A seleção brasileira sub-20 sagrou-se campeã sul-americana na noite do domingo, dia 16, após uma combinação de resultados na rodada final do hexagonal do torneio. O Brasil derrotou o Chile por 3 a 0, enquanto a Argentina, que também lutava pelo caneco, perdeu a oportunidade de chegar lá ao ser derrotada pelo Paraguai por 3 a 2.
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Mais um motivo para o País do Futebol comemorar? Nem tanto. A despeito do saldo positivo, essa faixa de campeão vem carimbada por um dos maiores vexames do futebol de base do Brasil – aquela derrota de 6 a 0, fora o baile, para a Argentina na primeira rodada do torneio.
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A crítica brasileira é habitualmente acusada de potencializar as coisas ruins que acontecem no futebol em detrimento dos bons resultados. Certamente essa carapuça será usada agora para condenar todos aqueles que, mesmo diante do título, lembrem da dolorida goleada para os ‘hermanos”.
Mas, convenhamos, fechar os olhos para ela seria contribuir para uma sucessão de equívocos que se podem observar no trabalho da CBF com as seleções de base.
Tudo bem, os meninos foram guerreiros, superaram as adversidades ao longo do caminho, enfrentaram os argentinos numa segunda partida e seguraram um empate heróico por 1 a 1 e, ao final, voltam para casa com a taça.
É preciso colocar o dedo na ferida
Ok, eles têm seus méritos e não podem ser jogados na fogueira. Mas para o bem deles próprios, e das futuras gerações que hão de defender a seleção em outros torneios, é preciso colocar o dedo na ferida.
Aquela goleada, por si só, deveria servir de alerta, de advertência, de que há algo de errado no trabalho de base das seleções brasileiras. Naquele dia, mais do que a chuva de gols, os meninos do Brasil não demonstraram nem fibra para se indignar com o olé que estavam tomando.
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Pareciam anestesiados, conformados. Na beira do campo, o técnico Ramón Menezes assumia papel parecido, atônito, sem saber o que fazer. Poderíamos argumentar que aquele jogo foi atípico, sofremos uma pane mental, igual no fatídico 7 a 1 da seleção principal na Copa do Brasil, em Belo Horizonte, diante da Alemanha.
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Poderia ser só um dia fora da curva – mas não é bem assim. Há questões estruturais que não podem ser ignoradas quando se analisa um acontecimento dessa grandeza. Ninguém apanha de 6 a 0 do seu pior rival impunemente. Ninguém é humilhado dessa forma sem se impor a um exercício de reflexão.
CBF trata a base com desleixo
O que mais chama a atenção na realidade das seleções de base é que, aparentemente, elas são tratadas pela CBF com um certo desleixo. A escolha dos técnicos, por exemplo, quase sempre atende a critérios discutíveis, tendendo para uma política de apadrinhamento.
Ao longo do ano não se vê nenhum trabalho contínuo e regular voltado para o desenvolvimento dos jogadores, que só se reúnem para disputas de campeonatos em cima da hora. Pior: muitos clubes se recusam a ceder seus principais jogadores, que, nessa idade, já são estrelas de primeira linha do elenco profissional. A CBF aceita a recusa sem criar caso. O técnico que se vire.
Num plano ampliado do debate que se faz necessário nesse momento, já passou da hora de as seleções de base serem tratadas como parte integrante do processo de formação da seleção principal, aquela que a cada quatro anos disputa a Copa do Mundo.
A preparação de todas as equipes, em todos os níveis, deveria seguir um programa horizontal de treinos, filosofia e capacitação.
Base deveria trabalhar para o time principal
O treinador da seleção principal deveria coordenar todos os seus pares nas posições inferiores. O jeito de jogar da seleção principal deveria ser o mesmo para todas as outras categorias, para que quando chegasse no time principal um garoto já soubesse qual é o esquema tático, o plano de jogo e o jeito brasileiro de jogar diante de cada adversário.
Nós temos isso? Claro que não. Quem sabe os 6 a 0 da Argentina abram os olhos da cartolagem da CBF para uma reprogramação geral das seleções. Com certeza, olhar o futuro a partir dessa ótica é muito melhor do que a cegueira de celebrar o título sul-americano com aquela falsa segurança de quem se acha o País do Futebol.