Ouvi algumas pessoas para entender melhor essa história de a torcida do Corinthians arrecadar dinheiro para ajudar a pagar o estádio em Itaquera. São R$ 720 milhões. Não é uma vaquinha qualquer. Desde a inauguração da arena na Copa do Mundo de 2014, o clube já pagou R$ 200 milhões. Nesta segunda-feira, 2 de setembro, a torcida deu um passo a mais nesse sentido. Fez isso um dia depois dos 114 anos do clube.

Para fechar esse dia tão especial à Fiel Torcida, gostaríamos de compartilhar com vocês que tivemos a aprovação do Corinthians para seguirmos com o projeto de quitação da Neo Química Arena. Agora, o clube oficializará com a Caixa Econômica Federal (CEF) o projeto de quitação para que o banco possa providenciar a conta PIX que será utilizada durante a campanha e que tenhamos as informações necessárias para conduzir o projeto de forma transparente e estruturada.
GAVIÕES DA FIEL

Atualmente, o Corinthians só paga os juros para impedir que a bola de neve cresça assustadoramente. Tem quatro parcelas por ano. Paga cerca de R$ 80 milhões. A última parcela atrasou. O presidente Augusto Melo fala pouco da dívida da arena, mas tem conversado com a torcida sobre o seu projeto.

Há alguns meses, num café, um amigo me perguntou como a torcida do Corinthians poderia ajudar o clube a arrecadar dinheiro para pagar parte da sua dívida geral de R$ 2 bilhões. Disse a ele que a única situação era por meio de doações. Estima-se que a torcida corintiana seja de 30 milhões de pessoas.

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Se cada corintiano doar R$ 1 por mês, são R$ 30 milhões. Essa é a conta da torcida. Não há mágica nem matemática mirabolante. O torcedor já ajuda em muitas coisas. Lota a arena em Itaquera nos jogos. Faz renda de R$ 3 milhões, em média. Ajuda comprando camisas e apetrechos do clube.

Representantes da Gaviões da Fiel se encontraram com diretores da Caixa Econômica Federal / Divulgação Gaviões da Fiel

Mas nada se compara ao que a torcida organizada Gaviões da Fiel quer fazer. Seria um movimento inédito. Nunca houve nada parecido. Os líderes da torcida estiveram com dirigentes da Caixa Econômica Federal para falar e ouvir sobre a dívida do Corinthians com o banco na construção do estádio. Estão empenhados. Agora, ganharam aval do clube para seguir com a ideia da “vaquinha”.

A ideia é fazer uma vaquinha virtual. Estamos tentando chegar no responsável da Caixa, porque nossa ideia é que o dinheiro não vai passar pela torcida nem pelo clube, vai direto para o pagamento do financiamento. Estamos no caminho certo, vai dar tudo certo. A torcida do Corinthians vai fazer história mais uma vez.
Rodrigo Gonzalez Tapia, presidente da torcida ao ge.

A intenção não é brincadeira nem devaneio de torcedor apaixonado, respondendo ao corintiano. O movimento é independente e sério. Isso quer dizer que não tem nada a ver com o clube. O que me explicaram é que nada é feito em parceria com a gestão do presidente Augusto Melo. Se der certo, o que vai entrar para a história é que a torcida corintiana pagou o estádio.

Mas não é tão simples assim. É necessária a aprovação do Corinthians. Contratos precisarão ser feitos, lidos e assinados, de modo a não dar nenhum direito aos torcedores depois da arena paga, nem no próprio estádio nem na gestão do clube nesta gestão ou no futuro. Não se paga um estádio sem o “aceito” do clube, mesmo sabendo que o Corinthians não tem dinheiro para isso e enrola o pagamento há dez anos, esperando por um desses perdões do credor federal. O aval foi dado.

Estádio do Corinthians, em Itaquera, tem recebido ótimo público nas partidas do time / Agência Corinthians

O que pega é a confiança de que o dinheiro será, de fato, empregado ao que ele se propõe, que nada será desviado, se haverá auditoria em tempo real, mensal, com divulgação de todos que estão fazendo as doações etc, etc, etc… No projeto original, nenhum real passaria pelas contas do Corinthians. Será uma transferência direta da torcida para a Caixa.

O Corinthians tem de pagar os juros

Nesta conta, ainda imaginária, de que todo corintiano vai ajudar com R$ 1, em um ano é possível pagar metade dos R$ 720 milhões. O Corinthians continuaria pagando os juros e outras dívidas do clube e, claro, reforçando o time com jogadores melhores.

Para fazer uma arrecadação durante 12 meses é preciso muita organização. Não pode começar e depois parar. Isso deixaria os envolvidos desmoralizados. Se o dinheiro sumir, vira caso de polícia. A Caixa não pode correr risco de negociar com instituições ilícitas ou algo do tipo. Há, portanto, muitos detalhes administrativos a serem seguidos.

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O desafio maior é movimentar os corintianos. Não estamos falando dos 40 mil que vão ao estádio. Para chegar às cifras devedoras, é preciso mexer com os 30 milhões de corintianos, de norte a sul do Brasil. Dos dez que estão mais próximos de mim, amigos e familiares, quatro topariam ajudar. Portanto, menos da metade.

Uma percepção dos envolvidos é que o movimento pode ganhar adeptos se for bem explicado e estiver dando certo. E se cada um doar R$ 5? Por ora, tudo ainda é embrionário.