O Palmeiras já se despediu de Endrick e agora também não terá mais o atacante Luís Guilherme, negociado com o West Ham por R$ 170 milhões, entre valores fixos e valores por meta dentro de campo. O clube da presidente Leila Pereira ainda ficou com 20% dos direitos de contrato do garoto formado na base em caso de nova venda entre times da Europa. Luís Guilherme fez exames médicos em Londres e se encantou pela cidade. O West Ham acabou a temporada na nona posição. Portanto, o jogador brasileiro não vai para uma equipe de pé de tabela.

O próximo garoto palmeirense na mira dos grandes da Europa é Estêvão, que ainda não tem 18 anos. O Palmeiras negocia com o Chelsea, também da Premier League, a liga com mais dinheiro do continente e a mais legal de se ver. O negócio deve ser feito nos moldes da venda de Endrick ao Real Madrid. Fecha a transação agora e entrega depois. O valor pode chegar a R$ 350 milhões. Então, numa conta por cima, a base do Palmeiras fatura em três revelações R$ 930 milhões. O clube investe cerca de R$ 30 milhões por temporada na Academia II, onde a molecada treina e se forma.

Jogadores do Palmeiras posam para fotos após treino na Academia / Agência Palmeiras

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Do ponto de vista financeiro, o Palmeiras é modelo para o futebol brasileiro. Forma e vende jogadores a preços considerados altos para os padrões nacionais e enche as burras. Já escrevi aqui em outras colunas que todo esse dinheiro arrecadado precisa ter uma finalidade esportiva e dentro do clube. Lucrar para reinvestir, construir, crescer.

Mas por que os garotos não ficam mais nos times do Brasil? É uma boa pergunta quando se vê esses meninos indo embora cada vez mais cedo. Não há uma resposta apenas. Penso num conjunto de situações que podem acelerar essa debandada, enfraquecendo os torneios locais.

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A primeira razão é para ganhar mais dinheiro. Os clubes europeus pagam em euro. Basta colocar cinco ou seis vezes mais o que o jogador recebe em real no país. Então, esses meninos, seus familiares e agentes vão atrás do dinheiro. Estamos falando de muito dinheiro. Mais de R$ 1 bilhão por mês, por exemplo, com regalias, carros, casas e prêmios. É bem verdade que o imposto come boa parte dessas receitas, mas esses garotos, bem orientados, já negociam valores líquidos, deixando para os clubes da Europa a conta do governo local.

A segunda expectativa dos atletas é atuar em ligas mais interessantes e competitivas. Em primeiro lugar está a Premier League, da Inglaterra. A LaLiga da Espanha vem em segundo muito por causa de seus dois principais clubes, o Real Madrid e o Barcelona. Colocaria alguns clubes mais nessa lista, como o competitivo Atlético de Madrid. Depois tem a alemã, a italiana…

O Palmeiras se prepara, sim, para vender jogadores. Todo clube de futebol precisa de receita para ser saudável financeiramente. As grandes receitas são direitos de transmissão, patrocinadores, sócios torcedores e também venda de atletas. LEILA PEREIRA

O futebol europeu ainda provoca uma fantasia na cabeça desses jogadores, aquele sentimento de vencer em uma competição mais bem organizada em todos os sentidos, ao lado de jogadores renomados do mundo todo. Então, todos querem jogar na Europa. Mas nem todos dão certo. Gabigol bateu e voltou sem sucesso depois de passagem pela Inter de Milão e Benfica. Se refez no Flamengo e agora vive fase ruim. Neymar arrebentou no Barcelona, mas não teve a mesma sorte no PSG. Agora está na Arábia Saudita.

Brasil já tem salários na casa do milhão de reais por mês

Já é possível ganhar na casa do milhão de reais por mês no Brasil. Há um grupo de jogadores de alguns clubes da primeira divisão que recebe isso. Flamengo, Palmeiras, Corinthians e alguns outros subiram o sarrafo dos salários para segurar por mais tempo seus principais jogadores. Tanto é assim que os atletas sul-americanos passam primeiro no futebol brasileiro para depois tentar um clube na Europa. Além de maior visibilidade no Brasil, eles ganham mais dinheiro do que em seus respectivos países.

Jogadores do Palmeiras no vestiário do clube: Luís Guilherme, em pé, vai para o West Ham / Agência Palmeiras

Há ainda a falta de paciência do torcedor com os resultados de seus times e com a perseguição desse ou daquele jogador de quem se esperava mais. O torcedor brasileiro já colocou muitos atletas para correr do clube. Isso acontece há anos. Então, o jogador tem a compreensão de que na Europa ou fora do Brasil as cobranças serão menores porque ele vai dividir o fardo com outros como ele, contratados para arrumar a equipe e dar resultados. Isso leva o atleta a pensar cada vez mais cedo em se mandar.

Por fim, gostaria de colocar somente mais uma possibilidade: a desorganização e falta de comando dos clubes e do futebol nacional. Peguem o exemplo do Cruzeiro de quatro anos atrás e o do Corinthians nessa transição de comando. É muita bagunça administrativa que respinga dentro do campo. Tem ainda o Vasco na mesma confusão com sua SAF. Ninguém trabalha tranquilo. Mas o futebol se renova a cada temporada, assim como as esperanças.

Nem a liga os clubes conseguiram colocar de pé

O futebol brasileiro não dá tempo para seus gestores, presidentes e jogadores. Tudo tem de ser para ontem. É ganhar ou ser demitido. É dar certo ou ser vendido. A torcida não tem paciência, coloca os pés pelas mãos, prejudica os clubes com brigas e invasões de estádios. Tudo isso é observado pelos jogadores e seus agentes. Isso afasta e afugenta os garotos e os atletas com mercado fora do país. Nem a organização de uma liga com o aval da CBF os clubes conseguiram colocar de pé. Era para ser em 2025. Será que será? Até agora, nada.

E olha que não é por falta de dinheiro no futebol brasileiro. Os clubes sobem suas receitas anualmente com patrocinadores maiores e mais dinheiro das bilheterias e novas receitas também. Os estádios começam a ficar pequenos. Pelo menos é assim com os grandes do Brasileirão. Se o calendário fosse um pouco mais racional, os jogadores atuariam menos e teríamos partidas melhores. Os clubes também precisam vender seus atletas da base para pagar suas contas. E assim o futebol jogado no Brasil vai ficando pobre e enfraquecido. É preciso mudar isso, seduzir nossos jogadores de destaque por mais tempo no Brasil, pagando mais, mas também dando melhores condições. Essa tarefa é de todos nós.