O futebol precisa avançar com os novos tempos, não dele próprio, mas do planeta, da sociedade e das pessoas. É preciso abandonar práticas enferrujadas e ultrapassadas que não condizem mais com os 90 minutos de uma partida. Há muitas coisas para se fazer nesse sentido, todas necessárias e urgentes. Vou dar um exemplo simples. Com a onda de calor que assola o hemisfério Sul na maior parte do ano, não dá mais para ter partidas de futebol às 11 horas da manhã, mesmo que o dia escolhido para isso se mostre mais cinzento e nublado.

Essa me parece uma questão sem discussão. Não bastasse o calor infernal das manhãs, que provoca mais desgaste no corpo humano, o futebol convive com o calendário para lá de apertado, com partidas encavaladas e quase não respeitando as 66 horas de uma para a outra.  Aqueles três minutos de paralisação para a hidratação não são mais suficientes. Para jogar às 11 horas da manhã, o corpo dos atletas sofrem mudanças radicais em suas rotinas de sono e alimentação. Por si só, esses fatores já mudam todo o metabolismo de uma pessoa, que ainda terá de correr 90 minutos e deixar tudo que pode dentro de campo.

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O clima é um fator que precisa ser levado em consideração no futebol brasileiro. É por causa do clima e do desgaste que ele provoca que os clubes do Oriente Médio treinam depois das 20 horas e jogam quando o sol dá uma trégua. Por ora, no Brasil, ignoramos as altas temperaturas, de modo a não mudar o horário dos jogos do nosso calendário. Mesmo as partidas marcadas para 16 horas deveriam ser empurradas para mais tarde. Pela saúde dos jogadores.

Neymar na Copa do Mundo da Rússia: jogador foi criticado por ter ‘simulado’ contusões após faltas sofridas / CBF

Não é só isso que deve mudar no futebol brasileiro. Há uma questão lastimável que faz as pessoas mais novas se afastarem das partidas enfadonhas: a enrolação dos jogadores, as simulações e a chamada “cera” dentro de campo. Os fanáticos e apaixonados continuam vendo esses atletas em seus teatrinhos para ganhar segundos de paralisação e esfriar o rival. Os mais novos e menos apegados ao futebol, não suportam esportes dessa forma e vão fazer outras coisas de suas vidas.

A velocidade do mundo não segura mais as pessoas jovens diante dos aparelhos de TV e streaming para ver tanta enrolação em campo. Os 90 minutos são longos demais para essa turma acelerada. A bem da verdade, todos nós estamos ficando acelerados, em outra rotação até mesmo para ouvir nossos recados no WhatsApp. Ou não?

Fifa e suas associadas sabem do problema e começam a estudar caminhos para deixar o jogo atraente por mais tempo / Fifa

Por ora, a Fifa não vai mexer no tempo centenário de uma partida de futebol. Os 90 minutos não serão reduzidos, eles são sagrados, mas algumas federações já estão se movendo para impedir tanta paralisação desnecessária durante um jogo com o cronômetro correndo. O jogo precisa ser jogado. E isso vai atingir diretamente o comportamento de atletas e treinadores, dos árbitros e do VAR, até mesmo dos gandulas e das bolas repostas.

Tudo vai ser mais rápido. Entidades como a Fifa e suas afiliadas espalhadas pelo mundo não vão mais tolerar as tentativas dos jogadores de enganar o árbitro e parar o jogo sem necessidade, para receberem assistência médica que quase sempre acaba com uma água jogada no local alegado da contusão. Os ingleses estão para decidir se vão continuar com o VAR ou se abrirão mão dele na próxima temporada.

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As mudanças acontecem para acelerar as partidas e oferecer mais ao torcedor. O jogo precisa ser vibrante durante os 90 minutos e isso passa por uma mudança no comportamento dos atletas e de todos os envolvidos. No Brasil, os números mostram que uma partida pode ter, somando os dois tempos, menos de 50 minutos de bola efetivamente rolando. Isso afugenta o torcedor, aquele que divide a atenção do futebol com outros afazeres. Se providências não forem tomadas agora, o futebol correrá risco de perder parte de seu público em dez ou vinte anos.