Bruno Henrique foi pilhado em flagrante delito, estava sob investigação policial e deixou um rastro de evidências que valem como prova. Mesmo se alegar falta de intenção para o crime de manipulação de apostas, não resta dúvida de que ele facilitou uma série de jogos ganhadores em favor de alguns parentes. E isso é ilegal. Ponto!
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O craque do Flamengo, lamentavelmente, trilhou o mesmo descaminho que levou outro astro brasileiro, Paquetá, a cair na malha das autoridades que investigam as casas de apostas. Difícil encontrar argumentos para defendê-los ou tentar forçar uma isenção de culpa apenas sob a luz da ingenuidade.

Dá até para imaginar, diante dos baixos valores apostados e ganhos por seus parentes, a hipótese de relativizar a culpabilidade do atacante. Como estava pendurado, era normal se esperar que ele entrasse num jogo que valia menos para forçar o terceiro cartão amarelo e ficar limpo para os jogos mais importantes.
Todo jogador de futebol pendurado já fez, faz ou fará isso uma vez na vida. Sabendo disso, apostar num amarelo para Bruno Henrique era pedra cantada, como se diz na gíria do jogo. Apostar que ele ia receber a advertência não exigiria nenhuma bola de cristal, nem informação privilegiada.
Não importa o valor do ganho
Os montantes envolvidos no que seria uma operação criminosa não justificariam um embuste de caso pensado, uma articulação à margem da lei com finalidade de enriquecimento. Para a lei, no entanto, não importa o tamanho do produto do crime e sim sua materialidade.
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O que causa espanto, e custa a acreditar, é como que um jogador que ganha um salário de mais de R$ 1 milhão por mês tenha de recorrer a essa ação fora da lei para permitir que seus parentes ganhem uns caraminguás. Era mais fácil ele ter reservado migalhas do seu rendimento milionário para presentear os mais chegados, sem precisar incorrer numa atividade suspeita.
Cada cabeça é uma sentença
Mas é difícil entender e explicar a natureza humana. Nem sempre a lógica de um é a mesma de outro. Nem sempre os valores de um são defendidos pelos outros. Cada cabeça é uma sentença, já dizia minha avó, com sua habitual sabedoria.

Diante do fato consumado, o jeito é acreditar que tudo será devidamente apurado, o jogador terá todas as instâncias de defesa garantidas e não se fará julgamento precipitado. Pelo menos na Justiça, já que o tribunal da internet, sempre rápido e cruel, já condenou Bruno Henrique sem dó nem piedade. Nós, do The Football, não vamos embarcar nessa onda.
Seja qual for o desfecho do caso, é preciso aproveitar a ocasião para reforçarmos os mecanismos de garantia da licitude dos jogos pela internet e das casas de apostas que hoje estão umbilicalmente ligadas ao futebol e à mídia de um modo geral. Como se vê, só a regulamentação das casas de apostas como empresas operantes no Brasil não é suficiente para que se garanta que estamos num ambiente seguro, sem margem para maracutaias.
Até na Copa do Mundo há suspeitas
A suspeita, é bom lembrar, sempre existiu. Não são poucas as denúncias que se arrastam pela história com narrativas de venda de jogadores, resultados fabricados, subornos a juízes, acertos comerciais em cima de resultados pré-determinados. Até na Copa do Mundo já houve suspeita de armação de resultado.

A diferença, agora, é que existe toda uma indústria do jogo que movimenta milhões de dólares no mundo todo – e o Brasil é um dos mercados mais emergentes nesse cassino patrocinado pelas casas de apostas. Portanto, jogar com responsabilidade não pode ser só um mero slogan publicitário.
É extremamente necessário que a seriedade, a lisura, a ética e a lei sejam observadas acima de todas as coisas. Bruno Henrique não pode ficar como bode expiatório de uma jogada que deu ruim. O que se exige agora é que a fiscalização seja ainda mais rigorosa. E que as autoridades que aprovaram a atividade das casas de apostas no Brasil façam valer a ideia do jogo responsável. Mais do que isso, do jogo acima de qualquer suspeita.