Há três assuntos que gostaria de ressaltar sobre a ajuda que o Rio Grande do Sul tem recebido dos brasileiros de todas as partes do país. O “se puder ajudar, ajude” virou o bordão dessa tragédia das enchentes sem precedentes no Estado brasileiro. E vale sempre repeti-lo: “se puder ajudar, ajude”. Entendo exatamente o que os gaúchos estão passando e posso garantir que o pior vem quando a água barrenta do Rio Guaíba baixar. Morei por anos durante minha infância em uma rua de São Paulo que enchia. Cansei de voltar da escola à noite e ter de esperar a água baixar para entrar em casa, geralmente faminto e já pensando no trabalho do dia seguinte.

A casa em que morava era uma das poucas da rua em que a água na invadia. Em 1970, em meio à Copa do Mundo, meu pai e meu padrinho aterraram o local e subiram o piso para evitar as enchentes. Entre um gol e outro da seleção de Pelé, que seria campeã do mundo no México naquele ano, eles faziam o serviço.

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Minha casa não enchia, mas as casas dos meus colegas não tinham a mesma sorte. Então, todos se ajudavam. Era uma sujeira só. Todos tentavam lavar tudo rapidamente para a lama não secar e virar barro. Perdia-se tudo na maioria das vezes. As doenças vinham depois. Mas aquilo era tão frequente, pelo menos nas minhas lembranças, que todos estávamos acostumados. Então, gostaria de ressaltar a ajuda humanitária que os gaúchos estão recebendo, de produtos, de carinho e de trabalho dos que se dispuseram a chegar ao Rio Grande do Sul.

Leila Pereira, presidente da Crefisa e do Palmeiras, é dona da empresa de aviação Placar / Placar

É importante ressaltar isso porque mostra o que sempre foi o brasileiro, desde aqueles meus anos de garoto: um povo solidário e que se preocupa com sua gente. Embora tenhamos nos perdido nas discussões acirradas e muitas vezes imbecis da polarizada política recente, não perdemos nossa essência. Somos um povo que se ajuda. Precisou de uma tragédia para a gente redescobrir isso.

Mas o que isso tem a ver com futebol, o tema sagrado dessa coluna diária? Tem a ver com a grande iniciativa da bolha do esporte em também se mexer para ajudar sem perder o timing. Ninguém ficou indiferente ao sofrimento das pessoas no Rio Grande do Sul. Ninguém. Isso é ótimo. Prova que essa turma é “humana” e sabe olhar para seus vizinhos menos favorecidos. Clubes, atletas, entidades, todos se mobilizaram de alguma forma para ajudar. Quem tem mais, ajuda mais. Foi o que fez a presidente do Palmeiras, Leila Pereira, ao disponibilizar seu avião para levar os produtos arrecadados para Porto Alegre e região. Isso tem custo e Leila assume esse custo.

Leila Pereira, presidente do Palmeiras: esforço da turma do futebol para ajudar os brasileiros do Rio Grande do Sul / Agência Palmeiras

É preciso ser justo também com Neymar. O jogador mobilizou seus parceiros e sua gente para encher seu avião, também particular, de mantimentos com destino ao Rio Grande do Sul. Neymar pode muito e fez muito. Ele foi cobrado nas redes sociais depois que postou um vídeo para pedir ajuda aos gaúchos. Ninguém sabia ainda de sua iniciativa. Ele mesmo depois postou outro vídeo contando o que havia feito. Disse que não costumava divulgar suas ações beneficentes, mas desta vez ele fez questão de postar.

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Ajudar nunca é demais. Reconhecer a ajuda também não. Outros fizeram a mesma coisa, colocaram a mão no bolso para ajudar quem mais precisa nesse momento. Mencionei Neymar porque ele sempre aparece no noticiário tentando explicar alguma coisa confusa ou negativa de sua carreira e vida. Tem sido assim desde que ele foi para o PSG e agora para o Al-Hilal. Então, desta vez, Neymar engrossa a corrente do bem para nossos irmãos gaúchos. Eles representam todos no esporte que estão ajudando. Há muitos nessa condição e isso é muito bom. Tomara que tudo volte ao normal em breve.

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