Seria por demais precipitado tirar conclusões definitivas por apenas um jogo, ainda mais sendo ele disputado em início de temporada e num campo duramente castigado pela chuva. Mas um Palmeiras x Corinthians sempre deixa lições e reflexões que podem servir de base para o bem e para o mal.

Seja um parceiro do The Football

A atipicidade do dérbi da última quinta-feira, no Allianz Parque, até ajuda a embasar a radiografia, um frame da realidade atual, dos dois times, uma vez que tivemos em campo propostas de jogo e comportamentos táticos completamente diferentes, ainda mais depois que a expulsão tola de Yuri Alberto produziu um desequilíbrio de forças ainda mais evidente.

Memphis Depay rouba bola de Richard Ríos no clássico do Palmeiras com o Corinthians que gerougol de Yuri / Corinthians

Mesmo assim, no saldo final de erros e acertos de lado a lado, o Corinthians soube se defender e saiu do campo do inimigo festejando um empate com sabor de vitória. Ao Palmeiras, ficou a sensação de que merecia mais.

O que este jogo, com este desfecho improvável, pode ajudar a projetar o que o ano reserva para Corinthians e Palmeiras na disputa dos principais campeonatos da América – o Verdão ainda vai para o Mundial de Clubes, uma escala a mais no calendário que pode lhe render a mais esperada e sonhada glória de campeão mundial de fato?

O que se pode destacar de bom e de ruim nas duas equipes? Quais os pontos que precisam ser corrigidos com mais urgência?

Comecemos pelo Palmeiras

Apesar de alguns tropeços nesse início de Paulistão, que devem ser creditados ao rodízio de jogadores promovido prudentemente por Abel Ferreira, o Palmeiras se apresenta como um time pronto, com um estilo de jogo consolidado, com o trabalho linear de uma comissão técnica que está indo para sua quarta temporada, coisa rara, raríssima, no futebol brasileiro.

Assim é que, entra ano, sai ano, e lá está o Palmeiras mais uma vez colocado no seleto grupo de favoritos para ganhar tudo na temporada.

O dérbi mostrou parte das razões que conferem ao time de Abel essa virtude de protagonista. Afinal, a equipe tomou conta do clássico, amassou o adversário, mostrou a imposição característica de quando joga como mandante e já podia ter terminado o primeiro tempo em vantagem.

SIGA THE FOOTBALL
Facebook
Instagram
Linkedin
Threads
Tik Tok

No entanto, falhou nas finalizações – naquilo que Abel chama de eficiência ofensiva no terço final. Um problema que parece crônico para um time que cria 20, 25 chances de gol em quase todos os jogos e marca menos que essa aritmética sugere.

O tal camisa 9

Nesse particular, rodada após rodada, aflora a necessidade urgente da contratação de um camisa 9 nato, alguém talhado para jogar na área no papel de finalizador.

No dérbi, no auge do incômodo com as chances não aproveitadas, Abel potencializou essa deficiência de elenco ao escalar um zagueiro recém-promovido da base para jogar de atacante, na expectativa de que ele pudesse, numa disputa de bola aérea, fazer o gol da vitória.

Abel disse em entrevista que gostou do seu Palmeiras contra o Corinthians apesar do empate em casa / Palmeiras

Mesmo com 1,97m, o garoto Benedetti não foi à rede e a tentativa frustrou as expectativas, dando ênfase à necessidade urgente da chegada de um homem-gol.

Fora isso, o Palmeiras desfilou todas as virtudes que o fizeram um time vencedor nos últimos quatro anos, especialmente a dinâmica de jogo fluido, de toques de bola no sentido vertical, indo para dentro do adversário.

Também pontuou a forte marcação sob pressão na saída de bola do adversário, a excelente combinação dos três zagueiros com dois alas que dão qualidade à transição (o que Piquerez jogou quinta-feira foi uma barbaridade) e a rotação dos meias e atacantes de beirada, confundindo a marcação corintiana.

Para que fosse uma noite perfeita, só faltou mesmo que o menino Estêvão fizesse o gol de pênalti sofrido por ele próprio em lance que fez fila na zaga corintiana pelo setor direito do ataque.

Para o bem do Palmeiras, é importante que a dor pelo erro num lance capital não faça de Estêvão o culpado pelo resultado que não veio. Até porque, muitas outras vitórias vieram – e outras certamente virão – dos pés desse pequeno gênio.

E o que dizer do Corinthians?

Obviamente é preciso levar em conta o fato de o time ter jogado boa parte do segundo tempo com um jogador a menos, num campo pesado, diante de um adversário que já tinha amplo domínio da partida mesmo quando o embate estava em 11 x 11.

Com um a menos era natural, e não pode ser condenada, a opção do alvinegro pela manutenção do resultado fora de casa, com um modelo de jogo que privilegiasse a defesa. Uma linha de cinco, protegida por três volantes.

Rodrigo Garro faz muita falta ao Corinthians: machucado, o meia ainda não jogou nesta temporada / Corinthians

O ataque, com Depay esgotado fisicamente, praticamente não existiu no segundo tempo, de maneira que toda bola recuperada pela defesa era chutada a esmo para a frente e devolvida de graça ao adversário.

Garro faz falta

Esse, porém, não é o modelo padrão do jogo corintiano sob o comando de Ramón Díaz. Bem pelo contrário.

Em condições normais de temperatura e pressão, sobretudo quando joga em seus domínios, o Corinthians é um time que propõe o jogo, circula a bola até encontrar os espaços para as investidas mais agudas, e dá pouco espaço para o adversário.

Pouco disso foi visto no dérbi, mas a torcida já sabe que dá para esperar essas qualidades na equipe ao longo de 2025, depois de um 2024 errante e aflitivo. O clássico mostrou que o time ainda depende muito do argentino Rodrigo Garro, quase sempre a figura desequilibrante.

Apesar de todo esforço de Igor Coronado para replicar a função tática de Garro em campo, na missão de fazer o “enganche” com Yuri e Depay, a diferença entre os dois é gritante.

Garro pensa e resolve as jogadas muito rápido. Coronado precisa de mais espaço e mais tempo com a bola no pé para fazer as assistências. Ramón Díaz ainda precisa trabalhar muito para acertar o posicionamento da defesa, especialmente nas bolas cruzadas e enfiadas entre a dupla de zagueiros centrais.

Há tempos ele vem tentando fortalecer o sistema com um terceiro zagueiro de fato ou de improviso, mas aparecem muitos buracos à mercê dos adversários.

Hugo é o cara

Também há deficiência nas duas laterais. Na direita, Matheuzinho ainda não é unanimidade. Na esquerda, Hugo não pode ser titular, Bidu segue instável e Palácios ainda não disse ao que veio. Menos mau é que na última linha de defesa o Corinthians tem um dos melhores goleiros do Brasil e um pegador de pênalti por excelência. Hugo Souza já fez a torcida esquecer Cássio e caminha para ser um ídolo duradouro.

Mesmo com algumas deficiências, a Fiel deve estar orgulhosa de um time guerreiro, que cresce na adversidade e não joga mais com aquele medo que jogava com Antônio Oliveira, Mano Menezes e outros treinadores dos piores momentos do ano passado.

Hoje o Corinthians se impõe como Corinthians – e quando isso acontece não há logica que o derrote antes da hora. Esse Corinthians exige respeito.

Publicidade

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui