Ainda sobre os casos de estupro envolvendo dois jogadores brasileiros, Robinho e Daniel Alves, é preciso destacar a coragem da presidente do Palmeiras, Leila Pereira, que chefia a delegação brasileira na Inglaterra, para o amistoso deste sábado, dia 23, em Londres, contra o time inglês. Ela se antecipou a todos, pegou o microfone e se manifestou entre jogadores, comissão técnica e dirigentes, todos homens, sobre os episódios. Ótimo que a CBF se permita a ter ambientes e manifestações desse tipo livremente dentro de sua concentração. Também conhecendo Leila, seu perfil, ela não se permitiria ficar calada sobre tema tão espinho e diretamente ligado a uma de suas bandeiras, tampouco se envolver em cenários que pedissem o seu silêncio.

Ela foi gigante nesse sentido. Ela disse: “Ninguém fala nada, mas eu, como mulher aqui na chefia da delegação (brasileira), tenho de me posicionar sobre os casos do Robinho e Daniel Alves. Isso é um tapa na cara de todas nós, mulheres, especialmente o caso do Daniel Alves, que pagou (ainda não) pela liberdade. Acho importante eu me posicionar. Cada caso de impunidade é a semente do crime seguinte”, disse a presidente ao site Uol.

Leila Pereira, presidente do Palmeiras / Agência Palmeiras

Coincidiu de a prisão de Robinho em Santos ter acontecido quando a seleção brasileira estava reunida para um amistoso na Europa, primeiramente contra a Inglaterra e depois diante da Espanha. Coincidiu também que a chefe da delegação escolhida desta vez foi uma mulher, que, como todos sabem, não leva desaforo para casa. Ela fez o que os dirigentes homens não fizeram, nem no Brasil nem nos clubes do País. O que também não se ouviu dos jogadores e da comunidade esportiva de modo geral. A CBF promete se posicionar. Se isso acontecer, esse texto será atualizado. Danilo, lateral da seleção, comentou mesmo a contragosto da CBF. O mesmo aconteceu com Dorival Júnior.

Mas nos casos de Robinho e Daniel Alves o que houve foi um silêncio vergonhoso das pessoas do futebol. O assunto passou ao largo da turma da bola, como se nada tivesse acontecendo, como se os dois jogadores acusados, julgados e condenados não fizessem parte do futebol brasileiro, não tivessem vestido camisas importantes no Brasil e na Europa, além, claro, da seleção brasileira. Nada até então. Ninguém havia se manifestado e isso foi pontuado oportunamente pela presidente do Palmeiras. É preciso registrar isso.

Não sei como seu recado chegou aos ouvidos dos jogadores de Dorival Júnior e do presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues. Mas Leila disse o que seu coração de mulher pediu. E todos ouviram. É o primeiro passo para a conscientização de episódios criminosos como os de Daniel e Robinho no futebol. Esses garotos novos, os mais velhos, todos eles, precisam começar a ouvir isso cada vez mais.

Leila faz isso nas bases do Palmeiras, entre os atletas profissionais e para toda a sua comunidade no clube. É preciso dizer, no entanto, que os casos de Robinho e Daniel são isolados. Mas eles servem de exemplo (mal exemplo) para que não voltem a acontecer. “Não” é “não” e precisa continuar sendo “não”. “Sim” é “sim” e pode virar “não” e deve ser respeitado. Desse ponto de vista, o futebol brasileiro precisa ter mais “Leilas” e menos “Ednaldos”.
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