É preciso entender o que é esse Real Madrid e sua comunhão com a Champions League. Mas antes disso é preciso saber, como muitos já sabem, que o futebol é um jogo nem sempre justo. Digo isso porque o primeiro tempo da final foi muito mais do Borussia Dortmund do que do time espanhol. Mais do que isso: a torcida da equipe alemã fez uma festa maravilhosa, que podemos chamar de uma “grande onda amarela” pelas ruas de Londres até chegar ao lendário estádio de Wembley. Foi qualquer coisa de extraordinária, de modo a merecer todos os aplausos dos espanhóis após a derrota por 2 a 0 na decisão da maior competição de clubes do mundo.

Não foi um jogo fácil e teve sofrimento para o clube de Madri. Foi uma festa linda, digna da competição de clubes mais acompanhada do planeta, com os melhores jogadores e a mais bela organização. Tudo parecia no seu lugar. Nem mesmo a invasão ridícula de três torcedores nos minutos iniciais estragou a festa. Era, sem dúvida, o melhor lugar para se estar neste sábado.

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O Real Madrid sabe o que faz há anos, dentro e fora de campo, e a conquista é apenas uma consequência de tudo isso. De um clube cheio de dinheiro, que faz mais dinheiro e que anda nos trilhos. São 15 taças da Liga dos Campeões da Europa. 15. Nenhuma outra equipe chega perto desse número. E se o time de Madri já é forte o suficiente para ganhar a Champions e a Liga Espanhola na mesma temporada, os torcedores esperam com ansiedade pela chegada de Endrick e Mbappé. Endrick já está certo. O atacante francês vai anunciar na próxima semana seu destino depois de deixar o PSG. Essa renovação pontual faz do Real Madrid o que ele é.

Jogadores do Real Madrid, com o técnico Carlo Ancelotti, festejam a Champions League no Estádio de Wembley / Real Madrid

Há uma gestão no clube espanhol de dar inveja, com fair play financeiro, com contratações assertivas e reformulações do elenco sem deixar que o time perca sua competitividade, com a escolha de um treinador carismático, competente também e que é querido pelos atletas sem restrição, como é Carlo Ancelotti, com quem o Brasil sonhou por alguns meses com a esperança de vê-lo na seleção. Pena que não deu certo.

Um time de muitos brasileiros

É preciso ainda entender a importância dos brasileiros no Real Madrid, não somente do atual grupo que acaba de festejar a “orelhuda”, como a taça é chamada na Espanha, mas de uma legião que vestiu essa camisa com sucesso, categoria e respeito, como Ronaldo, Kaká, Roberto Carlos, Marcelo e tantos outros.

Quem brilha no time agora é Vinícius Júnior, Rodrygo e Militão. É preciso apontar o dedo para Vini Jr e respeitar a história desse brasileiro depois de tudo o que sofreu nas últimas temporadas, com o pior das ofensas e da degradação do homem, que é o preconceito de um igual. Vini sofreu racismo e não baixou a cabeça.

Vini Jr carrega Rodrygo depois de marcar o segundo gol do Real Madrid contra o Borussia Dortmund / Real Madrid

Eu mesmo cheguei a achar melhor sua saída da Espanha. Ficou e ganhou a Liga dos Campeões com um gol na grande final, dribles de todos os jeitos e boa atuação. “Eu estou aqui. Eu estou aqui”, foi o que o atacante conseguiu falar para o mundo após seu gol diante do Dortmund. Rodrygo foi mais tático nesta decisão. Militão entrou no fim para segurar o resultado.

Eu estou aqui! Eu estou aqui! VINÍCIUS JÚNIOR

O fato é que ninguém duvida do Real Madrid porque há muito talento e confiança em todas as suas partidas, mesmo não jogando tão bem algumas delas, como foi a primeira parte diante do bom Dortmund. Que time! Que pegada! Que disposição! Sua torcida já é conhecida. Que festa em Londres ela fez. Merece nosso respeito.

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Há ainda a despedida no Real Madrid de Toni Kroos, esse excelente meia alemão que marcou dois gols no Brasil naquela fatídica partida na Copa do Mundo de 2014, o 7 a 1 da Alemanha. Deveríamos detestar Kroos como detestamos por muito tempo Paolo Rossi, da Itália, na Copa do Mundo de 1982. Mas isso nem de longe aconteceu com esse bom jogador alemão. Aprendemos a reverenciar os bons jogadores. Isso é legal. Toni Kroos é um deles. Ele disputa a Eurocopa agora e encerra sua carreira. Não joga mais no Real Madrid.

Vini, o melhor do mundo?

Por fim, é difícil não apontar Vini Jr como um dos melhores do mundo nesta temporada. Pode até ser que não ganhe, mas tem de estar no pódio talvez com alguns de seus companheiros ou jogadores do Manchester City. Quem sabe! O que não dá é para ignorar a melhor temporada do jogador brasileiro na Europa. Há esperanças para ele e para os brasileiros. A última vez de um brasileiro como melhor do mundo foi Kaká, em 2007. De lá para cá, apenas Neymar chegou perto, mas nunca ganhou. Hoje, está bem longe dessa premiação ou de ser lembrado.