Perdi um amigo grande nesta quinta-feira, 16 de maio de 2024. Eu o chamava de Italiano. Italiano isso… Italiano aquilo… Ele gostava. Tínhamos muitas coisas em comum. Até o nome de nossas companheiras de vida. Ele tinha a Leila. Eu tenho a Leia. Antero Greco foi um dos jornalistas mais importantes na minha carreira pelas suas orientações, amizades, dicas, companheirismo, reconhecimento, parceria, gentilezas… Ele tinha um bom coração, um coração gigante, na verdade. Estava sempre pronto para ajudar. Nunca se esqueceu dos amigos, os novos e os antigos. Quando podia, trazia todos para perto dele.

O Italiano nunca dizia “não”. Bom de conversa, ele te seduzia, fazia você até mudar de ideia, mas ele nunca dizia “não”. Antero é uma dessas pessoas que fazem falta nas redações pelo seu jeito de comandar, seu envolvimento com as pessoas, sua alegria, seu conhecimento, suas recusas para os chefões quando sabia que decisões poderiam prejudicar seu time, desde o repórter recém-contratado até o seu primeiro subeditor. O Italiano pensava em todos antes de pensar nele mesmo.

Antero, agachado no centro, era do nosso time do Diário Popular / Arquivo

Nunca disse isso para ele com todas as letras, e me arrependo, mas me espelhei muito em sua carreira para construir a minha. Queria ser como o Antero. O Italiano unia todos nós. Trabalhei com ele no Diário Popular e no Estadão, onde estive por 28 anos somando o tempo nas duas empresas. Ele também abriu as portas para mim em participações pontuais na ESPN, onde ele e o amigão Paulo Soares tabelavam como Pelé e Coutinho.

Falar do profissional Antero é chover no molhado. Todos sabiam e conheciam o seu talento em todas as plataformas. O Italiano escrevia bem e rápido. Suas colunas eram na veia. Gostava de escrever e nunca se recusou a me atender quando pedia colunas especiais sobre algum assunto mais quente, às vezes para o mesmo dia. Ele não dizia “não” para o trabalho. Pedia um tempinho e mandava.

Mas era como amigo que o Italiano se destacava. Não sei como seu coração cabia no peito, de tão grande que era. Lembro que foi o Antero que me ligou para me avisar que eu faria a minha primeira viagem internacional: Fórmula Indy de 1997 em Indianápolis. Antero tinha na redação uma “caixinha” com dinheiro que dava para os repórteres quando eles precisavam. Não era muito, mas ele sempre tinha um trocado para não deixar o repórter sem nada. A burocracia dos departamentos financeiros era grande. Levava tempo para conseguir a verba. Havia histórias que precisavam ser feitas imediatamente. E se não fosse a “caixinha” do Antero, muitas dessas coberturas não teriam acontecido.

Turma de repórteres acompanhando o Brasil no Estádio Olímpico de Seul na Copa do Mundo de 2002 / Arquivo

Ele também tinha verbas para frilas e sempre apostava nos jornalistas que mais precisavam trabalhar. Havia muitos em condições difíceis. Eram esses que Antero ajudava. Ele confiava em todos e trazia todos para perto dele. Seu medo de andar de elevador era notório. Pior que ele nos convencia a subir lances de escada com ele. No Estadão, eram seis andares, onde fica a redação. Encontrar o Antero na entrada, portanto, era fria. Assim como na sáida. Mas como deixá-lo subir ou descer sozinho.

O Italiano foi no meu casamento em 1996. Jamais vou me esquecer disso. Sou casado até hoje. Eu e a Leia éramos novos. Chamamos poucas pessoas. Antero estava lá. Acho até que ele foi depois de um desses plantões do esporte. Ele estava no Diário. Era chefe de reportagem. Eu era repórter em começo de carreira. Meu pai conversou muito com o Italiano naquele dia.

Ligava para ele vez ou outra recentemente para saber das coisas e de sua saúde. Ele também sempre quis saber do Estadão. Tinha um carinho especial pelo jornal. Ele esteve no lançamento do livro do amigo Celso Unzelte (82, uma Copa para sempre, da editora Letras do Brasil), da ESPN, e também na noite de autógrafos de Adriana Del Ré (Conversas sobre MPB) na Livraria da Vila, no ano passado. Foi a última vez que nos vimos. Nas ruas, nos nossos cafés, ele conversava com todo mundo, com seu jeito simples, alegre e “italiano”.

Nossa amizade e o carinho que um tinha pelo outro estavam muito acima das conversas diárias. Bastava a gente se encontrar para ter boas lembranças e histórias. Quando precisava de ajuda profissional, era ele que eu procurava para um café. Estava sempre pronto. Ele vivia recentemente a alegria de ver o neto, Pedrinho, crescer. Chegou a me contar de um braço quebrado do menino, se não estou enganado.

Antero cumpriu como poucos sua missão na vida e no jornalismo. Se tivesse de destacar uma de suas características, ficaria com a “boa conversa” e, com ela, a disposição de fazer amigos. Vou sentir sua falta e falta das nossas conversas, Italiano.