Há uma discussão no futebol brasileiro muito mal conduzida na mídia e dirigentes esportivos que diz respeito às dívidas dos clubes. Na verdade, quase ninguém fala disso e essa informação aparece uma vez por ano no noticiário, quando as associações apresentam seus balanços.
Todos os clubes brasileiros devem no mercado ou para o governo. São credores dos mais variados tipos, como jogadores, empresários e fornecedores. Há ações trabalhistas e despesas com colaboradores, além dos impostos não pagos.
Corinthians apresentou dívida alta
Décadas atrás, os clubes tinham vergonha de apresentar essas cifras negativas, como uma deficiência de suas gestões. Atualmente, esse pudor não existe mais. O Corinthians tem dívida de quase R$ 2,4 bilhões e passou o ano contratando atletas. Memphis Depay ganha R$ 3 milhões por mês.
Os clubes deveriam ser obrigados por lei a apresentar uma proposta de como pretende pagar tal dívida e por quanto tempo. Quando um presidente é eleito, ele tem a obrigação de bancar e honrar os compromissos deixandos para trás. Mas isso não acontece. Alguns descobriram que uma gestão em dia ajuda demais na formação do elenco.

A desculpa dos dirigentes é sobre a capacidade de o clubes fazerem receitas. O Corinthians deve R$ 2,4 bilhões, mas tem condições de gerar receita de R$ 1 bilhão por ano. Palmeiras e Flamengo também têm boas arrecadações. Os demais clubes da Série A, por exemplo, têm, em média, receitas anuais de R$ 600 milhões.
O problema é que esses mesmos clubes não têm interesse em zerar duas dívidas, de modo a pagar parte dela ao longo de seus mandatos e, assim, deixar para o próximo presidente uma situação mais confortável financeiramente.
Gestões péssimas
O futebol só é devedor porque ele é mal gerido. Não há responsabilidade fiscal nem financeira. Mesmo assim, as eleições nos clubes são sempre acirradas, com seus candidatos querendo assumir o posto a qualquer custo. Quem está no comando quer sempre continuar.

Um clube sem dívidas tem mais condições e garantias de buscar recursos no mercado, de negociar com seus patrocinadores, de contratar jogadores e de melhorar sua infraestrutura, de modo a encontrar com mais facilidade os caminhos do sucesso esportivo.
Há anos os times brasileiros passam o pires para sobreviver. Assumem o que não podem pagar e empurram suas pendengas para debaixo do tapete.
Até entendo a dificuldade dos times das divisões inferiores ou aqueles que não têm calendário para a temporada toda, mas isso não acontece, por exemplo, com os 20 clubes do Brasileirão e com os 20 da Série B.
Balanços negativos
O problema é que o dinheiro some e as despesas são gigantescas. Apresentar balanço negativo é a chaga dos clubes brasileiros. O Relatório Convocados, elaborado pela Consultoria Convocados com a Galápagos Capital e a Outfield, aponta o tamanho do endividamento dos clubes do Brasil em 2023. Veja a lista:
Corinthians: R$ 1,894 bilhão
Botafogo: R$ 1,301 bilhão
Atlético-MG: R$ 998 milhões
São Paulo: R$ 856 milhões
Cruzeiro: R$ 811 milhões
Fluminense: R$ 736 milhões
RB Bragantino: R$ 696 milhões
Vasco: R$ 696 milhões
Internacional: R$ 650 milhões
Santos: R$ 548 milhões
Athletico-PR: R$ 492 milhões
Palmeiras: R$ 466 milhões
Grêmio: R$ 441 milhões
Flamengo: R$ 391 milhões
Bahia: R$ 366 milhões
É parte do legado dos presidentes a redução das dívidas geradas por gestões passadas. O mandatário eleito, ao assumir o cargo por dois ou três anos, deveria apresentar em sua primeira entrevista o tamanho da dívida do clube e mostrar sua estratégia para pagá-la ao longo de sua administração.
Em sua última entrevista, ele deveria fazer esse balanço e mostrar o seu legado. O que acontece, geralmente, é o cartola ser tirado do cargo pela porta dos fundos e deixar o problema para quem vai entrar, sem qualquer responsabilidade.
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A modernidade do futebol, com bolas com chips e o uso do VAR, imagens em 4D dos impedimentos e árbitros dando recados no meio do campo, ainda não chegou aos dirigentes esportivos, que continuam com seus ranços do passado e do amadorismo enraizados em suas peles e correndo por suas veias.
As entidades esportivas deveriam trazer essa discussão para mais perto do torcedor e dos dirigentes, de modo a colocar algumas regras nesse sentido nos regulamentos das competições. No Brasil, não há fair play financeiro e ninguém cobra isso.