Chegou a hora de dois jogadores na seleção brasileira, um já pronto e outro buscando seu espaço. Refiro-me a Vini Jr. e Endrick. Ambos são do Real Madrid, mas de formações diferentes no Brasil. Vini cresceu e vestiu a camisa do Flamengo antes de ser negociado com o clube espanhol. Endrick é cria da base do Palmeiras, que tem dado o que falar nos últimos anos com tantos talentos forjados na Academia de Guarulhos.
São jóias raras num futebol que ainda sustenta vícios do passado e tem dificuldades para avançar em alguns setores, como a criação de uma liga, o uso do VAR, o comportamento das torcidas e até a insuportável reclamação dos atletas com a arbitragem. Vini e Endrick são frutos de trabalhos da base desses dois clubes brasileiros, mas também de muita dedicação, empenho, vontade de crescer e dar certo, ajuda na carreira e boas orientações. Vini ainda sofreu o que nenhum outro jogador sentiu com atos racistas na Espanha.
LEIA OUTRAS COLUNAS DE ROBSON MORELLI
Ambos estão nas mãos de Dorival Júnior agora. O treinador está há mais de 22 dias nos Estados Unidos preparando a seleção para a Copa América. Tem tudo para fazer uma boa participação porque convocou ótimos jogadores e alguns duvidosos. O que sempre digo é que o problema do Brasil nunca foi a falta de bons jogadores, mas de um sistema de jogo capaz de mudar o patamar da equipe, de um jogo coletivo e posicional em detrimento da eterna aposta em jogadores e suas jogadas individuais capazes de ganhar partidas. Não é abrir mão disso, mas não podemos só apostar no talento.
A seleção brasileira também sempre precisou de um treinador que não passasse a mão na cabeça dos jogadores, que tratasse a todos da mesma forma e que reconhecesse o talento de cada um, sem facilidades, lugares cativos ou serviços prestados. Refiro-me a Neymar. Tite bajulou demais o atacante nas duas últimas Copas, embora não admita, e deu poucas responsabilidades coletivas a ele. Os companheiros adoram Neymar, mas o futebol sempre foi assim. Todos eles são amigos. E devem ser sempre. Todos sabem do que estou falando. A impressão que o torcedor tem dos últimos anos é que a seleção sempre foi um lugar para os atletas ‘descansarem’ de seus respectivos clubes, onde são cobrados, de fato, com possibilidade de ir para o banco de reservas se não entregarem.
SIGA ROBSON MORELLI NO FACEBOOK
Dorival começou bem, com bons resultados, sem perder em quatro jogos contra rivais de peso, como Espanha e Inglaterra, e agora teve um tempo maior para desenvolver suas ideias no elenco. Neymar não está no grupo. Por ora, o trabalho é sério, tem a cara do lateral e zagueiro Danilo, um dos jogadores mais veteranos do time e que traz seriedade em suas declarações.
Mas é para esses dois garotos, Vini e Endrick, que os brasileiros se dobram nesse momento. Vini tem na Copa América a cereja de uma temporada fantástica com a camisa do Real Madrid tanto na LaLiga quanto na Champions League, com duas conquistas. Não precisa, mas seria bom. É nele que as câmeras de TV vão focar. Seus passos serão acompanhados pelas imagens desde o aquecimento até os 90 minutos, como foi com Messi. O Brasil estreia na segunda-feira, contra a Costa Rica. Vini é titular.
Endrick, por ora, é reserva
Endrick é reserva por opção do técnico. Raphinha e Rodrygo fazem companhia para Vini no ataque. Endrick terá de esperar sua vez. Faz parte da carreira de um jogador com 17 anos e recém-surgido no cenário nacional. O que cobro é mais coragem de Dorival para seguir seus sentimentos e não temer escalar Endrick como gente grande. O atacante não pode mais ser olhado como um menino em formação. Se fosse assim, nem deveria estar na Copa América.
Dorival disse em suas entrevistas que era preciso ter “paciência” com Endrick para não atrapalhar seu crescimento. Que nada! Endrick é atacante pronto, que melhora a cada partida porque descobre o que pode fazer no futebol de gente grande. Basta olhar para a Espanha e tomar lições. Lamine Yamal tem 16 anos e é o mais novo a disputar uma Eurocopa. Está jogando muito. Há outros novinhos no time espanhol, que atropelou a Itália nesta semana, apesar do resultado magro de 1 a 0.
Não fui campeão ainda, não tenho nenhum título pela seleção brasileira, espero que seja agora. VINI JR.
O Brasil ainda não está definido. Dorival tem mais alguns dias para escolher seus 11. E tudo bem se não escalar Endrick para a estreia. Ele tem de acreditar em suas convicções. Se isso acontecer, ainda aposto com quem quiser que Endrick acaba a Copa América como titular da seleção. E vai ser o camisa 9 do Brasil na retomada das Eliminatórias.
Dorival começou bem
Dorival passou bem pelas primeiras etapas do seu trabalho. Fez convocações sóbrias, teve bons resultados, mostrou um pouco mais de intensidade no time, mas ainda tem muito o que fazer. Nem preciso dizer que a seleção estava na estaca zero depois das terríveis passagens de Ramón e Fernando Diniz no cargo. A CBF errou e corrigiu o erro, depois de sonhar com Ancelotti. Dorival é pés no chão. O Brasil precisa disso.
A Copa América é mais uma etapa. Se ganhar, seria ótimo. O mais importante, no entanto, é sair dela com uma cara, uma maneira minimamente de jogar, com alguns setores mais bem definidos, com um pouco mais de jogo coletivo e jogadas ensaiadas. Dorival tem de correr contra o tempo por causa das lambanças de seus antecessores. É preciso chegar nas Eliminatórias com mais pegada. O Brasil é sexto na tabela. Classificando, seu trabalho será cobrado, de fato, na Copa do Mundo de 2026.
[…] torcedor brasileiro tem o direito de cobrar mais desempenho da seleção brasileira, mesmo o torcedor mais moderado e de ocasião que corre os Estados Unidos atrás do time nacional […]
Comentários estão fechados.