Na decisão da Copa do Mundo de 1998, Zagallo passou por cima de todo mundo e escalou Ronaldo no lugar de Edmundo contra a França. Edmundo já tinha tido seu nome divulgado pela Fifa. Ronaldo havia acabado de chegar ao estádio francês, recém-saído de um atendimento médico após ter tido uma convulsão por estresse.
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Ele era o camisa 9 do Brasil, já consagrado. Zagallo não teve dúvidas, ou se teve, passou por cima delas. O Brasil perdeu o jogo. Ronaldo jogou mal, como todo o restante da seleção.
Neste sábado, o técnico Arthur Elias tem dúvida parecida: escalar ou não Marta como titular para a disputa do ouro na Olimpíada de Paris. O jogo é contra os Estados Unidos. Marta ficou fora, por suspensão, nas boas vitórias diante de França e Espanha na fase de mata-mata. Quando esteve em campo, o Brasil ganhou da Nigéria e perdeu para Japão e Espanha na etapa de grupos.
Marta cumpriu duas partidas de penalização. Como, surpreendentemente, o Brasil chegou à final, a jogadora de 38 anos tem a chance de se despedir da seleção com o inédito ouro olímpico. Ela foi prata nos Jogos de Atenas (2004) e Pequim (2008). Esteve ainda nas edições de Londres (2012), Rio (2016) e Tóquio (2020), além de Paris.
A questão é simples: sem Marta, o Brasil melhorou. Mas o que fazer com ela agora? Marta era titular. Se ela não tivesse sido suspensa por expulsão, certamente ficaria entre as 11 de Arthur Elias, que sempre pregou sua importância ao time. Ocorre que o Brasil teve melhores resultados com Gabi Portilho e Priscila.
O que fazer com Marta?
1 – Mantê-la no time como titular
2 – Deixá-la no banco
3 – Usá-la no segundo tempo
4 – Escalá-la e, se preciso for, substitui-la
5 – Deixá-la em campo para prorrogação e pênaltis
6 – Não usá-la
Arthur Elias é um ótimo treinador, mas ele teve pouco tempo para ter o elenco nas mãos no que diz respeito a conhecer todas as características das jogadoras. Ele viveu isso no Corinthians. Mas ainda pode ser considerado novo na CBF. As meninas confiam nele. Seu jeito de trabalhar é respeitoso.
Ele disse que vai conversar com sua comissão para saber as condições físicas de cada uma das meninas. Duvido que alguém peça para não jogar.
Eu colocaria Marta desde o começo. Marta está preparada. Ficou duas partidas fora e ela está descansada. Marta segura a marcação e tem o respeito das americanas. Ela pode decidir em bola parada e lançamentos. Marta não tem mais o arranque e explosão do passado, mas como abrir mão de tudo o que ela significa dentro de campo?
A Argentina se valeu de Messi para ser campeã do mundo em 2022, no Catar. Messi e Marta se equivalem. Esportivamente, Marta não tem nenhuma dificuldade e joga muito mais do que suas colegas. O fato de o time ter vencido duas partidas sem ela também diz respeito ao crescimento natural do Brasil em competições de tiro curto e as apresentações ruins das rivais.
Eu não tiraria a Marta nem na prorrogação, se tivesse, porque ela seria importante depois, persistindo o empate, nas cobranças de pênaltis, se também tivesse cobranças de pênaltis.
Por fim, deve estar passando pela cabeça de Arthur Elias fatores emocionais e de gratidão a Marta, mesmo sendo uma final olímpica. O futebol feminino deve a ela. Marta está em sua sexta Olimpíada, com duas pratas. Não é pouco. Mas Marta jamais aceitaria ser escalada por esse motivo. Arthur Elias pode repetir Zagallo.