A resposta me parece bastante simples depois de dois ou mais anos de uso do árbitro de imagem: porque os juízes são ruins, os assistentes deixam a desejar e os gestores são incompetentes e cheios de amarras. Nossos árbitros eram melhores e os bandeirinhas não tinham medo de errar. Trabalham como equipe e um tentava ajudar o outro naqueles 90 minutos da partida. Agora, os árbitros são meros replicadores das decisões das imagens, ou seja, da turma que comandam as tevês e os diálogos, por vezes absurdos. E todos parecem não se entender. O VAR funciona onde os árbitros são bons, onde eles conhecem as regras e têm personalidade. Esse é o ponto básico do uso do VAR no futebol brasileiro. Mas não só.
O VAR tem dificuldades porque o sistema é ruim, as imagens não são claras e ainda há pontos cegos no campo. Isso no Brasil. É um problema quando a tecnologia não funciona e deixa na mão todos que dependem dela. Outro dia fui usar os Correios e recebi a informação de que o sistema havia caído. Corri em outra agência e ouvi a mesma explicação. Fiquei na mão. A arbitragem de imagem se propôs a resolver as mazelas do futebol e não consegue. Mais acerta do que erra, é verdade. Mas sempre foi assim com a arbitragem de campo. Continua errando em momentos capitais. Então, não mudou nada.
Passa agora a indignação de cometer injustiças se valendo da parafernália ligada. Pior. Dá margem ao torcedor de pensar que tem sacanagem. Sempre houve a desconfiança de que alguns resultados foram armados. Nos dias atuais, um elemento entrou em cena, piorando essa desconfiança e obrigando o futebol a andar da linha, ou ter mais transparência. Refiro-me às casas de apostas, essas que premiam em dinheiro seus apostadores. Gols perdidos, pênaltis marcados, erros grosseiros, tudo isso terá de ser revisto para não gerar mais desconfiança. Por ora, só se pensa em “favorecer” esse time em detrimento do outro. Particularmente, não penso que essas armações aconteçam no futebol de milhões de reais dos dias atuais, mas o torcedor pensa. E é preciso provar que ele está errado. Com esse VAR que praticamos, não é possível.
Jogadores e treinadores também contribuem com essa bagunça. Estão sempre pressionando a arbitragem de modo a enxergar não o futebol, mas as decisões para o seu time, mesmo um insignificante lateral no meio de campo. São chatos. Da mesma forma, os astros maiores do jogo, o atleta, entra em campo para ludibriar o árbitro e todas as imagens do VAR. São pobres nesse sentido. Simulam e inventam faltas e agressões. Se atiram no chão para parar a partida, ganhar míseros minutos no relógio e estragar o espetáculo, tirando do torcedor seu direito de ver uma boa apresentação. Ultimamente, os goleiros têm mais me irritado com esse artifício.
O VAR não pode ser pensado como uma entidade separada do futebol, como é por culpa das pessoas que comandam a arbitragem há anos no Brasil. Os árbitros nunca se envolveram com as outras partes do futebol, sempre com a desculpa de que precisam ter autonomia. Ora, nunca deixaram de ter essa autonomia dentro de campo. Os árbitros precisam de mais respeito, mas eles têm de fazer por merecer isso. Menos pela imposição da força do apito que levam para a boca e mais pelo diálogo comedido, justo e inteligente. O VAR também não dá certo porque ninguém respeita as pessoas que se fecham em suas cabines e ditam as regras que todos no estádio conhecem.
Uma indústria da arbitragem foi construída na última década sem necessidade. Falamos mais da nossa arbitragem do que das nossas categorias de base, que é muito mais importante, por exemplo. Os comentaristas de arbitragem viraram estrelas. São acionados a todo instante. Julgam. O VAR não tem volta no futebol, sabemos disso, mas ele nunca será mais importante do que as pessoas da arbitragem. Então, é preciso continuar achando boas safras de árbitros. A CBF tem de assumir a formação desses profissionais. É preciso regulamentar a profissão, promessa antiga no futebol.
Mas também é preciso educar o torcedor, voltar a ter regras mais claras, brigar por padrões bem definidos e selecionar melhor os profissionais escolhidos para a função. Há muitos árbitros ruins no futebol brasileiro. Não há mais espaço para eles. A peneira deve ter furinhos menores. Assim, só os bons passariam. No fim de julho, a CBF admitiu erros “inaceitáveis” do VAR na temporada. E prometeu reagir.