O Corinthians apresentou o segundo maior balanço do futebol brasileiro de 2023: R$ 1 bilhão. Só fica atrás do Flamengo, R$ 1,3 bilhão, mesmo assim com uma diferença “pequena” para o potencial do time paulista. De dezembro para cá, muita coisa mudou no Parque São Jorge, inclusive o presidente.

O Corinthians pratica preços de ingressos mais populares em seus jogos em Itaquera. Isso explica em parte sua “baixa” renda em algumas partidas de casa cheia. O clube tem força no futebol feminino, que alavanca perspectivas de mais dinheiro para os próximos anos. A receita de 2023 é a maior da história do clube. Mesmo assim, insuficiente.

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Foi nesse montante, de R$ 1 bi, que o novo presidente Augusto Melo meteu a mão ao assumir o comando do Corinthians após as eleições.

Para um clube que fez tudo errado dentro de campo na temporada passada, flertou com a queda no Brasileirão e não ganhou nada, é de se tirar o chapéu. A marca Corinthians é forte. Anda sozinha. A torcida é gigantesca e parece ter entendido seu papel nessa engenharia e movimentação financeiras.

Outro dia, um amigo, que me reservo de não dizer o nome, corintiano de camarote no estádio em Itaquera, me questionou como os torcedores poderiam ajudar o clube. Financeiramente, claro. Ele tinha a ideia da doação espontânea.

Se cada torcedor doar R$ 1 ao clube, o Corinthians pode receber milhões de reais por mês. Não sei se é tão simples assim ou se isso é permitido pelas leis brasileiras, uma vez que os clubes (não as SAFs) são instituições beneficiadas por leis tributárias sem fins lucrativos. O que ficou daquela nossa conversa foi a intenção de a torcida ajudar o Corinthians.

Corinthians apresenta balanço de 2023 com receita de R$ 1 bilhão / Agência Corinthians

É preciso deixar claro também que o presidente que fez a receita de 2023 foi Duílio Monteiro Alves. Ou seja: Augusto Melo terá de, no mínimo, ter um balanço igual em seu primeiro ano de mandato para mostrar a que veio. Não há números nesse sentido ainda. E já estamos em outubro.

Para se ter uma comparação, em 2022, a arrecadação do clube paulista foi de R$ 779 milhões. E em 2021, de R$ 502,5 milhões.

É o terceiro ano do Corinthians no azul operacionalmente. O clube consegue pagar as contas do ano vigente. Seria ótimo se não tivesse dívidas. Mas tem e precisa pagar suas dívidas. São pendências assumidas de outras gestões que se avolumaram e vêm comendo o clube pelas pernas.

Só de juros de seu estádio, o clube pagou R$ 100 milhões no ano passado. Isso daria para comprar pelo menos três jogadores de nível de seleção brasileira.

O estádio registra uma dívida no balanço de 2023 de R$ 703 milhões. É preciso quitá-la o quanto antes. Um bom gestor teria reservado parte da arrecadação mensal do clube para pagar a arena, inaugurada em 2014, com a Copa do Mundo. A torcida quer pagar agora.

A impressão que se tem é que os dirigentes esperaram por um “perdão” por parte dos credores, de modo a não precisar pagar nada ou pagar a perder de vista, em prestações ridículas e sem a cobrança de juros pelos próximos 30 anos. Isso não existe no mundo dos negócios. Nem o governo aceitou.

Para sair desse buraco financeiro, o Corinthians precisa dar sinais ao mercado de sua vontade de querer quitar parte do que deve. No fim desta temporada, precisa ter ao menos 20% da Neo Química Arena paga. Assim, responderia bem em sua nova gestão, ganharia confiança e baixaria os gastos com juros. Nada disso vai acontecer este ano.

O presidente Augusto Melo gasta o que não tem, não paga o que deveria pagar, tem problemas na Justiça e já teve contas bloqueadas. E agora se vê novamente enrolado com o parceiro Bet.

DÍVIDA DO  CORINTHIANS

Há ainda a dívida do clube, de R$ 885,8 milhões. Já foi maior: R$ 910 milhões. É muito dinheiro. Aqui, entra tudo o que o Corinthians deve, desde ações trabalhistas a contratações de serviços e impostos. Mesmo assim, o presidente investiu R$ 250 milhões em reforços somente nesta temporada. Tudo dá R$ 2 bi.

Mas como o corintiano deve olhar para esses números? O clube ganha por ano R$ 1 bilhão. Com esse dinheiro, consegue pagar todas as despesas mensais, de janeiro a dezembro. Ele empata o dinheiro que entra com o dinheiro que sai, de modo a não ter mais nada para reduzir as dívidas já existentes e que se arrastam.

Só no futebol, o gasto anual é de R$ 400 milhões com salários, despesas diversas e direitos de imagem dos atletas. Augusto Melo terá de arrumar caminhos para sustentar o Corinthians e pagar o que ficou para trás de outros presidentes. Para isso ele foi eleito. Há muita descrença em sua capacidade de gerir.

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No balanço que foi apresentado aos conselheiros, a dívida total é de R$ 1,9 bilhão. A diferença referia-se a contas imediatas que precisavam ser pagas o quanto antes para não levar o nome do clube aos tribunais e aumentar suas despesas com juros. Dirigentes anteriores negam tal valor.

De qualquer maneira, nove meses já se passaram desde que Augusto Melo assumiu o comando do Corinthians. Até agora, a única movimentação feita foi trocar jogadores e comissão técnica. Nenhuma medida mais austera foi tomada, tampouco planos razoáveis foram apresentados para pagar duas dívidas.

Tudo parece andar para trás. Dirigentes foram embora, outros chegaram, patrocinadores tiveram o contrato rompido, há casos de polícia por desvio de dinheiro e um time ameaçado de cair.

Não há prioridades. Melo precisa saber que ele tem de tomar medidas duras para o clube parar de sangrar. Isso se ele permanecer. Há um pedido de impeachment contra ele. No começo do ano, me disseram que isso aconteceria em seis meses.

Atualizada em outubro

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