Os técnicos, de um modo geral, são supervalorizados no futebol brasileiro. A maioria dos clubes acredita que eles podem fazer milagres. Por isso aceitam pagar fortunas para o santo milagreiro da vez, até que uma sequência de maus resultados acabe com o encanto. Sob o efeito do imediatismo e da esperança de estabelecer o marco de um novo trabalho, quase ninguém pensa num projeto, desses planejamentos cartesianos, com começo, meio e fim, expectativas e resultados, projeções e realidades.

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Eis que o Corinthians está de novo no embalo da chegada de um novo messias. Dorival Júnior, depois de idas e vindas, aceitou o desafio de dirigir o clube, que estava à deriva desde a saída de Ramón Díaz, ou quem sabe mesmo antes disso. Os últimos trabalhos de Dorival em clubes o credenciam a um novo êxito, diferentemente do que ocorreu na seleção, onde foi tragado por problemas que fogem ao dia a dia de um clube.

Dorival Júnior não teve sucesso na seleção brasileira e agora vai comandar o Corinthians até dezembro de 2026 / CBF

A sorte está lançada. É hora de arregaçar as mangas. E, convenhamos, trabalho é o que não falta. Dorival herda um elenco que não escolheu e sabe que vai precisar de toda a sua experiência para se blindar dos problemas extracampo vividos pelo Timão há mais cinco temporadas. Fora das quatro linhas, o entorno do Parque São Jorge é campo minado e qualquer passo em falso leva a uma explosão.

Flamengo logo de cara

O primeiro obstáculo não poderia ser pior: o Corinthians enfrenta o Flamengo, no Maracanã, numa evidente condição de não favorito à vitória. Por óbvio, o novo treinador não terá tempo de mudanças substanciais na escalação e na forma de jogar da equipe. Mesmo assim, com um pouco de observação, ele pode ao menos armar um plano de jogo que revele uma equipe mais organizada taticamente. Mais equilibrada. Mas de longe. Dorival não vai ficar no banco.

No tempo do comando da família Díaz, era evidente que havia um abismo de qualidade ao se comparar o rendimento da defesa e do ataque. Esse parece o ponto crucial que Dorival deve atacar para começar a criar um arcabouço de um time mais competitivo. Seja mudando peças ou propondo soluções de posicionamento e dinâmica de jogo que dêem mais força e proteção à defesa. Se tudo correr bem, com um pequeno ajuste, as coisas já podem melhorar. O que não for ajustado por ora, Hugo Souza garante lá na última linha.

Sem frescura no 4-4-2

Dorival é conhecido pela simplicidade de seu trabalho. Ele não se perde nessas bobagens de termos da academia, de nomenclaturas modernas e de invencionices táticas de quem acha que o futebol nasceu com Guardiola e Klopp. Dorival é um treinador mais à moda antiga, que crê nas suas convicções da prática que teve como jogador e como técnico vitorioso, até ao ponto de chegar à seleção nacional.

Yuri Alberto e Memphis Depay: dupla de atacantes do Corinthians deve ser mantida por Dorival no time / Corinthians

Diante disso, o torcedor corintiano não deve esperar por nenhuma solução mirabolante. Dorival é adepto de um sistema de jogo quase universal, com duas linhas de 4 (defensores e meio-campistas) e dois atacantes. O 4-4-2, que, evidentemente, tem variações quando o time tem a bola ou quando é atacado. Para impor esse modelo de jogo no Corinthians, Dorival já parte de um pressuposto bem favorável. Os dois jogadores de ataque são Memphis e Yuri e não se discute. Ambos estão entrosados, se conhecem e gostam de jogar lado a lado, sem posições fixas.

O problema está na armação. Sem Garro, que só deve voltar depois do Mundial, o time ainda não encontrou substituto que faça a mágica acontecer para a bola chegar mais redonda aos atacantes. Numa linha de quatro, o novo treinador pode passar a optar por dois volantes e dois meias – uma solução que além de tudo, aumentará a proteção à defesa, quase sempre muito exposta com o losango de meio adotado pelos Díaz.

Achar um zaga de confiança

Por fim, Dorival tem o grande desafio de acertar a defesa, especialmente o miolo de zaga. O elenco só tem cinco jogadores para as duas posições e até agora ninguém conseguiu transmitir confiança para a torcida. Quando joga um a torcida tem saudade do outro; quando joga o outro a torcida clama pela volta do um…

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Parece um problema interminável, cíclico. Mas que pode ser resolvido com ajustes técnicos e táticos. Os zagueiros do Corinthians pegam demais na bola e não sabem fazer o trabalho de transição. Por isso a saída de boal é falha e o adversário, seja qual for, consegue impor pressão numa marcação mais alta. Os laterais não têm vocação ofensiva – e quando vão para a frente deixam muitos espaços, impossíveis de serem cobertos apenas por um volante cão-de-guarda, que já está sobrecarregado com o secretário de zagueiro.

Sem atacantes de beirada, desses aos quais os técnicos gostam de dar a missão de recompor a linha de defesa, é preciso achar soluções com maior participação defensiva dos meias-armadores. Tudo, no entanto, é uma questão de ajuste. Muito treino, muita conversa e um pouco de paciência. A experiência de Dorival ajuda. Até porque, depois de ver sua imagem arranhada com o fiasco da seleção nas Eliminatórias, ele não vai querer se queimar de vez. Quem sabe ele não faz um milagre?

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