Se Dorival Júnior me permitir, gostaria de discordar dele em relação aos seus argumentos sobre a não escalação de Endrick como titular da seleção brasileira nesta quarta-feira, contra os Estados Unidos, em amistoso internacional antes da Copa América. O jogo será em Orlando, na Flórida, com capacidade para 65 mil pessoas. Foi palco de cinco partidas na Copa de 1994, quando o Brasil foi tetracampeão. O treinador, confesso, tem todo o meu apoio e respeito. Está onde deveria estar. Gosto do seu trabalho e da forma como vê o futebol, sem tanto deslumbramento e glamour. Dorival é do tipo arroz com feijão. E cá entre nós, que torcedor não se rende ao bom prato brasileiro?

Temos de ter um pouco de cuidado com o Endrick. Eu sempre usei as categorias de base, sempre valorizei demais, e sempre tive muito cuidado. Ao mesmo tempo que possamos nos apressar em alguma situação, talvez não tenhamos uma volta e um erro pode ser fatal..Peço só um pouco de paciência a todos. Ele vem de uma evolução muito boa. Acompanhei o quanto ele foi decisivo no campeonato anterior pelo Palmeiras, em momento algum deixamos de avaliar e por isso peço um pouco de paciência e tranquilidade com esse garoto para que as coisas aconteçam de maneira natural. Ele pode ser muito útil para a seleção desde que tenhamos paciência. Não é só colocar lá e deixar que resolva a situação. Está finalizando uma formação e precisa de tempo. Lógico que sei das qualidades e capacidades. DORIVAL

Mas penso que ele deve olhar para o atacante do Real Madrid de forma diferente. Endrick não é mais um garoto da base em formação. É um jogador descobrindo o que pode fazer em campo em jogos cada vez mais importantes e pesados, com camisas da mesma forma históricas e de tradição. Foi assim no Palmeiras sob o comando de Abel Ferreira e já foi assim também com o próprio Dorival nos bons amistosos diante de Inglaterra e Espanha, quando o Brasil tinha de dar uma resposta após a saída de Fernando Diniz e a recusa de Carlo Ancelotti de assumir o posto.

Dorival define seleção brasileira sem Endrick para amistoso contra os Estados Unidos / CBF

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E será da mesma forma quando ele se juntar aos craques do Real Madrid sob a batuta do mesmo Ancelotti. Endrick está pronto para ser o centroavante da seleção brasileira e o que mais o destino lhe reserva. Esse é o ponto. Ele não deve ser mais do que isso no Brasil, e, talvez, Dorival esteja evitando colocar um caminhão nas costas do garoto por entender que essa cobrança e ansiedade do torcedor em sua escalação sejam mais do que isso. Endrick é um centroavante tentando ser um centroavante.

Endrick precisa de mais tempo em campo

Endrick não é Pelé nem nunca será. Endrick está muitos degraus abaixo de Ronaldo, e talvez também nunca consiga tudo que o Fenômeno conquistou. Mesmo assim, Endrick é um atacante pronto e o melhor camisa 9 de todos que já estão na seleção nos EUA. Dorival pede paciência com Endrick. Esse discurso ficou para trás. Eu peço mais tempo dele em campo.

Endrick tem de saber o que é ser titular do Brasil. E nada melhor do que sentir isso em um amistoso fora de casa. Sem ele na partida desta quarta contra os Estados Unidos, a seleção não terá um jogador de área. Raphinha, Rodrygo e Vinícius Júnior não são atacantes de área. Jogam pelas pontas e pelo meio. Se Endrick não está pronto, ele não deveria ter sido convocado. Esse é outro ponto para Dorival refletir.

Seleção brasileira treina nos EUA para amistoso contra os donos da casa antes da Copa América / CBF

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Essa história de amadurecer jovens no grupo nacional sempre achei uma furada, principalmente porque esses garotos crescem cada vez mais rápidos em seus respectivos times ou depois que chegam na Europa. Não precisa mais disso. Talvez tenha funcionado com Ronaldo lá na Copa do Mundo de 1994, quando o futebol era outro. Vamos conferir na Eurocopa, por exemplo, muitas seleções com “moleques” em campo. A Espanha vem dessa forma. E a Itália também.

No caso de Endrick, ele vem demonstrando maturidade e desempenho. Tem de ser tratado como jogador pronto. Ficaria calado se Dorival dissesse que Endrick treinou mal e por isso não será titular. Raphinha foi melhor do que ele e ganhou a vaga. Perfeito. Ou ainda que ele prefere outro jeito de jogar, sem um 9 de ofício. Tudo bem também. Mas já está na hora de tratar Endrick diferente. Ele foi titular do Palmeiras, um dos melhores times do futebol brasileiro da atualidade.

Dorival tem ótimas opções para o ataque do Brasil

O que acontece na seleção brasileira do meio para frente é o mesmo que ocorre no Real Madrid. O treinador do time espanhol e do Brasil terão de fazer escolhas. Isso tem de ficar claro para o torcedor. São escolhas. Certas ou erradas, elas pertencem aos técnicos.

Dorival tem o direito de achar que a seleção funciona melhor sem Endrick nesse momento, ele pode ainda se valer de jogadores mais experientes para dar mais peso ao time na Copa América, mas defendo que ele deva começar a tratar Endrick com olhar diferente daquele que todos nós já tivemos: um menino da base cheio de sonhos e uma promessa para o futebol. Endrick continua tendo sonhos, mas ele não é mais uma promessa. Endrick é uma realidade.

 

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