Estêvão ainda não está pronto para ser o jogador que Abel Ferreira imagina. Ele é franzino demais dentro dos seus 17 anos e passará por um processo para ganhar massa muscular a fim de suportar os trancos de um jogo. Não vai ficar forte como Endrick, da mesma idade dele, 17 anos, mas carece de engrossar as pernas. O Palmeiras trabalha nesse sentido, sem fazer com que o garoto perca sua maior característica, o drible e a mudança de direção com a bola nos pés, além de sua velocidade.
Estêvão é ponta. Atua pela direita, mas como Abel gosta de trocar os lados e os pés dos atacantes, nada impede que ele atue na esquerda também. Como todo garoto cheio de vontade, a correria e a técnica são maiores do que o posicionamento. Abel ensina a parte tática para ele. Seu poder de fogo, de gol, ainda precisa desabrochar. Estêvão é um limpa trilho para tirar os marcadores da frente. Na Espanha, onde o futebol é mais solto e livre de marcação, ele arrebentaria.
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Seu desejo é jogar no Barcelona. Ele já disse que acompanha os jogos da equipe da Catalunha com especial interesse. Se a oferta chegar, suas pernas vão tremer. Para a sorte do Palmeiras, ou não, o clube anda sem dinheiro para sair comprando bons e caros jogadores. Estêvão tem contrato até 2027. Sua multa rescisória está avaliada em 60 milhões de euros, o equivalente a R$ 327 milhões. É quase tanto dinheiro quanto o Real Madrid pagou por Endrick (R$ 408 milhões).
Os clubes da Europa estão de olho em Estêvão. Os ingleses, como Chelsea e City, gostariam de tê-lo em breve. Vale lembrar que ele só poderá deixar o Brasil com 18 anos, em abril de 2025. Portanto, o Palmeiras tem pouco tempo para usá-lo se decidir por uma venda na próxima janela. Sua escalação nas partidas também tem essa finalidade: mostrá-lo ao mundo. É assim que funciona. O torcedor, imagino, gostaria de ver Estêvão no time por anos, mas isso não existe mais nos clubes formadores. Foi assim com Gabriel Jesus e com Endrick, para citar dois meninos da base do Palmeiras.
Também vejo o torcedor mais contente e satisfeito com jogadores consagrados e com times competitivos. Não vejo o torcedor palmeirense pedindo a permanência de Estêvão, como não pediu para Endrick ficar. O torcedor mais engajado sabe que o dinheiro da venda de um desses moleques vai ser usado para a contratação de outro atleta mais experiente e também na permanência dos que já estão no elenco, como tem feito Leila Pereira no comando do clube. Ele segurou todos os melhores jogadores do time e ainda trouxe contratações pontuais, como Rômulo e Felipe Anderson.
É preciso entender a forma de gestão do Palmeiras nos últimos anos. Para o segundo semestre, há ainda a volta de Dudu. O atacante volta em maio ainda, se tudo correr conforme o combinado. Ele está recuperado da contusão e da cirurgia. Então, Abel tem nas mãos três jogadores prontos e os meninos, como Estêvão. Ele também precisa ter uma estratégia para usar todos eles e formar um time mais forte. Ainda não tem esse time nesta temporada.
Estêvão veio do Cruzeiro. Deixou o clube em 2021, quando tinha 14 anos. O Palmeiras diz que ele não tinha contrato com o time mineiro. O Cruzeiro alega que houve ruído nessa ida do garoto para o rival paulista, com a intervenção do pai do atleta e sua decisão de levar o filho para São Paulo. Teve até acusação de falsidade de assinatura em alguns documentos.
O garoto ganhou espaço nas bases do Palmeiras e da seleção brasileira. Festejou conquistas e encantou o treinador português a ponto de Abel chamá-lo para o elenco principal com 16 anos. O Palmeiras tem apostado na formação de garotos, utilização deles no time e venda. Entre a primeira parte e a última, não há tempo médio estimado. A direção entendeu a necessidade de revelar e vender, e o dinheiro forte que entra dessa negociação para outras transações do clube. Estêvão vai jogar até completar 18 anos, mas não se sabe se ficará até o fim do seu contrato, em 2027, como gostaria Abel Ferreira. Nem ele mesmo sabe se continuará no clube depois do ano que vem.
Quando o Palmeiras renovou o contrato de Estêvão, aumentou seu salário e o fez mais feliz financeiramente. Ele tem participado também dos ganhos extras dos atletas com as conquistas, como o Brasileirão de 2023 e o Paulistão desta temporada. Em breve, mas como menos desenvoltura comparado a Endrick, Estêvão vai começar a aparecer na mídia e nos comerciais de TV. Ele também foi um dos garotos mais novos a assinar patrocínio com a Nike.
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No passado não muito distante, o Palmeiras não ganhava Copinha nem revelava muitos jogadores. Os craquinhos eram chamados pela seleção brasileira e se perdiam na CBF. Eles não se firmavam no time nacional nem no clube. Essa condição ficou para trás. O Palmeiras não é o único com essa pegada. Outros clubes trabalham com a mesma intenção, organização e firmeza suas bases. Há espaços para todos esses garotos no futebol brasileiro e na Europa, que vem buscá-lo cada vez mais cedo e por mais dinheiro.