde que passou a ser destaque no noticiário mais pelo que fazia fora do que dentro de campo. Aqui, concentrado, disposto a praticamente recomeçar, Neymar pode recuperar o carinho e o afeto dos brasileiros, que, de forma geral, ainda estão contaminados por aquela imagem do jogador cai-cai da última Copa.
5 – Exemplo
Neymar já deve ter percebido que precisa se afastar daquele estigma de ‘menino Ney’, que era positiva no passado e hoje tem um significado ruim, ligado à figura de um homem que não cresceu. Aos 33 anos é hora de Neymar se posicionar como um cara maduro, um profissional responsável, um exemplo para a geração de novos jogadores formados na base do Santos e de qualquer outro clube brasileiro. Neymar ainda pode servir de inspiração para os jovens jogadores das escolinhas, ajudando a desenvolver novos talentos e fortalecendo a base do futebol nacional.
6 – Imagem
A volta de Neymar pode contribuir também para a melhora da imagem do futebol brasileiro lá fora, reforçando uma tendência atual de que aqui ainda é um mercado viável para jogadores de alto nível. Neymar está no mesmo barco de jogadores como Depay, Oscar, Danilo, Felipe Anderson e tantos outros que estão assumindo o risco de trocar o mercado internacional para viver a experiência de jogar no País do Futebol.
7 – Investimentos
Neymar pode compensar as perdas salariais com a atração de novos investidores para o Santos, tornando-se quase um parceiro comercial do clube, como já ocorreu no passado com Ronaldo no Corinthians. Neymar atrai marcas que nenhum outro jogador atrairia. É preciso saber explorar isso com planos de trabalho com visão profissional, reunindo gente especializada em marketing, finanças e investimentos.
8 – Família
A volta para casa faz Neymar ficar mais próximo dos pais, dos filhos, da atual mulher, das ex-mulheres, dos amigos e dos parças. Esse ambiente familiar pode dar a Neymar a condição de acolhida que ele não tinha, e dela sentia falta, lá na Arábia. Neymar dá valor às relações pessoais, gosta de viver rodeado de amigos, de pessoas de sua confiança, de gente que o protege. Isso certamente influencia em seu rendimento como atleta.
9 – Projetos sociais
Neymar pode cuidar mais de perto dos projetos sociais ligados a seu nome, especialmente ao Instituto Projeto Neymar Jr, na Praia Grande, que transforma a vida de centenas de famílias carentes, ampliando as oportunidades de crianças, adolescentes e suas famílias que vivem em situação de vulnerabilidade social por meio da educação, cultura, esporte e saúde.
10 – Legado
Cumprir esse estágio em sua carreira, já bem perto do fim, certamente contribuirá para o legado que a passagem de Neymar pelo futebol brasileiro há de deixar. O menino pobre que venceu na vida, que trilhou os passos do rei Pelé, ainda pode fazer muito dentro e fora de campo para provar que ele veio ao mundo da bola como um cidadão predestinado. Sair de cena em alta só depende dele.