O futebol precisa de mais leveza. Por isso, entendo que é preciso olhar duas situações ocorridas nesta sexta-feira com mais naturalidade e menos rancor. A primeira delas é a saída de Cássio do Corinthians por decisão própria. O jogador estava desgastado com o clube e com a torcida muito antes de perder a posição para Carlos Miguel e começar a cantar o hino Nacional do banco. Também não suportava mais a condição de atleta mais visado e de ter de dar todas as explicações para tantas derrotas e confusões. Não conseguia dividir a tarefa com outros tão importantes quanto ele do elenco, como o lateral Fagner. Quem conseguiu, caiu fora antes, como Gil e Giuliano, ambos brilhando no Santos.

Para continuar sua carreira por mais três anos, no mínimo, Cássio precisava deixar o clube que defendeu e onde foi feliz por 12 anos. Mas aquele amor e satisfação acabaram muitos antes de ele informar sua saída para jogar no Cruzeiro. Cássio é ótimo, mas na bagunça em que se encontra o Corinthians neste momento, ninguém se deu conta da condição desgastante de seu melhor jogador e maior ídolo da última década. Faltou gestão com poder de decisão. Faltou um olhar mais atento para o elenco. Cássio cansou.

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Fez um vídeo agradecendo pelos anos que passou no clube e colocou um ponto final em sua história no Corinthians. Era para ser um casamento até o fim? Nunca se sabe. Ele fez o que todo trabalhador faria quando entende que não tem mais como espremer a laranja para tirar mais suco dela. Jogadores faziam isso o tempo todo, essa troca de clube e de Estado. Os clubes fazem isso o tempo todo. Por isso entendo que a mudança de Cássio deve ser encarada por todas as partes como algo natural da profissão. Ele sempre será lembrado pelos corintianos que goleiro que foi. E agora tentará fazer o mesmo no Cruzeiro, com o mesmo empenho e desempenho. Simples assim.

Cássio toma a decisão deixar o Corinthians depois de 12 anos no clube e mais de 700 partidas / Agência Corinthians

Da mesma forma, é preciso entender a movimentação de Gabigol com uma camisa do Corinthians em dia de folga. O jogador tem contrato com o Flamengo e deve ter cláusulas proibitivas de vestir outras marcas ou algo assim. Se há, de fato, no seu contrato determinação desse tipo, ele teria de tomar mais cuidado. Mas até aí ser punido pela direção do clube me parece algo pesado demais nos dias atuais.

Os próprios torcedores vestem camisas de outros clubes por aí, de outros Estados e países. Então por que um jogador não pode usar uma camisa de um time diferente? Isso só provoca mais ódio e rivalidade burra entres as bandeiras. Gabigol não deixará de ser profissional por usar uma camisa de outra equipe. E o torcedor do Flamengo não deve ficar bravo com ele por isso. Tem de cobrá-lo pelo que ele faz ou deixa de fazer dentro de campo e não fora dele, em dia de folga.

Gabigol usa camisa do Corinthians em dia de folga e recebe multa da diretoria do Flamengo / Agência Flamengo

Esse policiamento da vida do jogador está tornando o futebol doentio. Isso também afasta os jogadores de seus clubes e até do Brasil. Eles não saem somente por dinheiro. Eles vão embora por causa dessa cobrança sem sentido todas semana, dependendo das vitórias ou das derrotas. Essa relação precisa ser mais tranquila.

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Mas tudo parece tenso. Mesmo se Gabigol estiver testando uma reação do seu ato de olho em uma possível transferência, é direito dele. O Flamengo discute sua renovação há meses e nada avança. O jogador está se defendendo, abrindo portas, olhando o termômetro de suas movimentações. Tite prefere Pedro e ele sabe disso. E tudo bem. É do jogo. Repito: se ele não assinou nenhum compromisso que o impeça de vestir outras camisas, que para mim já seria um absurdo, tudo bem. O futebol está acelerado demais. É preciso respirar um pouco mais e tirar o pé dessa “pegação” chata e sem sentido em tempo integral.