Luis Zubeldía terá pouco tempo para organizar o São Paulo. Ele assume o lugar de Thiago Carpini, demitido um dia depois da derrota do time para o Flamengo. Mas se uma coisa esse argentino faz bem é organizar equipes, como fez na LDU, de Quito, campeã da Copa Sul-Americana contra o Fortaleza no ano passado. Zubeldía já esteve na mira do São Paulo logo após a saída de Dorival Júnior, mas não teve como levar as tratativas adiante. Muricy Ramalho, gerente de futebol do clube, até ficou bravo com ele pelo que qualificou de “desdém” do argentino. Desta vez, tudo deu certo. Falta assinar o contrato por dois anos, arrumar um lugar para ele ficar em São Paulo e conhecer elenco e clube.

Se vai dar certo, vai depender dos jogadores, da aceitação da torcida e dos resultados de campo. O presidente Julio Casares disse recentemente sobre Carpini que “resultados são importantes” para a manutenção de um treinador. O problema no Brasileirão é que ele vai para sua terceira rodada no fim de semana e não há tempo para mais derrotas no caso do Tricolor paulista. Pelo menos não de forma seguida. A reação precisa ser imediata. O time não pontuou ainda na competição. A torcida está impaciente. O elenco esperava pela mudança de comando para voltar a suar a camisa. Milton Cruz vai fazer o trabalho diante do Atlético-GO fora de casa no domingo.

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Aos 43 anos, também é uma de suas características não ficar muito tempo num mesmo time. Pelo menos é isso que mostra sua carreira. Zubeldía tem apenas oito anos como treinador. Já passou pelo Independiente Medellín (2016/2017), Alavés (2017), Cerro Porteño (2018), Lanús (2018/2021) e LDU, de Quito (2022/2023). Ele traz na bagagem toda a malandragem do futebol argentino. Malandragem no bom sentido, como ganhar as partidas que precisam ser ganhas e não se desgastar com jogos de menor importância. Também vai engrossar o coro dos treinadores reclamões. Ele é esquentadinho e gosta de bater boca.

O calendário vai ser desafiador para o argentino, como é para qualquer treinador do futebol brasileiro. Mesmo os que já estão mais acostumados e os que nasceram no país reclamam sem parar, como Renato Gaúcho, do Grêmio, e Abel Ferreira, do Palmeiras. Zubeldía sabe de tudo isso e não pode usar a condição como desculpas para qualquer contratempo, assim como deve saber o tamanho do elenco, sua qualidade, sobre os jogadores machucados e a condição de “vai não vai” de James Rodríguez. Tem de ser um gestor de gente e um estrategista de time. Há três boas referências no Brasil atualmente: Tite, Renato Gaúcho e Abel Ferreira.

Os resultados são importantes, mas aprendemos com Carpini que não é somente isso que vale no São Paulo. O treinador ganhou a Supercopa do Palmeiras neste ano e quebrou o tabu do time de nunca ter superado o Corinthians dentro da Neo Química Arena, em Itaquera. Mas nada disso foi suficiente para manter o técnico no cargo e em paz. Zubeldía chega sem crédito e atrás nessa corrida. Vale também um puxão de orelha para a diretoria, que contrata com entusiasmo e não sustenta suas opções. É preciso amadurecer nesse sentido.

Zubeldía tem histórico de não ficar muito tempo nos clubes que o contratam / LDU

Vale o mesmo raciocínio para o torcedor. No ano passado, na campanha da conquista da Copa do Brasil, houve uma energia e uma comunhão entre elenco, torcida e direção. Isso precisa acontecer também quando as coisas não vão bem. O torcedor precisa ser mais paciente e menos apressado, mais inteligente e menos fanfarrão. A torcida é peça fundamental em todos os sentidos no futebol brasileiro, portanto, tem de saber avaliar a situação e não ficar pedindo a cabeça desse ou daquele jogador ou treinador o tempo todo.

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SEM OLHAR PARA OS MEDALHÕES
Uma condição também se fez notável na escolha do São Paulo: o clube não olhou para os medalhões que estão desempregados, como Mano Menezes e Felipão, por exemplo. Também não chegou a ventilar a contratação de treinadores brasileiros de nível médio. Isso abre uma discussão sobre a necessidade urgente de os profissionais da beira do gramado se reciclarem. Eles têm de olhar o futebol e a carreira de forma diferente, melhorar algumas condições pessoais e avançar nos métodos e no jeito de trabalhar com o elenco.
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1 COMENTÁRIO

  1. […] Zubeldía pode ser chamado de Rebeldia. O futebol brasileiro está precisando de boas doses de rebeldia dentro e fora de campo. Mas não confundam rebeldia com aquilo que os jogadores do Fluminense fizeram antes de uma partida. Aquilo foi burrice e desrespeito com o treinador Fernando Diniz e com os companheiros de clube. O dicionário (sim, ainda consulto um bom dicionário) diz que rebeldia é o ato de se rebelar, não se conformar, reagir. Foi exatamente isso o que fez o São Paulo na partida pela Libertadores desta quinta-feira diante do Barcelona de Guayaquil, com vitória por 2 a 0, fora de casa. […]

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