A vitória do Corinthians contra o São Bernardo vai além de um roteiro que mistura sofrimento e delírio, e alegria, sentimentos antagônicos tão pertencentes à história do clube. A partida poderá ser lembrada no futuro também por uma estranha inovação: a substituição de um jogador planejada, dias antes, pelo departamento de marketing.

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Sim, não se enganem: a entrada de Rodrigo Garro no lugar do jovem Ryan, aos 8 minutos do segundo tempo, fez parte de um planejamento estratégico criado com o objetivo de anunciar a mudança do número da camisa usada pelo craque argentino, até então a estrela da companhia.

Rodrigo Garro troca de camisa no Corinthians porque a 10 foi para Memphis Depay por decisão contratual / Corinthians

Tudo parece ter sido feito em cima da ideia de uma ação de redução de danos à imagem do jogador e da direção do clube. A camisa 10, que Garro usava desde que chegou ao Parque São Jorge, é mundialmente conhecida como um símbolo de grandeza.

A 8 tem peso no Corinthians

Quando sua simbologia remete à jogadores como Pelé, Maradona, Platini, Zico, Messi, eis que ela ganha status de nobreza. É consenso que a 10 é a marca da realeza da bola.

Se é assim, como dizer para ele que a partir de agora a camisa emblemática terá um novo dono? Como fazer essa mudança sem admitir que essa é uma condição imposta por um contrato assinado pela diretoria do Corinthians com um jogador contratado depois da chegada de Garro? Como não criar uma intriga dentro do grupo com uma manobra que, por mais que pareça banal, está carregada de indicativos de que há um certo privilégio entre um ou outro jogador?

Imagine essa situação transportada para uma grande empresa, na qual existe uma política de recursos humanos que preza, por exemplo, organogramas e programas de cargos e salários.

Memphis Depay não abriu mão da camisa 10: segundo ele, foi um acordo feito com a diretoria do Corinthians / Corinthians

De repente, o chefe do departamento é obrigado a dizer para seu melhor funcionário que a empresa contratou alguém com as mesmas virtudes que ele, mas que, na negociação de contratação, a empresa lhe prometeu o seu salário e sua cadeira e mesa no escritório.

Diretoria prometeu a 10 para Memphis

Não é uma decisão fácil. Não dá para colocar esse processo em curso sem uma análise prévia dos efeitos e consequências da novidade. E o que fez o Corinthians diante dessas problemáticas? Agiu com extrema inteligência e fez do limão uma limonada.

Tudo é uma questão de comunicação. Ao invés de anunciar que estava dando a camisa 10 para Memphis Depay, criou uma festa para anunciar que estava entregando a camisa 8, tão ou mais icônica na história do Timão do que a própria camisa 10, para Rodrigo Garro.

A inversão da mensagem, certamente pensada pelo departamento de marketing, propiciou que a troca de camisas fosse parte de uma grande festa da qual fez parte, inclusive, a torcida. Na semana que vem, Depay receberá a camisa 10 com outra grande festa, sem que ninguém lembre mais do que seria um possível drama de tirá-la do outro ídolo.

Técnico Ramón Díaz não foi ouvido sobre a troca de camisas no elenco: decisão partiu da diretoria de futebol / Corinthians

Honesto, transparente, diferente, Rodrigo Garro comentou sobre a mudança após o jogo e não negou um certo descontentamento. Mas não alimentou uma polêmica. Fez um discurso politicamente correto dizendo que o Corinthians está acima das ambições pessoais de qualquer um.

Garro, Sócrates, Rincón, Basílio…

Ele ainda relativizou a situação ao reconhecer que era uma honra jogar a partir de agora com a camisa que foi usada por alguns dos maiores ídolos do clube, a começar pelo Doutor Sócrates. E Basílio. Rincón. Renato Augusto. Luisinho… Na história corintiana, a camisa 8 tem mesmo mais peso do que a 10, que um dia foi de Rivellino.

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Com tudo isso acertado previamente, combinado com a comissão técnica, a volta de Garro foi triunfal. Aos 8 minutos do segundo tempo, o jogo parou, a torcida fez o mosaico com o número emblemático, Ryan deu seu lugar para a estrela da noite e tudo teve um final feliz, com a vitória de 2 a 0.

Com direito a passes mágicos de Garro e dois gols com a participação direta de Memphis Depay, o novo camisa 10 do Corinthians. Nota 10 para o marketing do clube, que nos ensinou, na prática, como fazer do limão uma limonada.

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