Gabigol foi liberado para jogar. O atacante cumpria suspensão de dois anos por ter atrapalhado os profissionais do exame antidoping de fazerem seu trabalho. Há batidas inesperadas frequentes nos clubes durante a temporada, antes ou depois dos treinos, com todos os atletas. Eles chegam sem avisar, montam a estrutura e colhem a urina de todos os atletas. Gabigol dificultou a realização do seu teste, desdenhou os agentes e fez brincadeiras em hora errada. Foi denunciado, julgado e condenado. Seu exame não deu positivo para o uso de qualquer substância proibida. Isso precisa ficar claro.
Mas o assunto é muito sério ou deveria ser na estrutura do futebol brasileiro. Aliás, é um dos poucos temas ainda não contaminados no Brasil. Todos sempre respeitaram os exames e eles sempre foram aferidos como de maior importância para o futebol. Se o país avacalhar isso também, já era. Então, Gabigol foi punido. Pegou 24 meses sem poder atuar.
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O Flamengo não aceitou a punição e começou a trabalhar nos bastidores para a absolvição de Gabigol, até que conseguiu, conforme anunciou, um efeito suspensivo. Na prática, Gabigol já pode se juntar ao time de Tite e esperar sua oportunidade para voltar a jogar. O efeito suspensivo é uma decisão jurídica que tira o “réu” da punição e o coloca de novo no jogo. Na década de 1990 e começo dos anos 2000, era muito comum se valer dessa manobra jurídica para liberar jogadores suspensos com cartões. Felizmente, essa “canetada” acabou. Mas não completamente, como se vê.
O caso da punição foi mal conduzido. Não sei se era para tanto. O susto foi grande e talvez essa tenha sido a intenção da punição de dois anos ao atacante renomado. A repercussão foi grande. Mas entendo que não cumprir uma pena imposta tem muito mais peso negativo do que se Gabigol tivesse sido tratado de outra forma ou com pena mais branda, de modo a dar o exemplo na dose certa. Punir e tirar a suspensão ou ter o tal efeito suspensivo é imoral. Perde-se o respeito pela instituição, não aquela que faz os exames, mas aquela que julga e condena. Esse tipo de comportamento precisa acabar no futebol brasileiro. Joga contra.
A impressão que se tem, há anos, é que para tudo se dá um jeitinho no futebol brasileiro. Talvez nem seja mais uma impressão. Para todos os assuntos, espera-se esse jeitinho. Abel Ferreira, técnico do Palmeiras, soltou uma frase em sua entrevista após o empate sem gols com o São Paulo, nesta segunda-feira, que cabe bem ao momento que vivemos no Brasil. Ele disse que se a imprensa fosse tão exigente para outros assuntos da sociedade como é para o futebol, o país poderia ser outro. Referia-se às cobranças da torcida feitas a jogadores, técnicos e clubes a cada rodada.
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Com a volta de Gabigol, o futebol brasileiro ganha, assim como o Flamengo, que vive momento de dúvidas e de pouco entusiasmo, com decisões equivocadas de Tite na formação da equipe. Gabigol vai mudar o astral do elenco e aumentar a confiança da torcida. Vale lembrar que ele estava em fase ruim antes de ser punido. Então, é preciso se reencontrar também.
Sua punição deve ser paga nos meses em que o futebol brasileiro ou o Flamengo não tiver atividade. No período do recesso e das férias. Se for isso mesmo, seria da metade de dezembro para frente, invadindo janeiro e fevereiro, apesar de o Flamengo estar no Mundial da Fifa. Então, é bem provável que ela não aconteça. Agora, a batalha é dos juristas e advogados. Gabigol está negociando sua renovação de contrato com o Flamengo. A punição valeria apenas no futebol brasileiro por não configurar doping. A Corte Arbitral do Esporte (CAS) vai julgar o recurso.
De tudo isso, o que deve ficar é que o exame antidoping e seus profissionais não estão aí para brincadeiras. Trata-se de um trabalho sério, necessário e reconhecido pela lisura do esporte e de seus praticantes. Acima de tudo, o jogo tem de ser limpo. Não podemos perder isso de vista.
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