César Luis Menotti foi um atacante canhoto bom de bola e um treinador excelente, que carregou por toda a sua vida um arrependimento: o de não ter levado Diego Armando Maradona para a Copa do Mundo de 1978, a primeira das três que a seleção argentina ganhou. As outras foram em 1986 e 2022. Diego tinha 17 anos e já era considerado por muitos do próprio elenco o principal jogador do time. Ele chegou a se juntar ao grupo na fase de preparação daquele Mundial, mas foi cortado.
Maradona atuava no time reserva de Menotti e acabava, segundo relatos dos próprios argentinos, com a marcação titular. Seis anos atrás, o treinador admitiu a dor do seu arrependimento. Disse em uma entrevista que ainda via Maradona como um garotinho naquele ano. Ele nunca foi cobrado por isso porque a Argentina, de Passarella e Mario Kempes, foi campeã mundial ao bater a Holanda por 3 a 1 na grande final. Foi a primeira Copa de que tenho recordações mais nítidas, com aquela festa de papel em todas as partidas e com os jogos noturnos no Brasil. Kempes fez dois gols na decisão.
Os argentinos sediaram a disputa, com a participação de 16 seleções. Só para se ter uma comparação, a próxima Copa do Mundo, em 2026, em três países simultaneamente, terá 48 representantes. Menotti esteve à frente daquela Argentina. Era um sedutor para seus atletas. Ele montava times competitivos, sem perder o foco no bom futebol. Era um treinador que pensava em jogo bonito. Entre ganhar e ser respeitado em campo, ele preferia o respeito.
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Ao longo dos últimos anos, César Luis Menotti condenou o jogo feio da seleção brasileira por entender que a equipe de Neymar só pensava no resultado, a ponto de abrir mão de suas características. Menotti falava de um Brasil sem alma. Ele nunca escondeu seu amor pelo futebol brasileiro e também por Pelé. Aprendeu a valorizar o Brasil nas décadas de 1960 e 1970. Rendeu-se ao meio de campo formado do Brasil de 1970, formado por Gérson, Rivellino, Tostão e Pelé. Nunca viu nada igual.
Dizia também para qualquer argentino que Pelé foi melhor do que Maradona. Muito melhor. Falava com a convicção de quem acompanhou a carreira do brasileiro e comandou Diego por anos, tanto na seleção quanto no Barcelona. Foi Menotti quem primeiro chamou Maradona para a equipe nacional.
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Sua reverência ao futebol brasileiro era tamanha que ele chegou a jogar no Santos e no Juventus, de São Paulo, no fim de sua carreira. Queria experimentar o futebol brasileiro de dentro. Sobre Maradona, além do arrependimento de 1978, dizia que a Fifa o “matou” quando não conseguiu mais controlá-lo. Fez isso na Copa do Mundo de 1994. Por anos, Maradona era oposição à entidade com sede em Zurique. Maradona nunca deixou que colocassem “cabresto” nele, assim como Menotti, que sempre falou o que pensava sobre futebol e seus personagens.
Tempos atrás ele foi elogiado por Pep Guardiola, que o chamou de “Che Guevara” do futebol. Menotti, educadamente, recusou a comparação.
O treinador morreu neste domingo de futebol pelo mundo, certamente feliz com sua Argentina campeã em 2022. Sua vida foi marcada por alguns clubes do seu país, como Racing, Boca Juniors e Rosário Central. Menotti tinha 85 anos e a causa de sua morte não foi informada. Ele estava internado desde março, antes de receber alta e voltar para casa. Menotti é um desses treinadores reverenciados por seus colegas e pelo mundo do futebol. Sai da vida para entrar nos almanaques.