O Palmeiras declarou guerra à WTorre pelo uso do Allianz Parque. O mais novo soldado desse conflito que dura anos é o técnico Abel Ferreira. Com ele, há uma legião de palmeirenses que também entende a necessidade de o time jogar em seu estádio para ser mais forte e competitivo. Não há garantia alguma de o Palmeiras ganhar campeonatos por causa do Allianz, mas Abel disse que a arena (e sua torcida) representa 30% das vitórias do Palmeiras na temporada. E pediu, como nunca antes nos mais de três anos que está no comando do time, para não ser cobrado por títulos jogando em Barueri. Abel abre nova trincheira na batalha com a WTorre pelo estádio e seu uso.

O treinador compra a briga do clube com a construtora sob o olhar esportivo, da qualidade e do rendimento dos seus jogadores em casa. E a casa do Palmeiras é o Allianz Parque. Abel não abre mão da arena. O time perdeu para o Athletico-PR no domingo jogando em Barueri, o estádio arrendado pela presidente Leila Pereira com a maior das boas intenções e para os seus negócios. Abel disse não ter nada contra Barueri nem contra qualquer outro estádio onde o Palmeiras possa vir a jogar. O fato para ele e seus atletas é não mandar partidas no Allianz. O treinador defende que todo time tem de ter seu estádio para usar. O Palmeiras tem o seu, mas faz jogos fora por motivos já conhecidos por todos os torcedores, diretoria e adversários.

Leila Pereira, presidente do Palmeiras, trabalha nos bastidores para encontrar soluções para o problema com a WTorre e seu estádio / Agência Palmeiras

Quando o Palmeiras, do presidente Luiz Gonzaga Belluzzo, assinou contrato com a WTorre para a demolição do Palestra Itália e a construção no mesmo lugar de um novo estádio, uma arena moderna e de multiúso, pouco se falou da parte esportiva, das partidas que o time perderia tendo de dar lugar para as outras atividades do interesse da construtora, como  organizar e agendar uma série de eventos de todas as naturezas, mas focado nos shows musicais de grande porte. Tudo parecia bonito na época. Até mesmo o uso da arena pela WTorre por 30 anos, de 2014 até 2044, como reza o contrato.

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Ocorre que o Palmeiras se tornou mais competitivo em sua casa e fez da arena na Pompeia seu grande alçapão, com gramado artificial, boa localização para o torcedor e uma comunhão da torcida com o time. O Allianz Parque se tornou o ponto de união dessas partes. Há ainda uma pendência de R$ 160 milhões que a construtora deve ao Palmeiras devido a repasses de eventos não feitos nos últimos dez anos. Parte desse valor é questionado pela WTorre. O caso foi parar na Justiça e azedou o relacionamento das partes sob o comando de Leila.

Agora, há uma guerra declarada toda vez que o time tem de jogar fora do seu estádio. Não é uma situação nova, mas ela se agravou nesta temporada, com mais declarações duras nesse sentido. Nada no Palmeiras acontece por acaso. Tudo é planejado, organizado e executado, mesmo os posicionamentos do futebol sobre os mais diversos assuntos. “Não me cobrem títulos jogando fora do Allianz Parque”, foi a declaração bombástica de Abel. Isso muda o rumo das coisas.

Por ora, não há saída fácil. O Palmeiras trabalha nos bastidores para mudar esse cenário. Já tentou comprar de volta o estádio, avaliado em R$ 425 milhões, na frieza dos números e não no valor real dos negócios que pode gerar. A WTorre não quer vender. Essa compra do Palmeiras nada mais seria do que “rasgar”o contrato existente, reembolsar a WTorre e ficar com a administração do Allianz, como era com o Palestra Itália.

Leila Pereira, presidente do Palmeiras, arrendou o estádio de Barueri por 35 anos para uso do time e para novos negócios / Arena Barueri

A LISTA DOS SHOWS MARCADOS NO ALLIANZ PARQUE

Nesta temporada, Abel terá de levar seu time para “passear” em outras ocasiões. Veja a lista de shows que o Allianz vai receber em 2024:

11 de maio – Louis Tomlinson

25 e 26 de maio – Andrea Bocelli

8 de junho – Ludmilla

15 de junho – Jota Quest

13 de julho – Chic Show

9 de agosto – Forfun

10 de agosto – Ney Matogrosso

24, 30 e 31 de agosto – Natiruts

29  de setembro – Eric Clapton

19 e 20 de outubro – Knotfest

30 de novembro – Bring me the Horizon

6 e 7 de dezembro – Iron Maiden

14, 15 e 18 de dezembro – Caetano & Bethânia

21 de dezembro – Ivete Sangalo

QUAIS AS SAÍDAS IMEDIATAS PARA O PALMEIRAS

Não há como remarcar os shows do Allianz a não ser a pedido do músico ou quando há um evento diferente, como foi a pandemia da covid-19. Mesmo assim, há multas altas entre as partes. Os eventos fazem parte dos negócios da WTorre e isso não vai parar. A construtora tem negociado o mesmo modelo de gestão com o Santos. Ela vai demolir a Vila Belmiro e erguer uma arena para 30 mil pessoas no lugar. Vai ficar com o uso do estádio em Santos por tempo determinado para realizar shows e eventos, nos mesmos moldes da combinação feita com o Palmeiras.

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Leila tem feito o que pode para ajudar Abel e manter o elenco em sua casa. Desmontar as estruturas do palco em tempo recorde para liberar o estádio já faz parte das iniciativas. Quando dá, isso é feito. Mas isso traz custos. Bem ou mal, alguém perde dinheiro. Teve ainda o problema do estado do gramado, que também tirou o time da arena. Isso foi um equívoco da gestão do Allianz. O Palmeiras foi o maior prejudicado. O caso agravou a relação das partes. Não há muito mais o que fazer por parte do Palmeiras nesse sentido. O Pacaembu seria uma possibilidade diferente de Barueri. Mesmo assim, não seria uma solução adequada para Abel.

Parceria do Palmeiras com a WTorre nunca foi das melhores depois da entrega na nova arena ao clube / Allianz Parque

Uma saída seria pedir ajuda para a CBF e remanejar os jogos do Palmeiras do fim de semana para segunda ou terça-feira e empurrar as outras partidas para quinta ou sexta-feira, isso quando não tiver jogos da Libertadores e Copa do Brasil. Mesmo para a Copa do Brasil daria para ajustar. Desse modo, o Palmeiras abriria mão de jogar nos fins de semana quando seu estádio estiver ocupado. O calendário do Palmeiras poderia ser reajustado em função dos shows marcados no Allianz, mas isso teria de valer para todos os outros clubes que sofrem com o mesmo problema. Essa decisão poderia tirar o torcedor da arena. E atrapalhar os ganhos com o “Dia do Jogo”.

Por fim, reduzir a quantidade de partidas no futebol brasileiro seria um caminho mais inteligente e adequado, de menos custos e mais fácil para ser implementado. O Brasileirão poderia ter 18 clubes e não 20. A Copa do Brasil poderia ser menos inchada. Os Estaduais podem perder rodadas. A solução seria espremer daqui e dali para dar mais prazo de descanso e de mobilidade para a CBF mexer na tabela. Mas nada tem a ver com o problema do Palmeiras com seu estádio, mas o clube poderia pegar carona nele.