A Fifa insiste em transformar seu Mundial de Clubes em uma competição que faça frente à Champions League da Uefa. Duvido que consiga. Por isso ela vai testando formatos a fim de dar peso ao torneio continental, que reúne clubes do mundo. O Brasil e seus vizinhos da América do Sul dão valor absurdo ao Mundial, como se fosse a última fronteira do futebol. Na década de 1990, com as conquistas do São Paulo, essa paixão explodiu. O Santos, de Pelé, foi campeão bem antes disso, assim como o Flamengo, do Zico, e o Grêmio, de Renato Gaúcho. Minhas lembranças apontam as conquistas do tricolor do Morumbi como a grande virada do Mundial da Fifa para os brasileiros. Era jogo único do campeão das Américas contra o campeão da Europa.

O Mundial de Clubes de 2025 será o auge do futebol profissional masculino de elite, com a infraestrutura necessária e um grande interesse local. Os Estados Unidos são o anfitrião ideal para dar início a esse novo torneio global. GIANNI INFANTINO, presidente da Fifa.

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Parecia um formato justo. Um jogo de festa sem atrapalhar muito o calendário esportivo dos dois continentes. Mas a Fifa viu a Uefa fazer com que os torneios de clubes na Europa ganhassem destaque e passassem a ser referência no mundo nas últimas décadas, de modo a espalhar a cultura dos times europeus pelos quatro cantos do planeta. Sentiu-se ameaçada e decidiu atrapalhar. Desde então, ela passou a valorizar as disputas das seleções, tendo as Copas do Mundo como os grandes espetáculos, e a se meter nos campeonatos de clubes de todos os países filiados a ela, com esse Mundial.  Do duelo entre o ganhador da Libertadores contra o campeão da Champions League, passou a organizar um mini torneio com outros campeões continentais até a grande final.

Gianni Infantino, presidente da Fifa, lutou muito para formatar o Mundial de Clubes com a participação de 32 equipes / Fifa

Até chegar nesta segunda década. Em 2025, está previsto o “estupendo” Mundial de Clubes da Fifa, com 32 equipes num torneio de um mês. Com ele, a Fifa chegou onde queria e imagina que possa fazer frente aos campeonatos organizados pela rival Uefa, que tem na Champions sua cereja do bolo. Digo que o Mundial de Clubes da Fifa não se compara à Champions nem de longe. Nada a ver. O torneio da Fifa só desperta interesse nos times fora da Europa, como os brasileiros Palmeiras, Flamengo e Fluminense, já classificados para a edição de 2025. Os clubes europeus dão de ombros para esse Mundial. Já davam para aquele de tiro curto e dão menos ainda para esse de 30 dias.

Com os europeus desinteressados, o Mundial de Clubes da Fifa está fadado a nascer morto. E o primeiro a mostrar essa condição miserável foi o treinador Carlo Ancelotti ao dizer que o Real Madrid não vai disputar o torneio em junho do ano que vem. Ele foi contestado pela direção do clube espanhol, mas a bombinha já havia sido atirada. A Fifa agora desconfia de que dará certo. Vai agora fazer o que sempre faz: abrir os cofres e repassar o compromisso com todos os envolvidos. A cota era de 20 milhões de euros para os times da Europa. Se não dobrar, vai ter clube descontente. Será uma vergonha para a Fifa se parecer w.o. do Mundial.

A entidade não entendeu ainda que esse Mundial de Clubes está fadado ao fracasso. Ele entra em um calendário já desgastado dos times. Somente os brasileiros se sujeitam a disputá-lo para que seus torcedores digam depois que o seu time tem Mundial e é campeão do mundo. Não é. A verdade é que a Fifa nos enganou ao inventar esse “campeão do mundo”, claro, sem tirar o mérito de quem já levantou a taça no passado. Mas essa concepção de ser “campeão do mundo” não existe. Há o campeão da Libertadores. O campeão da Europa e assim por diante em cada continente. O torcedor sul-americano comprou a ideia e espera que seu time seja um dia “campeão do mundo”.

Real Madrid, de Vini Jr, Rodrygo e Militão, festeja conquista da Champions League diante do Borussia / Real Madrid

O Palmeiras não tem esse título. O Corinthians tem duas vezes. Acaba sendo uma ilusão. Tem de disputar porque move os seguidores dos times credenciados e seus elencos. Mas para os europeus, o Mundial é um torneio sem importância. Isso não quer dizer que não haja interesse de ganhá-lo, uma vez que se chega ao local da disputa. Ocorre que nem de longe o Mundial da Fifa é visto como um campeonato importante. Na Europa tem Champions League, Liga Nacional e Copa do país. Nessa ordem. O resto é treino.

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O novo formato do Mundial da Fifa com 32 equipes será disputado de quatro em quatro anos, uma temporada antes da Copa do Mundo. Os clubes europeus ainda vão se manifestar sobre o torneio no fim da próxima temporada, em junho. Querem mais dinheiro ou vão cair fora. Os sul-americanos não veem a hora de chegar a competição e mostrar sua força diante de rivais mais ricos e mais badalados. Uma boa experiência.

Alguns classificados para o Mundial da Fifa de 2025

Palmeiras (Brasil): campeão da Libertadores 2021
Flamengo (Brasil): campeão da Libertadores 2022
Fluminense (Brasil): campeões da Libertadores 2023
Chelsea (Inglaterra): campeão da Champions 2020/21
Real Madrid (Espanha): campeão da Champions 2021/22
City (Inglaterra): campeão da Champions 2022/23
Bayern de Munique (Alemanha):  ranking da Europa
Borussia Dortmund (Alemanha): ranking da Europa
Paris Saint-Germain (França): ranking da Europa
Inter de Milão (Itália): ranking da Europa
Juventus (Itália): ranking da Europa
Porto (Portugal): ranking da Europa
Benfica (Portugal): ranking da Europa
Atlético de Madrid (Espanha): ranking da Europa
Al-Hilal (Arábia): campeão da Champions da Ásia 2021
Al Ahly (Egito): campeão da Champions da África de 2020/21