O Corinthians tem até o dia 10 de junho para apresentar uma explicação convincente para o acerto de um pagamento de R$ 25,2 milhões para uma empresa que teria feito a intermediação da parceria do clube com a patrocinadora VaideBet e uma outra que aparece como “laranja” nas investigações. Quem paga as contas do clube é o presidente. Todo clube cujo sistema de governança é presidencialista, ou seja, de um presidente, funciona dessa maneira. Imagino que o presidente Augusto Melo não tenha de aprovar a compra de copinhos plásticos para que o associado do clube tome água nos bebedouros. Mas é ele quem assina a liberação para o pagamento parcelado de R$ 25,2 milhões de uma grande negociação. Parece não haver dúvidas sobre isso.
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O próprio Augusto Melo disse que a negociação não tinha intermediário quando tratou do assunto após sua eleição, que ele mesmo estava negociando com a empresa de site de apostas um acordo gigante. O presidente manteve sua convicção de acerto a ponto de romper com a patrocinadora anterior. Sabia que vinha para o clube muito mais dinheiro, R$ 370 milhões em três anos. Daí sua animação e sorriso largo no rosto. E foi isso que ele conseguiu nos primeiros meses de mandato.
Ocorre que parte desse dinheiro que deveria ficar no Corinthians está sendo usado para pagar quem não trabalhou na transação, um “gestor laranja” e empresas que não têm nada a ver com a tratativa milionária do clube. Isso é crime. Pode ser caracterizado como desvio de dinheiro de associação privada. Todo mundo sabe o que cheira essa manobra no futebol. Dirigentes do Corinthians pediram para sair ou se afastaram dos seus respectivos cargos depois desse episódio. São profissionais de outras áreas de atividade que temeram ter seus nomes arrolados em esquemas ilícitos dentro do futebol. Augusto Melo pode ficar sozinho nessa.
O presidente terá de provar sua inocência e devolver o dinheiro pago. No mínimo. Como estava pagando em prestações, a conta está longe de chegar a esses R$ 25,2 milhões “combinados”. O valor, ao fim dos três anos de acordo, diz respeito a um montante que poderia ser investido em contratações de jogadores, pagamento mensal da folha de pagamento do time e quitação de um pedacinho da dívida. É assim que se administra um clube que tem uma dívida acumulada de R$ 2 bilhões.
Há um responsável. Ele tem de aparecer
O caso é sério. Não é simples e terá de desmascarar alguém no Parque São Jorge. Há um responsável pelo acerto indevido em relação a essa comissão paga pelo clube a intermediários. É preciso saber quem está nas duas pontas da manobra, na ponta que paga e na ponta que recebe. Esse responsável pode ser a mesma pessoa. É disso que estamos falando.
Qualquer agência que te traz um patrocínio cobra 20%. No Corinthians é 10%. Eu disse que não pagava 5%, acabei pagando 7%. Tínhamos R$ 17 milhões na camisa, foi para R$ 120 milhões Por que eles não falam da comissão do ex-presidente com empresário de atleta? Por que não questionam isso?
AUGUSTO MELO
A VaideBet vê seu nome arrolado em uma suposta falcatrua dentro do Corinthians e faz a sua parte: pede explicações jurídicas, estipula prazos e se vale das cláusulas assinadas para romper ou não o contrato. Há uma banca de advogados analisando o caso. Não acredito, particularmente, no rompimento do acordo, mas a possibilidade existe e vai ser levada em consideração mesmo depois das explicações do presidente. A VaideBet é tão lesada nessa história quanto a própria instituição Corinthians.
Augusto Melo terá de ser ouvido e explicar essa manobra financeira. A primeira coisa que ela deve fazer é parar com os pagamentos até que tudo seja esclarecido. Como é uma comissão paga mensalmente, há tempo para isso. Pegou mal também o presidente ir para a Europa em meio a uma crise com seu principal patrocinador. Melo não deveria ter abandonado o barco para ver a final da Champions League entre Borussia Dortmund e Real Madrid em Londres. Demonstrou desapego ao problema e falta de respeito ao parceiro. Pode ser que eu esteja equivocado nessa impressão, mas esse foi o meu sentimento.
Augusto Melo deve assumir seu erro de gestão no pagamento de R$ 25, 2 milhões, pedir o dinheiro de volta, dar a mão à palmatória e ver se o caso seguirá na Justiça como tentativa de “desvio de dinheiro do Corinthians”. Terá ainda de se reunir com os diretores da VaideBet, ter um olho no olho, baixar a cabeça e pedir desculpas. E esperar pelas consequências, que pode ser o rompimento do contrato. Isso se a direção corintiana admitir o equívoco financeiro.
Caso contrário, terá de provar a participação das empresas e do “laranja” envolvido no processo, terá ainda de dizer quem autorizou o pagamento de R$ 25,2 milhões, por que ele admitiu que não havia intermediário no processo e depois apareceu uma comissão a ser paga pela assinatura do acordo, por que nada disso foi falado e negociado com a própria casa de apostas esportivas… Como se vê, há explicações a serem dadas e esclarecidas. As consequências neste caso serão as mesmas da primeira versão apontada acima. A VaideBet tem mecanismos legais no contrato para encerrar o acordo e pedir indenização de R$ 30 milhões. O caso não pode se arrastar mais do que já está se arrastando. Em breve, a torcida vai pegar pesado contra o dirigente.
[…] Conforme anunciado nesta coluna na quinta-feira, o Corinthians perdeu seu contrato de R$ 370 milhões com a VaideBet. A marca do site de apostas esportivas rompeu seu acordo de três anos e deixou o time sem ter uma única explicação sobre o pagamento indevido de R$ 25,2 milhões a intermediadores desconhecidos da transação. O que era para durar três temporadas, durou cinco meses. A comissão para terceiros no contrato com a VaideBet não estava prevista. O clube aibda pode pagar multa de R$ 30 milhões, conforme prevê o contrato em uma de suas cláusulas. Já havia pago R$ 44 milhões para romper com a marca anterior. […]
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